SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A passagem do defensor público Douglas Basilio, 36, pela linha 2-verde do Metrô paulista foi interrompida no fim da tarde desta quarta-feira (22). A do vendedor ambulante Ivan Luiz Crisoste, 33, também havia sido, mas a chute e soco, por dois seguranças da estação Vila Madalena, na zona oeste da capital.


Basilio diz ter visto a hora em que os agentes avançaram. “Eles encurralam o rapaz negro num canto e deram um murro muito forte no abdômen dele, que caiu. Depois, deram um chute na perna”, conta. 


Crisoste afirma ter ouvido um “levanta aí, pretão” antes do soco na boca do estômago. “Eu perdi o ar”, diz. O defensor interveio. “Eu não podia fingir que não estava vendo.” Ele conta que os seguranças então começaram a gritar, o intimidando e ameaçando. “Eles diziam: ‘vai falar o que pra polícia?’, simulando uma arma com a mão.”


Continuaram por quase duas horas, até a chegada do supervisor dos agentes, que se recusou a fazer um registro interno da agressão. Segundo Basilio, o funcionário desencorajou qualquer tipo de denúncia e tachou o vendedor de “pedinte, mendigo, criminoso”. “Na minha leitura é um caso claro de racismo”, diz o defensor público, que atua com casos de violação de direitos humanos.


“Ele me chamou de preto e ladrão umas três vezes. Tenho orgulho da minha cor, mas me senti constrangido”, afirma o vendedor.


Na delegacia, os seguranças Anderson de Almeida, 41, e Felipe Cossolin, 31, negaram as acusações. O primeiro justificou a abordagem alegando que Crisoste seria “olheiro” de ambulantes que vendem mercadoria no sistema metroviário e que teria ficado agressivo quando viu os agentes. Já o segundo afirmou que eles estavam atrás de uma quadrilha que trabalha com venda ilegal de bilhetes e que o rapaz seria um deles.


Crisoste diz que vende água. Não dentro da plataforma ou dos trens, mas sim a uma quadra da estação, onde ele vai ao longo do dia para usar ao banheiro e carregar o celular. No momento da agressão, estava ao lado da tomada e seu aparelho acabou quebrado.


“Faz sete anos que trabalho naquele bairro, todo mundo me conhece”, diz Crisoste. Nada de ilícito foi apreendido com o vendedor, que não tem passagem pela polícia.


O caso foi registrado como lesão corporal, abuso de autoridade e ameaça na Delegacia do Metropolitano (Delpom). Segundo o delegado Marcus Vinicius Reis, a suposta injúria racial será apurada com outras duas testemunhas que viram as agressões, mas ainda não prestaram depoimento.


Procurado, o Metrô afirmou que repudia qualquer tipo de agressão e que o comportamento não faz parte dos valores nem do treinamento dado a seus empregados. Também informou que está apurando internamente o caso, mas não disse se os funcionários foram afastados.