Colaboração

Cerca de um mês após o incêndio que destruiu mais de 300 casas na Vila Corbélia, na Cidade Industrial de Curitiba, a comunidade voltou a viver momentos de tensão na manhã desta quinta-feira (10 de janeiro). Segundo o relato de moradores, policiais militares à paisana teriam entrado na comunidade e “desaforado” as pessoas que trabalhavam nas obras de reconstrução do local.

Segundo o relato de um morador, que pediu para não ser identificado, tudo começou quando uma ambulância foi acionada após uma mulher passar mal. Três viaturas policiais escoltaram a equipe médica, que levou a paciente para receber atendimento.

Depois que a ambulância e as viaturas foram embora, porém, entrou um carro preto à paisana na rua em que o pessoal está reconstruindo a ocupação 29 de Março. Dois policiais, que seriam do serviço de inteligência (P2), estavam no veículo e teriam começado a ofender os moradores.

“Alguns P2 entraram na comunidade, desaforaram o pessoal, ficaram tirando sarro. Não era nem para estarem aqui por tudo que aconteceu e aí o pessoal se revoltou. Mas não fizeram nada”, conta outro morador, que também pediu para não ser identificado.

O clima esquentou mesmo, porém, quando os policiais foram deixar a comunidade. É que o veículo pifou e um pessoal mais esquentado começou a cercar e cobrar os agentes, perguntando o que eles estavam fazendo ali. Os policiais, então, teriam alegado estar investigando um homicídio que aconteceu no Parque dos Tropeiros e que por isso estavam ali.

Quando do incêndio, no dia 07 de dezembro, a comunidade acusou policiais militares pela tragédia, numa ação que seria em represália à morte de um policial militar. Na época, contudo, a corporação negou a acusação, afirmando que seria o crime organizado que quis repreender moradores que ajudaram a polícia nas investigações.

O outro lado

A reportagem do Bem Paraná já entrou em contato com a Polícia Militar do Paraná (PM-PR), questionando se os dois agentes que foram até a Vila Corbélia eram realmente policiais e o que eles estariam fazendo no local.  Uma nota foi encaminhda na noite desta quinta: “A Polícia Militar está sempre presente na Vila Corbélia assim como em outros bairros e vias da Capital com policiamento preventivo e também com o serviço velado. No caso citado na reportagem uma equipe policial foi até a Vila para fazer um mapeamento do local devido a uma ONG ter aberto uma rua em local onde antes não existia. Cabe à Polícia Militar fazer o mapeamento das regiões para o combate à criminalidade. A Corporação, como braço do Estado na garantia da lei e da ordem, conforme prevê a Constituição Federal, tem legalidade para fazer o policiamento preventivo e ostensivo em todas as vias públicas da cidade, a fim de assegurar a segurança pública e o bem estar dos cidadãos de bem.”

Reconstrução

A reconstrução das moradias na ocupação 29 de Março da Vila Corbélia terá novas etapas ainda neste primeiro semestre. Após a tragédia, Prefeitura e a ONG Teto se uniram para erguer casas de emergência no local. Nos dias 22 e 23 de dezembro as primeiras 21 casas foram levantadas num mutirão da ONG que reuniu dezenas de voluntários.

A ideia da Teto, que atua em favelas precárias de 19 países da América Latina e Caribe para superar a pobreza por meio de projetos de moradia e infraestrutura, é construir 150 casas na Vila Corbélia.

Para dar continuidade ao processo, a organização lançou uma vaquinha online (http://juntos.com.vc/pt/29resiste). Como cada casa construída pela organização custa R$ 5.000, o número de moradias construídas na Vila Corbélia depende da arrecadação. A seleção das famílias prioritárias para construção segue critérios de urgência e a previsão é de que a próxima etapa da construção aconteça no próximo mês de fevereiro.