SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O copresidente do conselho de administração do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, afirma que no cenário atual do país, não é um momento favorável para tomar riscos. “Tomar risco agora seria fazer apostas e nós não queremos fazer apostas. Teremos muita disciplina na gestão de capital”, disse o empresário.

O presidente do banco, Candido Bracher, na mesma linha, afirma que a volatilidade do mercado deverá continuar até o segundo turno das eleições presidenciais. “Ainda não está claro quem vai para o segundo turno. Mas vejo com satisfação que o tema fiscal permeia os discursos de todos os principais candidatos. Eles reconhecem a necessidade do ajuste fiscal”, diz Bracher sem citar nomes de presidenciáveis.

Setubal e Bracher deram as declarações durante a reunião da Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais), em São Paulo, evento do mercado de capitais que reúne analistas e acionistas.

Setubal tratou sobre a questão do estresse no mercado após ser questionado se o banco poderia aumentar a concessão de empréstimos. Setubal afirmou que o banco toma medidas de gestão de capital, em função do estresse atual do mercado, para manter o capital mínimo em 13,5%.

O empresário mostrou uma simulação apontando que se o dólar chegasse a R$ 5, o capital mínimo do banco, que no primeiro semestre estava em 14,2%, cairia a 13,3% em dezembro deste ano — abaixo dos 13,5% definidos pelo banco.

Capital mínimo é aquele que o banco precisa manter para ultrapassar situações de estresse.

Com as medidas já tomadas pelo banco, que incluem diminuição de operações cambiais e aumento de hedge (proteção), esse percentual subiria para 14,5% no final do ano no caso hipotético de o dólar se situar em R$ 5.

Setubal afirmou que além do câmbio, títulos de dívida de longo prazo, cujo valor de mercado varia em situações de estresse, também afetam a composição de capital, uma vez que o Banco Central desconta da sua base.

“A gente nunca sabe onde vai terminar o estresse, então tomamos medidas para manter o nível de capital elevado .

Bracher destacou que gerir cenários de risco é a essência da atividade de qualquer banco. “Quando você trabalha com crédito, com ativos e passivos em diferentes moedas, que você nunca sabe como vão se comportar, você tem sempre que estar atento aos possíveis cenários”, disse.

Eles acrescentou que o Itaú gerencia suas posições de câmbio desde que o dólar atingiu R$ 3,50. “Temos modelos e fazemos nossas operações progressivamente à medida que o câmbio anda, “Com essas medidas, mitigamos muito o impacto nos nossos negócios”, disse.

Em sua exposição, o presidente do Itaú afirmou que não existe um câmbio ideal. “O importante é que haja um câmbio estável. A volatilidade atrapalha os agentes econômicos em suas tomadas de decisões”, disse.

Bracher acrescentou ainda que o real está sendo influenciado tanto pela situação brasileira, com a indefinição eleitoral, quando pelo quadro externo, com a alta dos juros dos países desenvolvidos.

O presidente do Itaú Unibanco disse ainda que, pessoalmente, considerou que a decisão do Banco Central, de impor restrições à compra da XP, “rigorosa demais”.

“Não havia risco para a concorrência na forma como negociamos. Acho que a concorrência se intensifica à medida que a XP fica mais forte. Mas o BC decidiu e cabe a nós acatar. E a vida segue. Continuamos achando interessante o negócio”, disse Bracher.

Ele afirmou que os membros que o Itaú indicará serão membros do nosso conselho, não executivos dos bancos.

Roberto Setubal contou que o negócio com a XP começou com uma motivação estratégica. “Estava definido que ela faria parte do Itaú e até termos o controle de fato, nós participaríamos da gestão e discutiríamos as estratégias. Agora nós nem sabemos se um dia conseguiremos comprar. Ficou em aberto. Pode ser que sim ou não, mais provável, não. Deixou de ser negócio estratégico e passou a ser mais um investimento em si”, afirmou o empresário.

Inicialmente, o Itaú fechou a compra de 49% da XP e garantiu opções de compra e venda, que lhe dariam o controle da XP em até 15 anos. O Banco Central vetou essas opções, o que equivale dizer que uma eventual compra do controle da XP pelo Itaú terá de ser renegociada, se um dia acontecer.

O BC também vetou que o Itaú tenha ingerência na empresa, poderá apenas indicar dois conselheiros e três membros do comitê de auditoria.