RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O ex-juiz federal e atual governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), adicionou ao currículo Lattes, plataforma acadêmica, um período na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, uma das mais reconhecidas do mundo. No entanto, ele nunca foi aluno da faculdade norte-americana.


A informação foi revelada nesta quarta-feira (22) pelo jornal O Globo.


A bolsa-sanduíche, que ele menciona no currículo, proporciona que o aluno de doutorado complete parte do curso em uma universidade parceira no exterior.


Witzel é estudante de doutorado no departamento de Ciência Política da UFF (Universidade Federal Fluminense), com um projeto sobre a judicialização da política.


Ao escrever sobre esta formação, que ele diz estar em andamento, Witzel acrescentou: “com período sanduíche em Harvard University (orientador: Mark Tushnet)”.


Tushnet é um reconhecido estudioso do direito nos Estados Unidos, com quem o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso já fez uma apresentação sobre constitucionalismo e democracia.


A assessoria de imprensa do governador nega que ele tenha dado a informação para se vangloriar e argumenta que Witzel incluiu em seu currículo que o doutorado estava em andamento, e não concluído.


Segundo a assessoria, o ex-juiz adicionou o período sanduíche em Harvard como uma intenção para ser cumprida durante os estudos. Essa edição teria sido feita em 2015, ano em que o agora governador ingressou na UFF.


Em meio à campanha eleitoral de 2018, no entanto, Witzel não teria conseguido encaixar o período sanduíche nos Estados Unidos. Ele pretende apresentar sua tese até agosto para receber o título de doutor pela UFF.


“Em seu projeto inicial de doutorado, ele incluiu a possibilidade de aprofundar os estudos em Harvard, projeto interrompido pela campanha ao governo do estado, em 2018, quando se encerram as inscrições para a universidade norte-americana”, diz nota da assessoria.


“Quando o governador iniciou o doutorado atuava como juiz federal e não tinha como prever que o projeto de estudar em Harvard poderia ser adiado em razão da eleição.”


Para obter a bolsa-sanduíche, o aluno precisa passar por uma seleção. Periodicamente, as universidades divulgam os editais para que os alunos se inscrevam. A assessoria de imprensa da UFF confirmou que Witzel não se candidatou ao programa.


O caso do governador fluminense não é único; outros nomes da política também tiveram trazidos à tona currículos acadêmicos inflados, que registravam formações que eles na verdade não possuíam.


Os mais recentes envolvem dois ministros do governo Jair Bolsonaro: Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e Ricardo Salles (Meio Ambiente).


A primeira se apresentou, em uma palestra dada em Mato Grosso do Sul em 2013, como advogada e mestre em educação e “em direito constitucional e direito da família”. Ela não possui currículo no Lattes e, em janeiro, o jornal Folha de S.Paulo revelou que Damares não tinha esses títulos de fato.


Ricardo Salles chegou a assinar na Folha de S.Paulo, em 2012, na seção Tendências / Debates, artigo que incluía, em sua biografia, o dado de que era mestre em direito público por Yale -formação que ele não tem; o erro foi atribuído a sua assessoria de imprensa.


Na semana passada, contestação semelhante atingiu a química e professora Joana D’Arc Félix. Ela também citou em seu currículo acadêmico que estudou em Harvard, o que acabou desmentido. Posteriormente, pediu desculpas.