SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Suprema Corte da Venezuela ordenou nesta quarta-feira (8) a prisão do líder oposicionista Julio Borges, ex-presidente da Assembleia Nacional, por supostamente ter planejado o assassinato do ditador Nicolás Maduro com um ataque de drones no último sábado (5).

Em nota, o tribunal afirmou que "ordena a imediata detenção do parlamentar" sob a acusação de "homicídio intencional qualificado em grau de frustração" contra Maduro.

Outro oposicionista, o parlamentar Juan Requesens, 29, foi detido na terça (7), acusado por Maduro de envolvimento no suposto ataque.

Um dos principais líderes dos protestos contra o regime de 2017, Requesens foi capturado pelo Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin, polícia política do chavismo). A informação foi divulgada por seu partido, o Primeiro Justiça (centro-direita).

"Sem ordem judicial chegaram à casa e o levaram à força", disse Guillermo Requenses, pai do deputado.

A corte também declarou "procedente" o processo contra Requesens. Como parte do processo judicial, a Assembleia Constituinte, totalmente chavista, decidiu suspender a imunidade parlamentar dos dois oposicionistas.

No momento da prisão de Requesens, Maduro discursava na televisão e apresentava mais detalhes das investigações das explosões.

Cerca de 40 minutos depois, o mandatário relacionou, sem apresentar provas, o suposto crime a Requesens e a Borges, que está fora da Venezuela desde fevereiro.

Ambos negam terem participado do suposto ataque.

"Nos acusaram de tudo porque conseguimos promover as sanções [contra o governo] e obter o cerco internacional a Maduro. Maduro, nós queremos te ver fora do poder", disse Borges, em Bogotá.

"Eles são assassinos de verdade!", Elvis Amoroso, vice-presidente da Assembleia Constituinte.

Antes de sua detenção, Requesens havia discursado na Assembleia Nacional, de maioria oposicionista, na terça, sobre a saída de Maduro.

"Muitos dos nossos irmãos estão fora do país, muitos estão embaixo da terra porque foram mortos. Você os matou, Nicolás!".

"Hoje eu posso falar com vocês aqui, mas eu não sei sobre o amanhã", acrescentou.

O pai de Requesens disse não saber do paradeiro do filho. Líderes da oposição disseram que o deputado foi enviado ao Helicoide, a sede do Sebin em Caracas.

O procurador-geral, Tarek William Saab, disse nesta quarta que há 19 pessoas ligadas ao suposto ataque, com seis delas presas. A identidade dos suspeitos não foi revelada.

Durante a transmissão, Maduro reiterou sua acusação de envolvimento do agora ex-presidente da Colômbia Juan Manuel Santos e da diáspora venezuelana nos EUA na ação.

Como prova para incriminar Santos, citou que 11 suspeitos foram treinados em uma fazenda em Chinácota, vilarejo colombiano a 46 km da fronteira venezuelana.

Oposicionistas e ativistas haviam alertado que Maduro poderia usar o suposto atentado como subterfúgio para aumentar a repressão, em meio à crise econômica no país.

"Este é um governo covarde, que não se cansa de perseguir, com mentiras, que pensa diferente", disse o deputado Jorge Millán.