NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – Em um ano em que a liberdade de imprensa esteve sob os holofotes não só em regimes autoritários mas em democracias como os Estados Unidos, o jornalismo foi escolhido como Pessoa do Ano pela revista americana Time.

Foram quatro exemplos que serviram como um recado da publicação sobre a importância de incentivar o jornalismo investigativo, em um mundo em que as notícias negativas sobre governos e autoridades são tachadas de "fake news".

Um deles foi o jornalista saudita Jamal Khashoggi, morto no consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, em outubro, em um crime que a CIA (agência de inteligência dos EUA) acredita que teve como objetivo silenciar o repórter, crítico ao regime saudita.

"É a primeira vez que escolhemos alguém que não está vivo, mas é também muito raro que a influência de uma pessoa cresça tão imensamente após a sua morte", afirmou Edward Felsenthal, editor-executivo da Time.

A Pessoa do Ano ano também foi Maria Ressa, editora do site de notícias filipino Rappler, que faz cobertura crítica das políticas violentas e controversas do presidente Rodrigo Duterte.

Wa Lone e Kyaw Soe Oo, repórteres da agência de notícias Reuters que foram presos em Mianmar ao investigar um massacre contra a minoria muçulmana rohingya, também estão no grupo, que recebeu o nome de "os guardiães e a guerra pela verdade".

Mais de 25 mil rohingya já morreram desde o início da atual onda de ataques protagonizados por militares de Mianmar, de maioria budista. Os atos tiveram início em agosto de 2017, e, deste então, cerca de 700 mil tiveram que fugir do país.

Por fim, consta o jornal Capital Gazette, de Annapolis (a 50 km de Washington), alvo de um atirador em junho passado que matou quatro repórteres e um assistente de vendas.

O atirador Jarrod Ramos, 38, disse buscar vingança contra o veículo. Ele processou a publicação em 2012 por causa de um artigo sobre um processo de assédio contra ele. Nem o colunista, nem o editor da reportagem sobre o caso trabalham mais na Gazette.

"Conforme olhamos para as escolhas, ficou claro que manipulação e abuso da verdade são realmente o fio condutor em muitas das grandes histórias deste ano", afirmou Felsenthal, da Time.

Os quatro repórteres e o jornal são representantes de "uma luta ampla de tantos outros no mundo que arriscam tudo para contar a história dos nossos tempos". Ao menos 52 jornalistas foram assassinados em 2018.

A segunda colocação ficou com o presidente Donald Trump, enquanto o terceiro lugar foi do procurador especial Robert Mueller, que investiga uma possível interferência russa nas eleições presidenciais de 2016.

Na sequência apareceram os estudantes que lideraram as manifestações a favor do controle do porte de armas nos EUA; o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in; o cineasta Ryan Coogler, diretor de "Pantera Negra", e Meghan Markle, atriz que se casou com o príncipe britânico Harry.

Ficaram de fora as famílias de imigrantes na fronteira dos EUA, também indicadas.

A revista faz a distinção de Pessoa do Ano desde 1927. No ano passado, o prêmio foi dado ao movimento contra assédio simbolizado pela hashtag #MeToo (eu também, em português), que inicialmente foi usado por milhares de mulheres nas redes sociais para denunciar casos de abusos pelos quais tinham passado.