Trinta e dois anos depois do fim da Ditadura Militar, os brasileiros voltaram a ouvir sobre uma intervenção militar no país. Para alguns, as noticias foram suficientes para reavivar monstros internos, revisitar lembranças de tortura em porões sombrios, outros foram aos livros e ao Google para se deparar com aquele momento da história do país, mas alguns encaram a discussão como sendo de fato uma solução para o Brasil.
O tema foi reeditado por um general do Exército. Antônio Hamilton Martins Mourão, que é secretário de Economia e Finanças da unidade da Força Armada, falou sobre intervenção militar durante uma palestra promovida pela Maçonaria, na cidade de Brasília. Assim, num tom espantosamente natural, o general declarou em tom de ameaça: No presente momento, os poderes terão que buscar uma solução. Se não conseguirem, chegará a hora que nós teremos que impor uma solução. Esta imposição não será fácil, ela trará problemas, pode ter certeza disso, disse. Falou até que tinha planejamento feito – embora não tenha detalhado.
Discursava o general da ativa sobre o momento em que o país atravessa – em especial aos escândalos de corrupção que assolam o Brasil. E explicitou que internamente a intervenção militar é sim discutida, cogitada. “Até chegar o momento em que ou as instituições solucionam o problema político, pela ação do Judiciário, retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou então nós teremos que impor isso.”
Esperava-se uma reação imediata do Governo Federal, mas quase uma semana depois nenhuma palavra. Apenas um pedido evasivo de explicações. Nem mesmo para repudiar tal iniciativa. Este silêncio é ensurdecedor – embora pareça contradição.
Nossa frágil e jovem democracia estaria em risco? O general tem lá suas razões – em termos. O Brasil está assistindo ao pior capítulo da sua história no tocante a corrupção. A descrença no sistema político é total e irrestrita. E ao invés de uma reação, o que observamos são alguns delinquentes travestidos com mandato eleitoral legislando em causa própria.
O descrédito não está somente na classe política. Algumas de nossas instituições falham ao não cumprir seu papel constitucional. A deturpação de valores é sem tamanho. Se nas televisões assistimos a prisão de empresários e políticos corruptos, na cidade do Rio de Janeiro os cariocas se deparam com um poder paralelo que abocanhou o Estado. Não me surpreenderia se alguns cidadãos do Rio dessem razão ao general Martins Mourão. Afinal de contas, o cenário em que vivem é desolador tanto quanto a esperança de uma realidade melhor – que parece cada vez mais distante.
Qual a saída então? Definitivamente não é o retorno dos militares às ruas. Tampouco o fechamento do Congresso Nacional – embora os que lá estão têm nos dado motivos suficientes para pensar nisso. A nossa aposta tem que ser na nossa frágil e jovem democracia. Sufocar, como foi na Ditadura, não é a receita para o país andar na linha. Ou alguém acha que na época dos militares não havia corrupção? Tudo era abafado pelo sistema em vigor. Hoje assistimos ao trabalho das polícias, a prisão de corrupto e corruptores. A Ditadura nos cegaria. Apostemos na Democracia.
Mas é necessário exigirmos mudanças na legislação. Tanto dos nossos políticos, quanto de juízes, desembargadores e ministros. É preciso um pacto nacional para reverter o desastroso cenário que vivenciamos e o que se avizinha. Não aquele pacto do Romero Jucá (PMDB) que pretende anistiar os políticos flagrados com a mão no jarro. Um pacto de retomada da moralidade do país. A democracia pode sucumbir se nada mudar. Mas, definitivamente, intervenção representaria mais um retrocesso que um avanço.

O que esperar de Raquel Dodge?

A semana começou com uma importante mudança na Procuradoria Geral da República – cargo que se tornou vistoso com o trabalho da Lava Jato. Raquel Dodge assumiu a cadeira que era de Rodrigo Janot. A transmissão da função não foi nada amistosa. Janot sequer se fez presente. E na mesa de autoridades, havia mais gente investigada e suspeita de corrupção do que ficha limpa. É bom lembrar que Janot assumiu o segundo mandato sob forte suspeição. Falava-se na época que ele era indicado pelo PT – a mesma suspeita levantada agora contra Dodge, só que desta vez o partido é o PMDB. Ao longo do mandato, Janot não esmoreceu ao entrar com ações contra petistas de peso – embora tenha ficado marcado pela propositura de duas denúncias contra o presidente Michel Temer (PMDB). Raquel Dodge em breve poderá mostrar e dizer para que veio. Deve ter como uma das primeiras missões a decisão pelos acordos de delação premiada do ex-presidente Eduardo Cunha e de Antônio Palocci, ex-ministro da Fazenda de Lula e Dilma – ambos presos em Curitiba. Os dois sabem muito e estão na iminência de fechar suas colaborações premiadas. O primeiro compromete o PMDB de Temer, e outro atinge em cheio o PT que já esta desconfigurado. Com a palavra, digo a caneta, Raquel Dodge.