RECIFE, PE (FOLHAPRESS) – A Polícia Civil de Pernambuco investiga se a morte por enforcamento de um menino de 9 anos, no Recife, está ligada a um desafio que circula pelo WhatsApp.

A corrente cibernética, que usa a imagem de uma mulher magra com olhos esbugalhados e inspirada numa escultura japonesa, é conhecida como "Boneca Momo". O caso recifense, ainda sem data para conclusão das investigações, fez com que escolas de diferentes regiões do Brasil disparassem alertas.

Os comunicados encaminhados aos pais de crianças e adolescentes, de maneira geral, apresentam a "Boneca Momo" como uma isca plantada por criminosos para roubar dados pessoais e propor desafios que podem levar à morte. "Orientamos os pais que fiquem atentos e conversem com seus filhos para evitarem maiores problemas", diz comunicado dos Colégios Maristas.

Segundo especialistas, para evitar casos de suicídio, familiares, amigos e professores devem ficar atentos a sinais de alerta em crianças e adolescentes, como falar sobre querer morrer, procurar formas de se matar, ampliar o uso de álcool e drogas e agir de modo ansioso, agitado ou irresponsável.

Diante de situações como essas, o recomendável é não deixar a pessoa sozinha, ligar para canais de ajuda e levar a pessoa para uma assistência especializada.

O caso sob investigação em Pernambuco ocorreu no último dia 16.

Artur Luis Barros dos Santos, 9, jantava com o pai na sala de casa. A mãe do menino, a professora da rede municipal do Recife Jane Rosária Barros Nascimento, 41, estava com a filha pequena no quarto.

O pai saiu da mesa e, alguns minutos depois, a família encontrou o garoto enforcado no quintal com um fio que havia muitos anos servia para segurar uma parreira.

A criança ainda foi levada com vida a uma unidade de saúde, mas não resistiu. A delegada Thais Galba, responsável pela investigação, diz que o celular e o tablet utilizados pelo menino ainda estão sendo periciados pelo Instituto de Criminalística.

Ela declarou que uma das linhas de investigação são desafios propostos por meio da internet. A policial ressaltou, no entanto, que pode ter ocorrido um acidente no quintal.

"Ainda não podemos afirmar com certeza o que realmente houve. No dia em que a mãe foi ouvida aqui na delegacia pela primeira vez, ela mencionou que o filho tinha mostrado essa boneca dizendo que ela era muito feia."

A delegada salientou não ter nenhuma prova de que o menino morreu porque estaria participando de um desafio. "Quando a mãe ventilou essa possibilidade, nós passamos a analisar essa situação. As perícias nos aparelhos eletrônicos podem trazer informações importantes", disse.

Thais explicou que Artur era uma criança extremamente saudável. "Nunca teve histórico de depressão, nunca tomou medicamentos controlados. Um aluno bom, com notas boas. A possibilidade de suicídio é descartada cada vez com mais força", alega.

A advogada da família, Yeda Barbosa, presidente da Comissão Contra Crimes Cibernéticos em Pernambuco, acredita que a morte pode ter ligação com desafios na internet.

Ela, que falou em nome da mãe de Artur, conta que, na semana em que apareceu enforcado, o menino estava bastante ansioso. "Era um menino que usava muito o celular, bem mais do que o comum."

Yeda relata que a mãe chegou a retirar o aparelho do filho após desconfiar que o garoto passava a noite no celular.

Geraldo Lopes, diretor da escola Pequenos Passos, onde Artur estudava, afirmou que é prudente esperar o resultado da investigação. "Existe a necessidade de uma criança ter um celular? Esse é o questionamento que deve ser feito."

O chefe de comunicação da Polícia Federal em Pernambuco, Giovani Santoro, tem dado palestras nas últimas semanas em escolas públicas e privadas sobre a "Boneca Momo".

Ele informou que não existe um padrão de desafios. As crianças e adolescentes atrelam o número do WhatsApp à conta do Facebook. "Os criminosos, utilizando a imagem do perfil do personagem virtual, colhem informações pessoais e passam a fazer os desafios. Os meninos são iludidos e aceitam", afirma.

Santoro diz que o mecanismo é semelhante ao jogo da Baleia Azul, que provocou pânico no mundo inteiro. "O Baleia Azul tinha cinquenta desafios. A estratégia é a mesma. Só muda a forma. Pode ser qualquer desafio. Não existe um padrão definido."

Um deles é justamente a resistência ao sufocamento para saber quanto tempo a criança suporta sem respirar. "Os professores estão bastante aflitos. Por isso, temos ido às escolas para falar com pais e alunos e tentar amenizar a situação", afirma.

 

Dicas de segurança da Polícia Federal para os pais

1 – Estreitar o vínculo de amizade e cumplicidade com seus filhos e sempre perguntar sobre as atividades desenvolvidas no dia.

 2- Ter conhecimento básico de internet e computação, principalmente sobre redes sociais, para instruir os filhos.

3 – Supervisionar o acesso dos filhos à internet de forma discreta e não ostensiva. Melhor caminho é sempre o diálogo e orientação.

4 – Alertar e conscientizar os filhos sobre os perigos que existem na internet. 

5 – Importante a conscientização para não compartilharem de maneira exagerada informações pessoais.

6 – Ter o consentimento da criança e do adolescente para acessar o perfil nas redes sociais. 

7 – Deixar, se possível, o computador num cômodo público e visível da casa para que, em qualquer momento, possa ser visualizado o que os filhos estão acessando.

8 – Não permitir que os filhos fiquem muitas horas conectados à internet 

 

Dicas de segurança para os filhos

1 – Nunca incluir nas redes sociais informações pessoais de maneira exagerada

2 – Não postar fotos em excesso 

3 – Nunca incluir desconhecidos em contatos

4 – Preservar a intimidade ao máximo

 

Fonte: Polícia Federal