SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um surfista foi atacado por um tubarão. Uma cena horrenda, sangue pelo mar, todos apavorados. Mas o acidente em si pouco importa. É apenas um marco, um ponto de referência para traçar o caminho de outras tramas, ou pontos de vista distintos sobre a mesma sequência de fatos.

O espetáculo “Tubarão Banguela”, estreia na direção da atriz e dramaturga Rita Batata, começa um tanto despretensioso. Tons calmos de azul, a brisa do mar e uma tarde preguiçosa de praia.

Então se segue o ataque -só narrado pelos atores e descrito pelos olhares incrédulos dos personagens- e conhecemos melhor os demais envolvidos pelo acidente.

O bombeiro que participou do resgate logo vê um estranhamento da filha pequena, que acaba assistindo a uma transmissão do ataque. E pouco a pouco percebe-se toda a desestrutura de sua família.

Uma mulher vai à busca do pai, desaparecido na confusão, e só encontra o cachorro dele. Logo se vê que ela e o pai se estranhavam, mas o sumiço acaba servindo de estímulo para que ela tente religar esse laço perdido.

“A ideia é que o foco não fosse o acidente em si, mas que ele funcionasse como uma bomba que explode e seguimos acompanhando os estilhaços”, comenta Batata sobre o texto de sua autoria.

Para acompanhar os fragmentos de histórias, a diretora investe no coletivo. É num trabalho conjunto dos atores, que como numa coreografia criam imagens com o corpo, que o espetáculo faz a transição entre as suas tramas.

Também tenta borrar as fronteiras de interpretação. É tênue a passagem do ator ao personagem à narração da história. Tanto que há figuras mais alegóricas (como um intérprete que se transmuta em cão) e outros mais realistas.

Nessas diferentes perspectivas, a montagem acaba por discutir a fragilidade das relações, falar sobre como, muitas vezes, somos demasiadamente passivos no contato com o outro, ou quando, por medo, decidimos apenas abandonar relações e esquecer de tudo.

O tubarão banguela do título, afinal, é um predador inerte, que perdeu as armas, mas continua ameaçador.

TUBARÃO BANGUELA

Quando Sex. e sáb., às 19h30, dom. e seg., às 20h. Até 26/11

Onde Teatro Sérgio Cardoso – sala Paschoal Carlos Magno, r. Rui Barbosa, 153

Preço R$ 20

Classificação 14 anos