Marcos Solivan

Durante toda esta semana, os recém-aprovados do curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR) realizam atividades com as crianças atendidas no Ambulatório Menino Jesus de Praga (CHC –UFPR e APACN), que atua na área de hematoncologia. A ação faz parte do trote solidário que marca a recepção aos calouros.

Divididos em grupos de 10 a 15 estudantes por dia, os futuros médicos interagem com os pequenos pacientes com jogos e brincadeiras. “Permitir que os alunos tenham esse contato com o paciente antes de começar as aulas é uma forma de mostrar a eles que são bem-vindos e importantes. Assim, já começamos a formar médicos melhores”, conta Lucas Eduardo de Matos, aluno do 7º período de Medicina e um dos idealizadores da ação.

Em seu terceiro ano de realização, a iniciativa também tem o objetivo de desmistificar o famoso trote sujo que coloca o calouro em um ambiente de hierarquia que acaba se estendendo por toda a formação acadêmica.

Matos é coordenador do MEDinfância, projeto de recreação hospitalar que acontece no ambulatório e nas brinquedotecas do Hospital de Clínicas (HC). As ações são desenvolvidas por cerca de 80 estudantes de Medicina voluntários que fazem intervenções recreativas diárias com os pacientes. “Para as crianças é muito bom, pois mostra que o médico não é só aquele que aplica injeção e trata a doença. Na verdade, acabamos cuidando da doença de uma forma diferente”, relata.

A jovem Dafne Basso, de 19 anos, conta que participar do trote solidário é a realização de um sonho, pois é algo que ela queria fazer desde a época que cursava o ensino técnico na Universidade Federal Tecnológica do Paraná (UTFPR). “As crianças que participam acabam perdendo o medo dos médicos e percebem que os profissionais estão ali para tratar, além da doença, a alma”.

Desenvolver essas atividades com pequenos pacientes pode ser uma forma de evitar a Síndrome do Jaleco Branco, sintoma desenvolvido por crianças que sentem aversão a profissionais de saúde e levam isso para a vida toda. “Já ouvi testemunhos de médicos do ambulatório afirmando que, após as brincadeiras, as crianças ficam mais calmas porque ainda estão em clima de diversão”, revela Matos.

O calouro Gustavo Nishimoto, de 18 anos, já tem experiência com trabalho voluntário e ficou animado ao saber que poderia continuar com essa atividade na graduação. “No ensino médio eu participava de um programa que desenvolvia ações de recreação em creches e lares de idosos. É excelente ter a oportunidade de continuar esse trabalho logo ao entrar na faculdade”.

Como tradição nos trotes solidários realizados pelo grupo, ao final da manhã as crianças se divertem pintando os rostos dos calouros. O pequeno Guilherme, paciente do ambulatório, conta que adora mágica e se sente muito bem durante as atividades. “Se faz bem para eles, faz bem para mim também”.