SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Uma legião de pessoas com camisetas brancas e a expressão “#JogoLimpo” acompanhou a largada da Corrida Internacional de São Silvestre e, menos de uma hora depois, estava a postos para abordar a elite da prova na chegada, ainda na Avenida Paulista, na manhã desta segunda-feira (31). Eram fiscais da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), presentes em número recorde à mais tradicional prova de corrida de rua do país.

Esta foi a quarta vez que a entidade responsável pelo combate ao doping no país, criada há cinco anos, esteve presente na prova. Depois de realizar 26 exames em 2015, a agência reduziu o número de testes nos anos seguintes e, de acordo com fiscais, mandou apenas cerca de 10 deles à prova de 2017 –cada fiscal acompanha um atleta.

Dois funcionários que comandavam a operação nesta segunda-feira informaram à reportagem que para a prova de 2018 haviam sido enviados 40 fiscais, parte deles responsável por colher exames de sangue. Trata-se também de uma evolução na comparação com o ano anterior, quando só foram feitos exames de urina.

Por serem mais caros, os exames de sangue são menos recorrentes. Mas têm sido mais importantes para o combate ao doping no atletismo, porque conseguem identificar a utilização do chamado EPO, o chamado Eritropoietina, que aumenta a oxigenação do sangue.

Em 2016, a brasileira mais bem colocada na São Silvestre do ano anterior, Sueli Pereira, testou positivo para esta substância e acabou suspensa pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt). Dias depois, seu filho Ronald Moraes também cairia no doping para EPO. Os dois foram suspensos por quatro anos, enquanto que Ronaldo Quirino de Moraes, marido dela e pai dele, treinador dos dois, acabou banido pelo STJD do atletismo.

Como é de praxe dentro da estratégia das agências antidoping, os fiscais colhem tanto os exames dos primeiros colocados –não é pública a informação de até qual colocação– quanto de corredores previamente escolhidos por uma série de fatores.

Um atleta brasileiro de ponta festejou esse cerco, lembrando que o atletismo do Quênia está correndo risco de ser suspenso pela federação internacional (IAAF) diante de um número crescente de casos do doping. Ela ainda citou o caso da queniana Jemima Sumgong, campeã olímpica da maratona e vencedora da São Silvestre de 2016, que foi depois suspensa por doping, exatamente por EPO.

Cada vez mais presentes, os atletas africanos têm abocanhado a maior fatia da premiação da São Silvestre. Na prova desta segunda-feira, contando também o segundo colocado Dawit Admasu, que é etíope e agora corre pelo Bahrein, eles ficaram com R$ 435,5 mil em prêmios, contra R$ 3,5 mil cada um para Giovani dos Santos, Jenifer do Nascimento (ambos oitavos colocados) e Wendell Jeronimo de Souza, nono.

A premiação, porém, só é paga depois que a organização da prova recebe da ABCD a confirmação de que o exame antidoping do corredor deu negativo. Isso inclusive vem gerando insatisfação por parte de corredores brasileiros, que dependem dessa premiação para se sustentar num momento de crise no pedestrianismo do país.