SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – É uma terça-feira de sol e temperaturas altas no Rio de Janeiro, e um burburinho toma conta de uma comunidade em Curicica, na zona oeste da capital fluminense. É ali, em meio a paredes bem coloridas e uma quadra de samba fictícia, que são feitas as gravações das últimas cenas de “Vai que Cola – O Começo”, segundo filme baseado na série de sucesso do Multishow. 


O longa estreia nos cinemas no dia 12 de setembro. Diferentemente do primeiro filme, de 2015, em que Valdomiro (Paulo Gustavo) e a trupe da pensão da dona Jô (Catarina Abdalla) deixam o subúrbio e realizam o sonho de viver em um dos bairros mais valorizados da zona sul do Rio, o Leblon, desta vez a trama se passa no Méier, no lado norte da cidade, onde é ambientado o seriado. 


Como o próprio nome indica, o enredo mostra o começo de tudo. Isto é, volta no tempo, antes da primeira temporada da série, para mostrar como surgiu a pensão da dona Jô e essa estranha e divertida família formada por tipos tão diferentes como Ferdinando (Marcus Majella), Máicol (Emiliano D’Ávila), Terezinha (Cacau Protásio), Jéssica (Samantha Schmütz), Lacraia (Silvio Guindane) e Aparecida/Velna (Fiorella Mattheis).  


Para o diretor César Rodrigues, esse conceito surgiu a partir da ausência do personagem Valdomiro Lacerda no segundo longa, já que o seu intérprete Paulo Gustavo não poderia participar por conflito de agendas.


“O fato de não ter o Valdomiro naturalmente colocou a gente nessa condição. O que seria o natural, então, para poder fazer nascer essa família? Fazê-la se encontrar. Ótimo motivo para iniciar a nossa história, que é a origem. Mostrar como essa pensão nasceu, como os personagens foram se encontrando, como as relações foram se consolidando tanto afetivamente quanto as brigas e as turras que eles vivem”, explica o diretor. 


A partir daí, o subúrbio carioca, representado pelo Méier, deixa de ser retratado como aquele lugar duro, e árido do primeiro filme, de onde os personagens queriam sair, e se torna nesta nova proposta colorido, alegre e cheio de vida.


É um pouco disso que a reportagem pôde acompanhar em visita às gravações do filme, em abril passado, na comunidade Dois Irmãos, em Curicica. E há aí uma licença poética. Curicica fica na zona oeste do Rio, distante cerca de 20 km do Méier, onde se passa a trama.


Lá foi ambientado o famoso Morro do Cerol. “O Méier não tem morro, o Cerol é o morro da nossa fantasia, o morro da nossa história, o que nos permite criar um morro único. Como ele não tem nenhuma relação com a realidade, a gente procurou fazer um Cerol que fosse um sonho para todos nós. Além da alegria e cor que a gente tem nas pessoas, que tivesse cor nas paredes, que o lugar já tivesse alcançado essa nova etapa de dignidade que é colorir as casas, pintar. O nosso filme tem um pouco dessa bolha da realidade. E a nossa realidade é fazer rir”, afirma Rodrigues. 


Para Silvio Guindane, que interpreta o malandro Lacraia, o “Vai que Cola” dá certo justamente por mostrar o subúrbio de uma forma honesta, “com respeito e com humor”. Fiorella Mattheis complementa que este segundo filme apresenta o “lado gostoso e de afeto do subúrbio”: “São lugares que a direção de arte escolheu com muito carinho para mostrar realmente um lugar aconchegante, que as pessoas gostam e querem estar ali.” 


Além das gravações em Curicica, o filme teve locações também no próprio Méier, na Penha, Gamboa e Grajaú, bairros cariocas. 


TRAMA Na história de “Vai que Cola -O Começo”, dona Jô dá um duro danado para dar conta dela e da filha, Jéssica, que já a enrola dizendo que está estudando para prestar o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e já namora Lacraia. Elas moram em uma casa grande e até pensam em se desfazer do local.  


Mas aí entra Terezinha, amiga de dona Jô, com a ideia de fazer uma feijoada no Morro do Cerol. É neste evento que os outros personagens vão se conhecer. Ferdinando vem de Murundu, e Máicol, de Feira de Santana (BA). 


De todos eles, a mais difícil de reconhecer é Aparecida/Velna. Isso porque, nas gravações que a reportagem acompanhou, ela está usando um dos disfarces da sua personagem: a de um ritmista. Os longos cabelos loiros estão escondidos debaixo de uma peruca preta e chapéu. No rosto, bigode falso. 


A trambiqueira usa vários outros disfarces, três deles masculinos, o que para ela foi um dos seus grandes desafios. “Eu nunca tinha feito homem e, na verdade, estou fazendo uma mulher disfarçada de homem, mas, mesmo assim, tem que ter todos os trejeitos, a postura, o caminhar, a voz masculina”, diz. 


Para Samantha Schmütz, a dificuldade é, aos 40 anos, fazer o papel de uma personagem que tem por volta de 20 anos. “[O desafio] é manter um frescor de menina”, afirma. Para a atriz, o fato de ela ser uma mulher de estatura pequena ajuda. “Acho que convence.” Por outro lado, a atriz conta que já está bem “acostumada” com o papel. “É onde eu coloco a minha periguete real para fora.” 


Outra dificuldade, que não é só de Samantha, mas de quase todo o elenco, é não passar para o espectador a intimidade que os personagens já têm naturalmente, afinal, a maioria trabalha há seis temporadas na série juntos. “Isso é uma coisa que temos que ficar bem atentos, porque é o começo de tudo. As relações não estão estabelecidas ainda”, afirma a atriz. 


O longa, no entanto, traz novidades também. Embora o seu nome seja um velho conhecido de quem acompanha o programa na televisão, Tiziu, o grande amor de Terezinha, vai aparecer pela primeira vez em carne e osso no filme. O papel, que já causou grande repercussão durante as gravações, é interpretado pelo ator Fábio Lago. 


“É um personagem que já existe sem existir, que já está no imaginário do público. Ninguém sabia que eu ia fazer Tiziu, mas quando eu passo aqui na comunidade, já com a roupa dele, todo mundo aqui já fala: Tiziu, Tiziu, Tiziu. E isso sem ir para o ar. É uma responsabilidade grande, porque ele já tem esse carisma”, afirma o ator.