O colapso dos hospitais que atendem a rede SUS na Região Metropolitana de Curitiba já é uma realidade. Conforme dados divulgados ontem (27 de junho) pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), três dos estabelecimentos com leitos para casos confirmados ou suspeitos de Covid já não possuíam capacidade para receber novos pacientes. Nas UTIs, a taxa de ocupação está acima de 85% em oito dos onze hospitais com vagas exclusivas para pacientes adultos com coronavírus ou suspeita de contaminação.
Localizados em Curitiba, o Hospital da Cruz Vermelha, o Hospital Santa Casa e o Hospital do Idoso já não possuíam praticamente mais vagas para pacientes adultos com Covid, tanto na UTI como na enfermaria. No Hospital Erasto Gaertner, no Hospital Evangélico, no Hospital do Trabalhador, no Hospital de Reabilitação e no Hospital Municipal de São José de Pinhais, a ocupação das UTIs está acima de 85%.
Em todos os hospitais da RMC, há um total de 336 vagas em UTI, das quais 275 (81,85%) estão ocupadas. Nas enfermarias, são 506 leitos, com taxa de ocupação atualmente em 61,26% (310 pacientes).
Ocupação de leitos SUS por casos suspeitos/confirmados COVID – 19 | |||
UTI | |||
Estabelecimento | Vagas existentes | Vagas ocupadas | Taxa de ocupação |
Hospital da Cruz Vermelha | 7 | 7 | 100,00% |
Hospital Erasto | 10 | 10 | 100,00% |
Hospital Santa Casa | 10 | 10 | 100,00% |
Hospital de Clínicas | 61 | 45 | 73,77% |
Hospital Evangélico | 23 | 20 | 86,96% |
Hospital do Idoso | 30 | 29 | 96,67% |
Hospital do Trabalhador | 22 | 19 | 86,36% |
Hospital de Reabilitação | 52 | 45 | 86,54% |
Hospital Municipal de S. José dos Pinhais | 10 | 9 | 90,00% |
Hospital do Rocio | 103 | 80 | 77,67% |
Hospital São Lucas Parolin | 8 | 1 | 12,50% |
TOTAL | 336 | 275 | 81,85% |
Enfermaria | |||
Estabelecimento | Vagas existentes | Vagas ocupadas | Taxa de ocupação |
Hospital da Cruz Vermelha | 10 | 10 | 100,00% |
Hospital Erasto | 30 | 23 | 76,67% |
Hospital Santa Casa | 10 | 10 | 100,00% |
Hospital de Clínicas | 83 | 60 | 72,29% |
Hospital Evangélico | 48 | 35 | 72,92% |
Hospital do Idoso | 37 | 37 | 100,00% |
Hospital do Trabalhador | 34 | 19 | 55,88% |
Hospital de Reabilitação | 32 | 16 | 50,00% |
Hospital Municipal de S. José dos Pinhais | 0 | 0 | |
Hospital do Rocio | 212 | 100 | 47,17% |
Hospital São Lucas Parolin | 10 | 0 | 0,00% |
TOTAL | 506 | 310 | 61,26% |
Ocupação de leitos UTI avança aceleradamente
Há pouco mais de uma semana, no dia 16 de junho, os hospitais da RMC contavam com 240 leitos em UTIs para pacientes com Covid ou com suspeita da doença, dos quais 201 (83,75%) estavam ocupados.
Desde então, o número de leitos em UTI foi aumentado em 40%, chegando a 336 (96 novas vagas). A quantidade de pacientes internados, contudo, também avançou consideravelmente: 36,82%, passando de 201 para 275 – ou seja, 74 pessoas precisaram ser internadas.
Só nos últimos três dias, o número de pacientes na UTI por causa do novo coronavírus cresceu 19% na RMC, passando de 231 para 275. A taxa de ocupação, então, saltou de 73,33% para 81,85% nesse período, mesmo com a abertura de 21 novas vagas.
Hospital Pequeno Príncipe está com 90% das UTIs ocupadas
Entre os hospitais com leitos pediátricos para pacientes com Covid-19 ou suspeita da doença, o Hospital Pequeno Príncipe (HPP) é o que apresenta maior taxa de ocupação, com 90% entre os leitos UTI (são 10 vagas existentes e nove estão ocupadas) e 35% na enfermaria (dos 20 leitos nessa área, sete estão com pacientes internados).
Além do HPP, o Hospital de Clínicas e o Hospital Evangélico também possuem leitos pediátricos exclusivos para Covid. No primeiro, uma das cinco vagas em UTI estava ocupada, o que aponta para uma ocupação de 20%. No segundo, os seis leitos UTI estavam livres e três dos 10 leitos enfermaria estavam ocupados (ocupação de 30% da enfermaria, portanto.
Colapso da rede pública de saúde pode estar próximo
Embora o prefeito Rafael Greca negue, afirmando que “não existe colapso do sistema de saúde de Curitiba”, a realidade é que a situação da capital e dos municípios vizinhos se agrava a cada dia. E no meio científico, o colapso já é considerado algo iminente.
Uma nota técnica divulgada há cerca de duas semanas pela Comissão de acompanhamento e controle de propagação do novo Coronavírus na UFPR, por exemplo, já havia apontado que o Sistema de Saúde Pública no Paraná estaria próximo de entrar em colapso ao longo do mês de julho. “A aceleração da disseminação da COVID-19 é motivo de preocupação no Estado do Paraná, sugerindo que medidas de distanciamento social mais estritas devem ser impostas, sob o risco do Sistema de Saúde Pública estar próximo de entrar em colapso nos próximos 30 dias, de acordo com modelo preditivo da evolução da COVID-19 apresentado pela Universidade Washington”, dizem os pesquisadores.
Na mesma linha, um estudo feito pelo Centro de Epidemiologia e Pesquisa Clínica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (Epicenter – PUCPR) e divulgado no começo desta semana também apontava que, “sem a disponibilização de novos leitos, as UTIs [de Curitiba e região] estarão totalmente saturadas em menos de duas semanas.”
Ao Bem Paraná, a médica intensivista do Complexo Hospitalar do Trabalhador, Mirella Cristine de Oliveira, contou sobre um episódio marcante ocorrido recentemente. “Numa sexta-feira, duas semanas atrás [dia 5 de junho], tivemos uma noite em que internamos 14 pacientes. Isso nunca tinha acontecido na pandemia e já era reflexo de problema no distanciamento social lá atrás. Nós estaremos com o sistema de saúde em xeque nas próximas duas ou três semanas, no mínimo”, alertou a médica na ocasião.
Curitiba investe na ativação de leitos; hospital de campanha é “última alternativa”
A grande questão hoje é como será o avanço da pandemia nas próximas semanas. Até aqui, o número de casos e óbitos progride geometricamente e ainda não há indícios de que a cidade tenha atingido o pico da doença. De acordo com a médica infectologista Marion Burger, da Prefeitura de Curitiba, isso só deve acontecer nas próximas semanas ou mês.
“Não estamos no pico da pandemia em Curitiba, ele deve ocorrer nas próximas semanas ou mês. Será um momento em que precisaremos do poder público atuando em conjunto com a sociedade”, disse Burger na última quarta-feira (24 de junho).
Para tentar dar conta da demanda crescente, a solução tem sido ativar novos leitos hospitalares. Na última sexta-feira, por exemplo, foi anunciada a criação de mais 28 vagas – 13 clínicas e 15 de UTI – no Hospital de Clínicas. Até julho, conforme a Secretaria Municipal de Saúde, estão previstas mais 114 UTIs e outros 133 leitos clínicos. Além disso, o município também tem em seu plano de contingência a possibilidade de estruturação de um hospital de campanha, tratado até aqui como “última alternativa”.
“O hospital de campanha é a última alternativa. Nós ativamos recentemente o Hospital Vitória e agora ativaremos o Instituto de Medicina. O que temos em Curitiba é ouro: estrutura hospitalar com as condições sanitárias e de proteção do paciente, com comissão de controle infecção, intensivistas, equipe qualificada, estrutura de apoio e de diagnóstico (laboratório, raio-x, radiografia), rede de gases”, diz a secretária municipal da Saúde de Curitiba, Márcia Huçulak.
A evolução da ocupação de leitos UTI SUS na RMC por casos suspeitos/confirmados de Covid-19
16 de junho | |||
Estabelecimento | Vagas existentes | Vagas ocupadas | Taxa de ocupação |
Hospital da Cruz Vermelha | 7 | 5 | 71,43% |
Hospital Erasto | 10 | 6 | 60,00% |
Hospital Santa Casa | 10 | 9 | 90,00% |
Hospital de Clínicas | 33 | 25 | 75,76% |
Hospital Evangélico | 23 | 23 | 100,00% |
Hospital do Idoso | 30 | 24 | 80,00% |
Hospital do Trabalhador | 22 | 20 | 90,91% |
Hospital de Reabilitação | 43 | 32 | 74,42% |
Hospital Municipal de S. José dos Pinhais | 10 | 9 | 90,00% |
Hospital do Rocio | 52 | 48 | 92,31% |
TOTAL | 240 | 201 | 83,75% |
24 de junho | |||
Estabelecimento | Vagas existentes | Vagas ocupadas | Taxa de ocupação |
Hospital da Cruz Vermelha | 7 | 6 | 85,71% |
Hospital Erasto | 10 | 6 | 60,00% |
Hospital Santa Casa | 10 | 10 | 100,00% |
Hospital de Clínicas | 48 | 41 | 85,42% |
Hospital Evangélico | 23 | 23 | 100,00% |
Hospital do Idoso | 30 | 26 | 86,67% |
Hospital do Trabalhador | 22 | 18 | 81,82% |
Hospital de Reabilitação | 52 | 44 | 84,62% |
Hospital Municipal de S. José dos Pinhais | 10 | 0 | 0,00% |
Hospital do Rocio | 103 | 57 | 55,34% |
TOTAL | 315 | 231 | 73,33% |
25 de junho | |||
Estabelecimento | Vagas existentes | Vagas ocupadas | Taxa de ocupação |
Hospital da Cruz Vermelha | 7 | 6 | 85,71% |
Hospital Erasto | 10 | 9 | 90,00% |
Hospital Santa Casa | 10 | 10 | 100,00% |
Hospital de Clínicas | 48 | 40 | 83,33% |
Hospital Evangélico | 23 | 23 | 100,00% |
Hospital do Idoso | 30 | 25 | 83,33% |
Hospital do Trabalhador | 22 | 19 | 86,36% |
Hospital de Reabilitação | 52 | 40 | 76,92% |
Hospital Municipal de S. José dos Pinhais | 10 | 10 | 100,00% |
Hospital do Rocio | 103 | 65 | 63,11% |
Hospital São Lucas Parolin | 8 | 1 | 12,50% |
TOTAL | 323 | 248 | 76,78% |
27 de junho | |||
Estabelecimento | Vagas existentes | Vagas ocupadas | Taxa de ocupação |
Hospital da Cruz Vermelha | 7 | 7 | 100,00% |
Hospital Erasto | 10 | 10 | 100,00% |
Hospital Santa Casa | 10 | 10 | 100,00% |
Hospital de Clínicas | 61 | 45 | 73,77% |
Hospital Evangélico | 23 | 20 | 86,96% |
Hospital do Idoso | 30 | 29 | 96,67% |
Hospital do Trabalhador | 22 | 19 | 86,36% |
Hospital de Reabilitação | 52 | 45 | 86,54% |
Hospital Municipal de S. José dos Pinhais | 10 | 9 | 90,00% |
Hospital do Rocio | 103 | 80 | 77,67% |
Hospital São Lucas Parolin | 8 | 1 | 12,50% |
TOTAL | 336 | 275 | 81,85% |