Está lá o post. Uma foto, um meme, um link de notícias, uma música, cena de filme, a selfie, seja o que for, o passo seguinte são as reações. Pior: nenhuma reação. O que um like, um deslike, um coração, uma raiva, uma lágrima, uma surpresa, um compartilhamento significa? E o que nenhuma reação pode impactar no ego nosso de cada dia?

O fato é que cada qual, em seu protocolo particular aufere ao like de cada dia, além de um significado universal, a sua leitura particular. Há o famoso disparo da dopamina, a sensação ultra instantânea do vício. Seria o vício da validação alheia? A necessidade ancestral de nos comunicarmos? A vitrine viva para atestar nossa existência?

Nos chats com amigos fiz a pergunta para saber as impressões de cada um sobre o assunto. Uma amiga pouco afeita, porém usuária da comunicação digital decodifica as reações apenas como manifestações literais: um like é gostar, deslike não gostar, raiva, surpresa, lágrima exatamente o que significam, sem derivações. Entretanto, faz uma observação que tem uma amiga que conhece pessoalmente, mas não costumam interagir nas redes sociais. “Agora quando os likes são nas minhas postagens eu tenho a tendência de ‘ouvir’ o que a pessoa quer dizer partindo do que eu conheço dela e posso estar muito enganada. Tenho uma amiga da vida, irmã de alma que nunca curte nada, mas vê tudo. E eu raramente curto as postagens dela e nos vemos quase toda semana… vai entender?!?” – comentou LSS.

Variação das intenções – Direto da Itália, outra amiga também desmistifica as “intenções dos likes”. Segundo ela “muitas vezes eu curto fotos de pessoas desconhecidas, mas a imagem, o conteúdo foi relevante para mim e pronto”.

Do outro lado da força, há quem preencha o cartão fidelidade do momento, para dar significância às reações, mandando corações e curtidas nos stories, a vitrine dos influencers e dark room dos crushes.

Ali se estabelecem códigos e possíveis saltos (nem tão quânticos), para uma aproximação ao molde líquido de Bauman, porque quase todo mundo se sente íntimo, após sequência de likes, dezenas de stalkeadas, mas com dizia um antigo amigo “vamos aos bifes” é outra coisa.

Então o like pode ser apenas um like quando é público, no privado se requer um coração conectado aos algoritmos? Tudo o que se quer dizer pode ser um código estilo Matrix? Acho que isso rende uma outra coluna: há algo de podre no reino dos likes!

*Ronise Vilela é jornalista, escritora,poeta, criadora do @dimondicomunicacaoafetiva e praticante de ferramentas de processos energéticos