Com atividades direcionadas às mulheres moradoras de rua, começou nesta quarta-feira (14), na Praça Osório, a semana de luta do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR).

Pela manhã, a Secretaria Municipal da Mulher e a Fundação de Ação Social (FAS), por meio dos liceus de ofício, levaram serviços de manicures e de cabeleireiros à praça, em uma ação para elevar a autoestima das moradoras de rua.

Profissionais do programa Consultório na Rua fizeram abordagens e encaminharam as mulheres para exames ginecológicos preventivos no Centro Pop (Programa de População de Rua) da FAS, que fica na Rua Conselheiro Laurindo. Equipes da Secretaria Municipal de Esporte Lazer e Juventude desenvolveram atividades com jogos recreativos. A Secretaria da Defesa Social também esteve presente com informações e orientações diversas.

Cuidado e autoestima andam juntos. A Prefeitura demonstra nesta ação, em parceria com o movimento social, a atenção, o respeito e o cuidado com as mulheres em situação de rua, que somam cerca de 18% das pessoas que vivem nessas condições, disse Roseli Isidoro, secretária da Mulher de Curitiba.

A manicure Kátia Borba ficou impressionada com a história que ouviu de Ester dos Santos, de 40 anos – destes quase 30 como moradora de rua. Ela me contou que teve cinco filhos, que todos vivem com sua mãe e que nenhum deles quer saber dela. Somente o mais velho, que tem 24 anos, é que de vez em quando procura saber notícias, contou a manicure. Ester ainda comentou com Kátia, enquanto pintava suas unhas, que até tentou voltar para a casa da mãe, depois que sofreu um derrame cerebral, em 2011, mas não foi aceita. Então decidiu viver no abrigo da FAS. Durante o dia, ela frequenta o Centro Pop, onde desenvolve atividades de artesanato, cursos de informática e corte de costura.

Ester, que passou a viver nas ruas a partir dos 14 anos, conta que há muito preconceito em relação aos moradores de rua. A partir do momento em que a gente vai para a rua, passa a ser marginalizado por todos, inclusive minha filha de 15 anos não me aceita. Nenhum dos meus filhos me chama de mãe, lamenta.

Sabrina Jacinto tem 19 anos e vive nas ruas desde os 12. Saiu de casa influenciada pelo irmão mais velho e, ainda na rua, teve duas filhas: uma morreu e a outra está sendo criada por uma tia. Sabrina afirma de gosta de morar na rua. Sinto mais liberdade, diz. Sua rotina é sempre a mesma, ajuda o marido Robson, de 24 anos, a cuidar de carros, pede comida nas lanchonetes e dinheiro para quem passa. Eles garantem que conseguem arrecadar em torno de R$ 40 por dia. À noite, dormem embaixo de uma marquise de loja, na Rua XV de Novembro.

Marcos Schneider, de 28 anos, vive com Rejane Pinto, de 30 anos, que foi para a praça pintar as unhas para agradar ao marido. Ambos são catadores de papel. Eles garantem que não pedem esmolas, todavia vivem nas ruas. Dormem no próprio carrinho e afirmam que não passam frio. Algumas pessoas doam agasalhos, outras dinheiro, mas a gente nunca pede. Para comer, vamos ao restaurante de R$ 1 da Praça Rui Barbosa, onde a comida é muito boa, diz.

As atividades da semana de luta dos moradores de rua prosseguem até a próxima quarta-feira (21) em vários espaços da cidade. Haverá um fórum de debates sobre a população de rua e o direito à saúde e a políticas públicas de assistência social. Também apresentação de filmes; torneio de futebol; ato ecumênico, exposição fotográfica e uma concentração (dia 19), na sede do movimento, na Praça João Cândido, no São Francisco.