LETS ROCK LOJA DE ROCK

Após dois anos de dificuldade por conta das restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus, o mercado do rock finalmente ganha fôlego em Curitiba e vislumbra dias melhores. Nas lojas especializadas no segmento, que trabalham com a comercialização de produtos como camisetas, moletons, bonés, bottons, LPs e CDs, entre outros, o sentimento é, ao mesmo tempo, de alívio e otimismo. Alívio pela indicação de que o pior já passou. E otimismo, em grande medida, pela retomada dos grandes shows internacionais, o que tem se traduzido em mais vendas e maior faturamento.
Somente neste ano, por exemplo, dois grandes espetáculos já aconteceram e agitaram a capital paranaense. O primeiro deles, em 28 de abril, foi a apresentação do Kiss com a “End of the Road Tour”, turnê de despedida do grupo, que passou pela Pedreira Paulo Leminski. Poucos dias depois, em 7 de maio, foi vez do Metallica trazer a “Worldwired Tour” para o município, sendo que o show no Estádio Couto Pereira marcou a primeira apresentação da banda no Paraná.
Nas próximas semanas, mais dois grandes espetáculos estão agendados. Em 27 de agosto, sábado da próxima semana, os britânicos do Iron Maiden farão a alegria dos heabangers, com a turnê “Legacy of the Beast” passando pela Pedreira Paulo Leminski (os ingressos já estão esgotados). E em 21 de setembro será a vez do Guns N’Roses trazer a turnê “Guns N’ Roses Are F’ N’ Back!” para o município, também com apresentação na Pedreira.
‘Quase tivemos de fechar a loja’
Proprietário da Dr. Rock, loja que em outubro completará 19 anos de história no mercado curitibano, Almir Pinheiro da Silva conta que o mercado do rock’n’roll vinha com movimento estabilizado em 2019 e 2020, antes da pandemia. “Estávamos na mesma situação do comércio em geral, que estava sofrendo um pouco com a crise econômica, mas se mantinha estável”, explica.
Com a emergência sanitária, no entanto, tudo mudou. O comércio precisou fechar as portas e, mesmo quando reabriu, o movimento não era o mesmo de tempos anteriores. “A gente estava com 30% do faturamento anterior, o que gerou quase o fechamento da loja”, relata o empresário, contando que chegou a apelar para o e-commerce para tentar manter o negócio estabilizado, uma iniciativa que acabou fracassando por conta de um ataque hacker, que fez a empresa perder o trabalho de um ano inteiro.

Retomada com o retorno dos grandes espetáculos
Até março a Dr. Rock trabalhou no vermelho (embora outras empresas, como a Let’s Rock, já tenham começado a sentir uma reação do mercado ainda no ano passado). Com a volta dos shows, no entanto, o cenário mudou. “O Kiss deu uma levantada no ânimo das pessoas, que voltaram a comprar. Um fato que se confirmou em dobro com o show do Metallica, fazendo com que maio fosse o nosso melhor mês em dois anos”, afirma Silva.
O relato é parecido com o de Newton Santos Junior, proprietário da Let’s Rock, que já tem 28 anos de estrada. Segundo ele, em quase três décadas o espetáculo que mais havia movimentado a loja foi o do AC/DC, em 1996, na Pedreira. Neste ano, contudo, teve um evento que superou o movimento gerado pelo show da banda australiana.
“Foi o Metallica, no Couto Pereira. Foi a primeira vez deles em Curitiba, uma banda desse tamanho… Nossas vendas foram incríveis. Por três vezes na semana do show tivemos todos os produtos esgotados. Conseguimos estoques de emergência, mas fechamos a loja no sábado, dia do show, sem absolutamente nenhum item da banda, nem boné, camiseta, nenhum produto masculino, feminino ou infantil. Foi bem surpreendente, um número bem legal. Saímos do vermelho, dá para dizer. Foi o show da virada, da volta dos grandes shows, da recuperação, da retomada. Esse show é especial, histórico”, diz Junior.
Ainda segundo o empresário, cada show internacional de bandas do porte de um Kiss, Metallica, Iron Maiden ou Guns N’Roses é uma espécie de Natal para o mercado do rock. É que no período natalino, tradicionalmente o de mais vendas para o comércio em geral, as vendas na Let’s Rock crescem de duas a três veze em relação à média do ano. Já quando vem algum show de grande porte, o faturamento chega a crescer cinco vezes. “É um aumento considerável. Muita gente vindo de fora, pessoal que é daqui também quer ter uma lembrança, e aumenta muito o movimento. As vendas dão uma boa guinada”, celebra.

Som
Capital do rock

Curitiba já é conhecida há algum tempo como a capital do rock. E há alguns anos, em 2017, um levantamento feito pela plataforma de streaming musical Deezer confirmou que a capital paranaense faz jus ao título. O estudo, feito com base nas escolhas de bandas e artistas pelos usuários de diferentes localidades, revelou que os curitibanos são os que mais buscam músicas do gênero rock para ouvir, deixando todas as demais capitais e cidades do país (inclusive Brasília) longe do pódio. Entre as bandas mais ouvidas estavam grupos como Imagine Dragons e Arctic Monkeys, que se apresentaram nos próximos meses na capital paranaense – em 25 de outubro e 8 de novembro, respectivamente, ambos na Pedreira Paulo Leminski.

Situação econômica do país ainda é ponto de preocupação
Há 20 anos no mercado e com lojas nos bairros Hauer e Sítio Cercado, a Metal Mania Rock Store viveu (e vive) em meio à pandemia um momento diferente de seus concorrentes. É que em meio à crise sanitária, relata José Iedo Ribeiro Martins, a empresa mirou todo o atendimento para o online e, valendo-se do fato de já trabalhar com entregas desde antes da pandemia e ter toda uma estrutura montada, conseguiu aumentar de maneira expressiva o faturamento.
“Na pandemia tivemos mais vendas, principalmente na primeira leva de fechamento, talvez porque as pessoas estavam com mais dinheiro para gastar. 2022 está sendo um ano meio complicado, mesmo com os shows e tudo”, diz ele, ressaltando que o movimento ainda pode ser considerado bom.
O que acontece, entretanto, é que o cenário poderia ser melhor, não fossem questões como a inflação, o desemprego e o fato de grande parte das pessoas que estão empregadas estarem tendo de conviver com salários ‘achatados’.
“Isso tudo acaba refletindo, impactando na gente”, diz ele, destacando também a importância dos grandes eventos para sua loja. “Tudo vem a calhar. Bandas como Metallica, Kiss, agora temos Iron e depois o Guns, são bandas que realmente comercializamos legal, dá um movimento legal”, aponta.

Expectativa para os shows que se aproximam
Com o show do Iron Maiden marcado para o próximo dia 27, as lojas especializadas em produtos para roqueiros já começam a sentir uma movimentação diferente, com as vendas subindo por conta da procura relacionada à banda britânica. “Estamos em contagem regressiva. Os ingressos já esgotaram e estamos preparados. A procura já aumento bastante, temos vendido muito Iron Maidem e de tudo que se imagine: camisetas, bonés, canecas, DVD, LP, bluray, cachecol, toucas… Temos pelo menos 30 tipos de produtos e a saída está bem legal. Até o dia 27 a venda vai ser bem significativa”, comemora Newton Santos Junior, da Let’s Rock.
Já Almir Pinheiro da Silva afirma que o Iron Maiden é uma banda que sempre garante um ‘up’ nas vendas. “Guns é um pouco mais devagar, mas também ajuda. Inclusive, foram os fãs de bandas como Iron, AC/DC, Metallica, Motorhead, Black Sabbath e Led Zeppelin que mantiveram a loja aberta, pois são fiéis à cena Rock N Roll, com ou sem pandemia”, destaca.
Ainda segundo ele, o carro-chefe das vendas em lojas de rock sempre foi e sempre vai ser as camisetas. Contudo, quando há os shows de grande porte, o leque se abre e novas oportunidades acabam surgindo. “Esses grandes eventos costumam trazer pessoas de fora, que aproveitam a oportunidade para comprar coturnos, moletons e acessórios em geral, o que é muito bom pra loja.”