Na terça-feira passada, observei comovida minha mãe, beca, maquiagem e sorrisos, subir segura 3 degraus que a separavam dos colegas da faculdade que frequentou nos últimos anos. Andou a passos firmes no palco iluminado, cumprimentou convidados e professores e se fez ouvir sem uma única titubeada de voz, enchendo o auditório com a sua presença. Jurou honrar a sua formação. Jurou agir de forma ética. Jurou ser constante ao zelar pela segurança e saúde da sociedade. O que estava posto na fala, na cena, na noite, era a potência dessa mulher, a sua esperança no futuro – e a minha também.
Formava-se depois de décadas de medicina, em gastronomia. Deu forma a um desejo antigo. Um caminho que ultrapassa a validação de uma nova profissão, diz sobre ela e sua relação com o tempo. Penso que estamos permanentemente nos construindo ao longo da vida, seja uma reforma de contenção de danos, uma manutenção, ou uma mudança na decoração. Mas quando se toma coragem para derrubar uma parede e levantar outra é que moldamos quem somos/seremos de fato.
Quando criança, imaginava que minha mãe tinha nascido médica. Era como se para mim, jamais tivesse existido uma Ana Maria jovem, menina e muito menos bebê. Tinha chegado ao mundo a partir do momento que colocou um estetoscópio em volta do pescoço. Não era uma sensação descabida, foi uma pediatra brilhante. Verbo no passado por sua própria vontade. Trabalhou, trabalhou e um dia acordou decidida a parar com a medicina. Deixou para trás a posição de autoridade em um assunto e abraçou livros, cadernos, dúvidas, trabalhos e provas para recomeçar. 
Nada pode definir melhor a formatura. Permitir-se outras formas. Permitir-se a transformação. Nem precisava ter jurado nada. Honra, ética, zelo e constância são seus ingredientes principais minha mãe. Viva tu!

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