RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O estado do Rio de Janeiro registrou o maior número de mortes por policiais em 16 anos, desde o início da série histórica, mesmo antes de o ano acabar. Foram 1.444 vítimas em 2018 até novembro, o equivalente a uma morte a cada 5 horas e meia.

A letalidade policial mais alta até então era de 2007 (1.330), um ano antes do início do início das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). O programa, implantado pelo então governador Sérgio Cabral (MDB), tinha como fundamento a parceria entre Polícia Militar e população.

O recorde anual foi registrado ainda sem os dados de dezembro, que devem puxar o número para um patamar acima de 1.500, segundo informações divulgadas nesta terça (18) pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), autarquia ligada ao governo estadual.

A segurança do estado está sob intervenção federal desde 16 de fevereiro, quando as polícias, os bombeiros e o sistema prisional passaram a ser responsabilidade da União, sob o comando do general Walter Souza Braga Netto.

A medida foi decretada pelo presidente Michel Temer (MDB) e vai até o dia 31 de dezembro deste ano.

A tendência de alta do número de mortos pela polícia já ocorre há cinco anos e continuou durante o período da intervenção na segurança pública do Rio. Especificamente entre março e novembro, meses com a ação federal completa no estado, o aumento foi de 38% em relação ao mesmo período do ano anterior

A curva das mortes em confronto é um "U": elas sofreram uma queda acentuada a partir de 2008, quando as UPPs começam a ser implantadas, e atingiram seu menor número em 2013, quando 416 pessoas foram mortas pela polícia.

A partir de 2014, os índices voltaram a subir e a credibilidade do programa, a cair.

O crescimento da letalidade policial é ininterrupto desde aquele ano, e o número mais do que triplicou de lá para cá.

Ainda segundo os dados do ISP, as vítimas mais recorrentes de mortes por policiais no ano passado eram homens (97%), pardos e negros (77%) e jovens de 18 a 29 anos (35%).

Segundo pesquisa do Datafolha, de setembro deste ano, 72% dos moradores do estado são a favor da continuidade da medida para além de seu prazo final. Dentre os entrevistados, 21% são contrários à prorrogação, 4% não sabiam e 4% eram indiferentes.

O apoio à continuidade na capital do Rio é pouco menor do que no estado: 68% são favoráveis e 25%, contrários.

Já no interior 75% querem prorrogar a medida, e apenas 18% são contra. Moradores de outros municípios da região metropolitana também consideram a intervenção mais positiva do que a capital: 74% são a favor da prorrogação.

A intervenção foi decretada às pressas e sem um plano logo após o Carnaval, quando cenas de roubos em áreas nobres da capital aumentaram a percepção de insegurança e vácuo no governo do estado.

Em seu Plano Estratégico, divulgado quatro meses após o início da medida, cinco objetivos são elencados: 1. Diminuir os índices de criminalidade; 2. recuperar a capacidade operativa das polícias; 3. articular os diversos órgãos da segurança pública; 4. fortalecer o caráter técnico, e não político, desses órgãos; 5. melhorar a gestão do sistema prisional, com reestruturação.

Antes da intervenção, o estado contava, desde julho de 2017, já com a presença de homens do Exército nas ruas. Em meio à grave crise financeira e de segurança pública no Rio, foi decretada na época a GLO (Garantia da Lei e da Ordem), que dava aval à participação dos militares, embora as polícias ainda estivessem sob comando do governo estadual.