Um dia depois do governador reeleito, Roberto Requião (PMDB) culpar a
mídia pela vitória apertada no segundo turno, o governador em exercício
e presidente licenciado da Assembléia Legislativa, deputado Hermas
Brandão (PSDB) afirmou ontem que o mais atrapalhou o peemedebista na
disputa foi justamente a falta de capacidade de comunicação do governo
e a dificuldade de relacionamento com a imprensa. Ao contrário do que
apontou Requião, para quem o resultado de apenas pouco mais de dez mil
votos de diferença para Osmar Dias (PDT) não indicou nenhuma
necessidade de mudança no comportamento dele ou na administração
estadual, o tucano – principal aliado do governador na campanha – os
mais de 49% de votos obtidos pela oposição trazem uma clara lição. “Sem
dúvida o resultado mandou um recado para o governador. Tem que se mudar
alguma coisa, principalmente a comunicação com a população”.

Para ficar ao lado de Requião, Hermas comprou uma briga com seu próprio
partido. Chegou a ser indicado como candidato a vice-governador na
chapa do peemedebista, mas a aliança foi derrubada na Justiça pela
Direção Nacional tucana, porque Requião se recusou a abraçar a
candidatura de Geraldo Alckmin à presidência no Estado. Mesmo assim, o
presidente da Assembléia se manteve fiel ao governador, que pediu
licença do cargo para a campanha, junto com seu atual vice, Orlando
Pessuti, abrindo caminho para que o deputado assumisse o governo nesse
período.

Desgaste – Com essa bagagem, o parlamentar avalia que Requião não pode
deixar de entender que a divisão provocada pela disputa eleitoral
precisa ser revertida através de um processo de reconciliação com os
setores da sociedade que demonstraram rejeição ao governador, votando
na oposição. “Foi dado o recado de que grande parte da população quer
algumas mudanças”, afirma. Hermas concorda com o governador quando ele
diz que sofreu desgaste pelo engajamento de parte dos veículos de
comunicação na campanha adversária. Mas defende que o próprio governo
precisa fazer uma auto-crítica para evitar que os erros cometidos até
aqui se repitam. Entre eles, a dificuldade de divulgar as realizações e
obras da atual administração nas cidades mais populosas, onde Requião
foi derrotado por Osmar. “Há uma falha geral de comunicação nas grandes
cidades. Nós não conseguimos fazer chegar essa informação ao eleitor”,
diz, estendendo as críticas inclusive ao estilo “briguento” de Requião.
“Tem que reconstruir o relacionamento com a imprensa no Paraná todo.
Pelo estilo do governador, o governo não teve a boa vontade da
imprensa”, analisou ele, que não escondeu o mal-estar com a entrevista
coletiva da véspera em que Requião desancou repórteres de veículos a
que acusou de fazer campanha para seu adversário. “Não era o momento.
Ontem ele (Requião) estava muito magoado. Não foi a hora correta. Hoje
acho que ele não faria isso”, considerou.
Para o governador em exercício, foi esse estilo conflituoso que fez com
que os mais de 70% de aprovação da atual administração não se
refletissem na mesma proporção em votos. “Foi uma rejeição pessoal”,
disse.

Ataques – Hermas concorda com Requião na avaliação de que colaborou
para esse desgaste a exploração pela campanha adversária de vídeos em
que o governador aparece fazendo brincadeiras de gosto discutível com
mulheres e policiais militares. “Usaram ataques pessoais e brincadeiras
gravadas irregularmente”, justificou. “Algumas mentiras se tornaram
verdadeiras”, disse, citando também como fator de complicação a
exploração da prisão do policial civil Délcio Augusto Razera, que
trabalhava no Palácio Iguaçu e foi acusado de comandar uma quadrilha de
escutas telefônicas clandestinas contra políticos e empresários.

Para o deputado, Osmar também foi beneficiado por sua ligação com o
agronegócio, e pela crise na agricultura. “A comunicação não soube
separar o que era responsabilidade do governo estadual e do governo
federal na questão agropecuária. E pela ligação com o Osmar, todo o
setor do agronegócio, cooperativas, fez campanha para ele”. Hermas cita
ainda outras brigas de Requião, contra o plantio de transgênicos e
envolvendo a administração do Porto de Paranaguá. “Tudo isso pesou.
Souberam transformar isso em voto”.

Reconquista — Sobre a pecha de
autoritário atribuída a Requião, o governador em exercício procurou
contemporizar. “Isso não se traduziu na campanha. Mas ficaram
resquícios do passado”, minimizou.

Apesar dos problemas e da auto-crítica, o deputado é otimista sobre o
próximo mandato de Requião e acha que há como corrigir os erros e
reconquistar a quase metade do eleitorado que votou com a oposição.
“Com trabalho e obras. Temos que buscar investimentos e diálogo
constante, mostrar as coisas boas. Falta tratar bem, comunicar-se bem
com a imprensa”.

“PSDB tem que decidir o que quer”
O governador em exercício e presidente licenciado da Assembléia,
deputado Hermas Brandão afirmou ontem que pelo menos por enquanto não
pensa em deixar o PSDB. Mas também não descartou essa possibilidade e
fez pesadas críticas à cúpula do partido, em especial ao presidente
nacional da legenda, senador Tasso Jereissati (CE). “Preciso descobrir
o que o PSDB quer primeiro para tomar uma posição”, afirmou.
Hermas encabeçou a ala tucana paranaense que tentou uma aliança com o
governador reeleito Roberto Requião. Chegou a ser inscrito como
candidato a vice-governador na chapa requianista, mas a aliança foi
derrubada na Justiça a pedido da direção nacional do PSDB. A alegação
oficial foi de que a aliança não interessava aos tucanos porque Requião
não quis se comprometer a apoiar a candidatura de Geraldo Alckmin à
presidência. Mesmo assim o deputado manteve-se fiel ao governador até o
final da campanha. Ao lado de Hermas ficaram outros seis deputados
estaduais da legenda e a maioria dos prefeitos tucanos no Estado.

Do outro lado, com o candidato de oposição, Osmar Dias (PDT) ficaram os
deputados federais – Gustavo Fruet, Affonso Camargo, Luiz Carlos Hauly
– o senador Alvaro Dias, irmão de Osmar. O “racha” interno se agravou
no segundo turno, depois que o prefeito de Curitiba, Beto Richa também
declarou apoio e entrou na campanha do senador pedetista.

Hermas não perdoa o presidente nacional do PSDB por ter anulado o
resultado da convenção que decidiu – por uma diferença de apenas cinco
votos – pela aliança com Requião. Alega que teria aberto mão de
disputar a vaga de candidato tucano ao senado para deixar caminho livre
para a reeleição de Alvaro Dias a pedido de Tasso Jereissati. E que em
troca a cúpula tucana teria se comprometido a não interferir na escolha
do partido no Paraná para a eleição para o governo. “Discordo da
direção nacional. Ela conduziu muito mal a campanha, por isso a derrota
do Alckmin”, avalia. “Ele (Tasso) não estava preparado para ser
presidente do partido”, afirma. O deputado garante não ter se arrendido
de nada. “A minha palavra vale. A dele (Tasso) não valeu”.

Apesar dessas divergências, e mesmo com o desembarque de Beto Richa –
considerado hoje a principal liderança tucana no Estado e potencial
candidato ao governo para 2.010 – na campanha adversária, Hermas não
tem nenhuma decisão sobre se fica ou não no PSDB. “Tenho seis deputados
e 32 prefeitos que me acompanharam. Não tomo decisão isolada. Vou
aguardar os próximos passos do partido”, conclui.

Deputado descarta cargo no governo
Enquanto muita gente já briga nos bastidores por uma vaga no próximo
mandato do governo Requião, o governador em exercício e presidente
licenciado da Assembléia, deputado Hermas Brandão (PSDB), garante que
não quer nem ouvir falar em cargo no Executivo. O tucano – que não
disputou a reeleição para a Assembléia – reafirma que pretende retornar
as suas atividades de agropecuarista e serventuário da Justiça –
ficando longe da política pelo menos por um bom tempo.

Por conta do apoio decisivo que deu a Requião na campanha mesmo contra
a vontade de parte do PSDB, Hermas já vinha sendo cotado para ocupar
uma posição de destaque na próxima administração. Entre os cargos
citados estão a chefia da Casa Civil, responsável pela articulação
política do governo. O tucano, porém, não demonstra nenhum entusiasmo
com a idéia. “Não fui convidado e se for não aceito. Não estou em fase
de aceitar emprego”, diz ele. “Depois de três mandatos consecutivos
como presidente da Assembléia, estou precisando de um descanso”,
afirma.

O deputado – que alimentava nesta eleição o desejo de disputar uma vaga
no Senado – não descarta, entretanto, voltar a concorrer às futuras
eleições. “Pode ser definitivo (o afastamento), ou pode ser
temporário”, despista, brincando que pode disputar uma vaga de vereador
em Barra do Jacaré, pequeno município do Norte Pioneiro, sua base
política.

Hermas também diz não querer uma indicação para o Tribunal de Contas. O
vice-governador Orlando Pessuti (PMDB) chegou a ser indicado por
Requião e aprovado pela Assembléia para assumir o posto em março deste
ano, mas acabou não assumindo o cargo e preferindo a reeleição junto
com o governador. Com isso, a vaga ficou aberta e deve ser preenchida
por nova indicação. Hermas alega que para assumir uma posição de
conselheiro do TC teria que se aposentar da carreira de serventuário da
Justiça, o que no momento não lhe interessa.