PORTO ALEGRE, RS (UOL/FOLHAPRESS) – Jorge Sampaoli segue os passos de Marcelo Bielsa, para o bem e para o mal. O atual treinador da seleção argentina nunca escondeu que se inspira no técnico que há pouco assumiu o Leeds, da Inglaterra, mas o novo elo entre os dois é a campanha ruim na Copa do Mundo.

O desempenho na Rússia disputa com aquilo que foi feito em 2002, na Coreia do Sul e Japão. A derrota para a Croácia, na quinta-feira (21), deixa a seleção argentina à beira da eliminação. Há 16 anos, o time de Bielsa caiu na fase de grupos após o terceiro jogo.

O vexame de 2002 e o fiasco atual, que ainda está no forno, possuem suas diferenças. A Argentina de Marcelo Bielsa liderou as eliminatórias e chegou à Ásia com um nível altíssimo. Porém a bola foi curta no grupo com Nigéria, Inglaterra e Suécia —contra as quais venceu, perdeu e empatou, respectivamente. Zanetti, Sorin, Verón, Batistuta, Ortega e companhia não conseguiram evitar a queda precoce.

A seleção de Jorge Sampaoli, ao contrário, nasceu na metade do ano passado, em meio a um turbilhão político na AFA (Associação de Futebol Argentino), e nunca empolgou. Se classificou na última rodada e graças a Lionel Messi.

Sampaoli e Bielsa compartilham vários conceitos sobre o futebol e os times do treinador mais novo claramente possuem elementos que remetem às formações usadas pelo mentor. No meio do caminho, contudo, o discípulo oscilou. Até nas excentricidades, o ex-comandante de Universidad de Chile e Sevilla se mostrou diferente nos últimos meses.

Responsável por transformar a seleção chilena em potência, Jorge Sampaoli nunca escondeu de amigos que tinha ambição de treinar a Argentina. Ao chegar lá, ele surpreendeu pessoas próximas com pequenas decisões do dia a dia. Até mesmo a postura pública com declarações sobre o time e preparação para jogos.

Bielsa, por outro lado, seguiu convicto de alguns dogmas. Continuou à frente da seleção depois de 2002 e conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas, dois anos mais tarde. Na sequência da carreira, foi trabalhar no Chile abrindo a era que seria completada por Sampaoli e, mais recentemente, Juan Antonio Pizzi.

O trabalho sem tempo e a fome grande de Sampaoli também encontraram uma base com suas limitações técnicas. Com seus traumas. Fora Messi, a seleção argentina tem problemas para montar um grupo com equilíbrio. A lista para o Mundial da Rússia também conta com opções bastante questionáveis —casos de Enzo Pérez, Marcos Acuña e Gabriel Mercado.

Nas duas partidas, as escolhas de Sampaoli também geraram críticas. A escalação de Caballero, o uso de Eduardo Salvio como lateral direito, aposta em Meza ou Acuña, além de Dybala como última opção no banco. Soma-se aí as decisões de não levar Icardi ou Calleri e montar um grupo com volantes limitados, sem jogadores de velocidade para os lados.

Em 2002, Bielsa também fez das suas, é verdade. Na última partida, contra a Suécia, barrou Verón e Simeone. Ainda assim, o trabalho dele era sustentado na base de cerca de 30 jogadores. Sampaoli, por sua vez, em 13 jogos convocou 53 nomes e nunca deu cara ao time.

A herança psicológica também não é boa. Vice na Copa de 2014, a Argentina também perdeu duas vezes a Copa América para o Chile e em uma delas para o próprio Jorge Sampaoli. Após insucesso recente, Messi chegou a decidir pela aposentadoria da seleção. Voltou atrás dias depois em um sinal da instabilidade geral que contamina até o maior expoente técnico da geração. O peso do jejum de títulos que vem desde 1993 também joga contra.

Jorge Sampaoli, no lugar que sempre quis ocupar, não foi capaz de mudar nada. Ao contrário. Agora está prestes a igualar seu mentor em campanha e pode até superar aquele time de 2002 em termos de mau desempenho. Até agora foram um empate em 1 a 1 com a Islândia e uma derrota por 3 a 0 para a Croácia —resta o duelo com a Nigéria, na próxima terça-feira (26).