A volta às atividades após o recesso escolar não será motivo de comemoração para um grupo de 2 mil estudantes, de turmas de 5ª a 8ª séries do ensino fundamental e médio, de duas escolas estaduais, na região sul de Curitiba. Mesmo com o período das férias, as obras dos colégios Beatriz Faria Ansay, no Tatuquara, e Maria Gai Grendel, no Campo de Santana, que estão paralisadas há mais de três anos, não terão sido concluídas e os estudantes precisarão continuar freqüentando as aulas em espaços improvisados, inadequados e com poucas condições para a aprendizagem.
O descaso do governo do estado para com os estudantes e suas famílias é ainda maior. Sem segurança na obra, um dos terrenos virou mocó e serve de ponto de encontro para traficantes, viciados e marginais, colocando em risco a vida das pessoas que moram na região.

 A comunidade não se conforma com a falta de respeito do governo do Estado com suas famílias. “Este é mais um exemplo das obras mal feitas do Requião. Feitas apenas para comprar o voto das pessoas. Ele acabou com o colégio de nossos filhos e nos deu em troca um refúgio de bêbados e desocupados, que passam as noites fazendo algazarra na obra abandonada”, diz a costureira Neide Marli Fontoura, de 53 anos.   
Nos terrenos onde os dois colégios deveriam estar funcionando, já havia escolas, pequenas e com problemas de conservação, que foram demolidas. A promessa da Secretaria Estadual da Educação foi a de ampliar e melhorar os espaços das unidades. O custo inicial previsto para a execução das obras seria de R$ 3 milhões.

As duas empresas contratadas para o serviço abandonaram as obras, deixando para trás escombros, muito mato e sujeira. Ignorando o valor dos impostos pagos pelos contribuintes, a forma encontrada pelo governo do Estado para contornar a situação foi alugar, às pressas e com custos elevados, barracões para servirem de sala de aula para os estudantes. Meninos e meninas que estudavam próximos de suas casas agora precisam de transporte para chegar até os barracões.

O caso mais sério é o dos estudantes do colégio Beatriz Faria Ansay, na Vila Pompéia, no Tatuquara. A obra na rua Francisco Xavier de Oliveira iniciou em 2005, mas quatro anos depois continua inacabada. Aproximadamente 1,2 mil estudantes são obrigados a assistir aulas em uma edificação no Campo de Santana onde precisam chegar de ônibus, devido à distância. O local alugado expõe os estudantes a riscos, algumas salas são separadas por tapumes.
A obra, que deveria ter sido entregue em 2006, está inacabada. Duas empresas já foram contratadas. A primeira delas foi a  Alpha San, que cerca de quatro meses após iniciar a obra abandonou o serviço alegando problemas financeiros. Após nova licitação, a Braaden Construtora Civil Ltda. deu prosseguimento aos trabalhos na escola, mas também não terminou a construção.

Em declarações feitas à imprensa, em 2006, a Secretaria Estadual da Educação afirmou que o colégio seria concluído até o segundo semestre de 2007. Cerca de R$ 460 mil já foram gastos na construção do colégio, com custo total estimado em R$ 1,7 milhão.
Para o aposentado Antônio Domiciano, de 63 anos, ver a conclusão do colégio que já serviu de motivo de orgulho para os moradores da rua é um desejo que ele se recusa abandonar. “Já fizemos tantas solicitações ao governo do Estado e tantos protestos que uma hora eles terão que nos ouvir. Queremos futuro para nossos jovens e para isso eles precisam de ensino bom, em espaço bom para aprender”, diz Antônio.
Além do futuro dos estudantes, outra preocupação de Antônio é com a segurança dos moradores, acuados pelos marginais que invadiram o terreno. Boa parte dos materiais como ferro e tijolos usados na obra já foram roubados. “O espaço não é vigiado”, diz revoltado Antônio Domiciano, que não se conforma com o mau uso do dinheiro público.