Dê ao povo tudo o que for possível. Quando lhe parecer que você está dando muito, dê mais. Você verá os resultados. Todos irão lhe apavorar com o espectro de um colapso econômico. Mas tudo isso é mentira. Não há nada mais elástico que a economia, que todos temem tanto porque ninguém a entende. É o conselho dado em carta por Juan Domingo Perón, presidente da Argentina, na década de 50, ao presidente do Chile, Carlos Ibáñez. O economista Fabio Giambiagi, do BNDES, no oportuno artigo Olhemos para a Argentina, resgata o que seria a essência da política peronista que ganharia versões diferenciadas nos países latino americanos.
Quando Perón chegou ao poder a Argentina era a 6ª economia mais rica e desenvolvida do mundo. Com padrão educacional moderno era a grande nação da América Latina. Nas últimas décadas, com crises que levaram a brutais ditaduras e deposição de governos, o peronismo se enraizou na sociedade portenha. No presente, Giambiagi recomenda que nesse momento olhemos o vizinho país que vem implantando administração modernizadora, com visão política e social, propondo reformas que foram postergadas nas últimas décadas.
O populismo na sua essência não aceita divergência, buscando ter contato direto com as massas, seja de direita ou de esquerda, levando a população a descrer no regime democrático, ignorando instituições e combatendo o pluralismo político. O seu grande aliado é a indiscutível baixa eficiência e resposta dos sistemas democráticos. Abuso de poder, péssimos governos e corrupção triunfante, geradores de distorções na economia, são determinantes para alimentar o surgimento de figuras públicas dotadas de carisma e que se consideram salvadores da pátria.
Nas eleições de 2018, os brasileiros devem votar olhando para o futuro e não cultivando o passado. Bem definido pelo cientista político Carlos Melo, ao conceituar a utopia regressiva: Estamos num momento de muitas incertezas sobre o futuro, sobretudo na economia. Tecnologia, indústria e emprego devem mudar completamente. A grande questão é que ninguém sabe como será e é por isso que as pessoas se apegam ao passado. Os candidatos que vêm, nesse momento, liderando as pesquisas no Brasil representam essa utopia regressiva.
São frutos de um sistema político-eleitoral que gera ficções políticas sem consistência a vender à população falsas soluções para os grandes problemas nacionais. O interesse nacional é substituído pela visão paroquial na qual os interesses pessoais prevalecem. Os responsáveis pela maior recessão econômica da história brasileira posam com roupagem mistificadora atraindo desinformados e mal informados.
Na sucessão presidencial de 2018, o grande debate que acontecerá terá na economia a sua base principal. A lenta recuperação que assistimos, onde o crescimento econômico em 2018 poderá ficar em 2,5% a 3%, não é sustentável se reformas básicas não se concretizarem. A dívida pública bruta em relação ao PIB está em trajetória insustentável de 76%, podendo chegar a 92% do PIB em 2021, sem a reforma previdenciária. Candidato que tenha responsabilidade com o futuro precisa dizer aos brasileiros que, nas últimas duas décadas, o PIB per capita brasileiro cresceu 27%. Já nos países emergentes (similares ao Brasil) cresceu no mesmo período 153%. E o mais grave: em 1995 o PIB per capita brasileiro era 78% maior do que o dos países emergentes.
O exercício da administração pública exige que se reconheça que o Brasil empobreceu nas últimas décadas, em relação ao desenvolvimento mundial. Postulante presidencial que não diga a verdade à população deve ser descartado. E a chamada maioria silenciosa da sociedade não pode se curvar ao populismo.
Neste último texto que publico em 2017, recorro a artigo que escrevi recentemente: A eleição de 2018 é oportunidade de colocar o Brasil no rumo do desenvolvimento. Precisamos ter certeza do futuro, mas isso só ocorrerá se houver ampla mobilização nacional, sob pena de, invertendo a equação, termos saudade do futuro.

Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista