A garotada da chamada Geração Z, os nativos digitais, certamente estranharia a forma como as pessoas buscavam informação algumas décadas atrás.
No Rio de Janeiro, por exemplo, lembro do costume de se sintonizar a Rádio Relógio Federal para acertar os ponteiros do despertador ou do relógio de pulso. A cada trinta segundos, ouvia-se uma gravação em que a locutora anunciava a hora certa. Os quase trinta segundos entre uma gravação e outra eram preenchidos com anúncios comerciais e religiosos, além de muita informação curiosa.
“Você sabia que a maçã é a melhor escova de dentes?”             
“Você sabia que a mosca voa tão depressa que se voasse em linha reta ela ia passar pelo mundo todo em 28 dias?”
Estas e outras curiosidades se repetiam ao longo da programação, numa espécie de saber enciclopédico e fragmentado.
Em A hora da estrela, novela de Clarice Lispector, Macabéa é uma ouvinte assídua de “cada gota de minuto que passava”. A moça pobre e alienada ficava as madrugadas ouvindo o que para ela seria uma “rádio perfeita, pois entre os pingos do tempo dava curtos ensinamentos dos quais talvez um dia viesse precisar saber”.  Mas a cultura de almanaque não foi de muita serventia para Macabéa, nem mesmo para conversar com seu inculto e rude namorado.
Seja na ficção literária seja no mundo real, hoje não faz mais sentido um usuário de celular sintonizar o rádio para conferir as horas ou ouvir curiosidades e informações.
A informação está digitalmente disponível o tempo todo e em qualquer lugar. Se antes as enciclopédias, com seus pesados volumes impressos, socorriam os estudantes, hoje são superadas pelos conteúdos em diversos formatos e mídias, tudo acessível a um toque.
O problema é que tanto as informações das antigas enciclopédias quanto das mídias digitais tornam-se igualmente irrelevantes e alienantes quando não são contextualizadas, apropriadas criticamente e relacionadas com o que é significativo na nossa experiência de vida e aprendizado.
É aí que reside um dos grandes desafios educacionais da cultura digital e deste tempo de hiperconexão.  Professores que se limitam a repetir ou disponibilizar informação e alunos que não vão além do acesso aos conteúdos deixam de experimentar a transformação da informação em conhecimento, deixam de vivenciar a aprendizagem significativa a partir do trabalho didático-pedagógico que articula o mundo da informação com a realidade e a vida do aluno.
Uma das frases mais repetidas nos velhos tempos da Rádio Relógio – “Cada minuto que passa é um milagre que não se repete” – deve nos lembrar da urgência de transformar a sala de aula e o processo de aprendizagem em experiência que faça sentido para estudantes que vivem imersos numa cultura digital.
O antigo desafio de integrar o conhecimento à nossa vida e torná-lo relevante ao nosso tempo continua atual dentro e fora da escola ou da universidade.

Luís Cláudio Dallier Saldanha é Doutor em Educação e Diretor de Serviços Pedagógicos do Grupo Estácio