Gabriela Korossy/Câmara dos Deputados e Agência Brasil

Depois do "bolsodoria" triunfar em São Paulo, será que veremos no governo federal a partir do próximo ano a dobradinha "bolsomoro"? 

O presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro (PSL), concedeu entrevistas a cinco emissoras de televisão na noite de ontem (29 de outubro). Nelas, confirmo que convidará o juiz paranaense Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância, para ser ministro da Justiça ou o Supremo Tribunal Federal (STF).

A informação já havia sido divulgada no domingo (28) pelo presidente em exercício do PSL, Gustavo Bebiano.

"Pretendo conversar com ele e, logicamente, havendo uma conversa, nos acertando, seria feito um convite. Ele diria sim ou não. Eu só posso falar isso agora porque as eleições se acabam. Se fosse antes das eleições, poderia soar como oportunismo da minha parte", disse em entrevista ao SBT.

Reservado, o juiz não comenta o assunto. À jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, respondeu, quando questionado sobre o assunto: "Não tem comentário. Vou ficar devendo". Perguntado se já teria sido procurado por emissários de Bolsonaro, voltou a repetir a resposta: "Vou ficar devendo."

Aos mais próximos, contudo, o magistrado não descarta a possibilidade de aceitar um convite para o Ministério da Justiça. Se indicado ao STF, já declarou a interlocutores que aceitaria de bom grado. As informações são do jornal O Globo.

De acordo com a reportagem assinada pela jornalista Cleide Carvalho, a vantagem em integrar a equipe do presidente eleito seria afastar o temor de certos setores da sociedade com relação a algum tipo de quebra do Estado Democrático de Direito. 

Bolsonaro já disse acreditar que Moro tem um perfil mais para ministro do STF, mas destacou que a vaga em aberto, neste momento, é a de ministro da Justiça. "Pode ser um grande parceiro no combate à corrupção", declarou o presidente eleito. 

Na Suprema Corte, pelo menos dois novos ministros deverão ser indicados por Bolsonaro, uma vez que os decanos Celso de Mello e Marco Aurélio Mello deixarão o Supremo em 2020 e 2021, respectivamente. Cabe ao presidente da República indicar os integrantes substitutos.

Em cima do muro. Mas nem tanto…

Durante a campanha eleitoral, Sergio Moro não declarou, ao menos oficialmente, apoio a nenhum candidato. A interlocutores, contudo, destacava que a volta do Partido dos Trabalhadores (PT) ao poder seria inaceitável e criticava a proposta de Fernando Haddad para controle social do Judiciário e da mídia. 

Sobre Bolsonaro, elogiava a promessa de não lotear ministérios e declarou aos mais próximos que acreditava na honestidade do candidato do PSL, além de ter destacado a atuação do deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), um dos principais apoiadores do presidente eleito, durante a tramitação das dez medidas contra a corrupção, propostas pelo Ministério Público Federal (MPF).

Depois de confirmada a vitória bolsonarista nas urnas, inclusive, o magistrado divulgou uma nota na qual parabenizou o candidato vencedor. "Encerradas as eleições, cabe congratular o Presidente eleito e desejar que faça um bom Governo. São importantes, com diálogo e tolerância, reformas para recuperar a economia e a integridade da Administração Pública, assim resgatando a confiança da população na classe política", escreveu o magistrado.

Antes mesmo do juiz federal se manifestar, sua esposa, Rosângela, já havia comemorado numa rede social o resultado das eleições, numa postagem em que o Cristo Redentor aparece apontando para o número 17. "Feliz", escreveu ela, que vinha fazendo durante as eleições campanha na web pelo "voto consciente".

Saia justa em aeroporto

No passado (mais precisamente em 30 de março de 2017), o magistrado e o então deputado federal protagonizaram um momento no mínimo curioso no Aeroporto Internacional de Brasília. Naquele dia, o parlamentar, ainda longe de alcançar a força política e o apoio popular que tem hoje, abordou o juiz Sergio Moro, o cumprimentou e até chegou a bater continência, gesto destinado a oficiais militares.

O juiz, contudo, correspondeu rapidamente ao cumprimento e seguiu seu caminho. Nas redes sociais, oposicionistas de Bolsonaro exploraram a imagem na tentativa de demonstrar o episódio como uma prova de descaso e desdém de Moro para com Bolsonaro.

Dias depois, contudo, Moro ligou para Bolsonaro e desculpou–se. Explicou que não teve a intenção e ofender o parlamentar com o gesto e que não queria que o fato fosse explorado politicamente.