PAULO SALDAÑA*

SALAMANCA, ESPANHA (FOLHAPRESS) – Enquanto especialistas tentam provocar as candidaturas ao colocar o tema da educação como prioridade em seus planos de governo e campanhas eleitorais, o reitor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Marcelo Knobel, teme que, com o atual cenário político, as eleições possam ter um efeito inverso. 

A polarização política poderia, segundo ele, reforçar ideias que enfraquecem a universidade e a pesquisa. “Precisamos de mais investimento em ciência, tecnologia, permanência estudantil. Mas temos o risco de termos uma discussão eleitoral muito rasa”, diz ele. “Sem universidade pública forte o país não tem futuro.” 

Knobel é um dos mais de cem reitores de instituições brasileiras que respondem por uma espécie de carta com sete princípios da Educação Superior no Brasil, lançada nesta segunda-feira (21), em Salamanca, na Espanha. A iniciativa foi realizada durante o IV Encontro de Reitores Universia, promovido pelo banco Santander.

Os reitores fazem parte de uma rede facilitada pela Universia. A ideia é que o documento sirva de norteador para os debates dentro das universidades, mas também ganhe espaço no debate público. Os 7 princípios são excelência acadêmica, professores e metodologia, responsabilidade social, políticas integradas (de cooperação entre instituições), financiamento (que envolve governança e também financiamento estudantil), redução da evasão e promoção da inclusão e emprego, empreendedorismo e inovação.

Knobel ressalta o impacto que o financiamento à pesquisa tem sofrido na esteira dos cortes no orçamento público. “Não tem outra saída: o estado tem que por dinheiro. Se não o país não vai pra frente”, diz. “Em todo lugar do mundo é assim, A pesquisa é financiada sobretudo com dinheiro público”.

Reitor da USP (Universidade de São Paulo), Vahan Agopyan diz que é importante que as universidades se comprometam com uma agenda consensual, mas é crucial que ela também seja apresentada para a sociedade. “Temos que conscientizar a população. As pessoas precisam entender que a educação consegue resolver os outros problemas”, diz.

Para o presidente do Santander no Brasil, Sergio Rial, o estabelecimento desses princípios, no âmbito do encontro de reitores, é um passo mais concreto de preocupação com a realidade do país, que vai além dos relacionamentos entre os dirigentes. “[A iniciativa] é uma tentativa, pelos reitores, de também falar com a sociedade”, diz. “Isso é super válido em um ano eleitoral, pelo menos é uma plataforma de diálogo com mais de cem reitores.”

Rial disse que a sociedade ainda precisa conhecer as agendas dos candidatos e preferiu não comentar sobre as preferências do mercado a determinados candidatos. O Encontro de Reitores realizado na Universidade de Salamanca começou nesta segunda e vai até terça-feira (22). Estão presentes 600 dirigentes de instituições de nível superior de 26 países. O Brasil tem a maior delegação, com 115 reitores. O tema é universidade, sociedade e futuro.

*O repórter viajou a convite do Santander.