Além das intenções de votos, a pesquisa Datafolha do dia 23 também revelou que quase metade do eleitorado curitibano não tem interesse pela propaganda política na TV. Pelo menos 46% dos entrevistados afirmaram que sequer querem saber o que os candidatos têm a falar. Outros 43% acreditam que os programas não têm qualquer importância na hora da escolha do voto.

Os números da pesquisa comprovam aquilo que grande parte dos cientistas políticos vem apontando há tempos: o formato em que a propaganda eleitoral brasileira na TV está inserida pode estar afastando cada vez mais o público eleitor do cenário político. Além disso, aumentam as dúvidas sobre a real influência dos programas no momento de decisão do voto.

Para Cila Schulman, coordenadora de comunicação e estratégia de campanhas eleitorais desde 1988, um dos grandes problemas dos programas está no modelo político- partidário no Brasil, que conta com número muito grande de siglas. Essa variedade acaba fazendo com que caia a qualidade dos programas, que poderiam ser mais bem aproveitados. “A presença do candidato é praticamente obrigatória. E não deixa de ser cara, pois só o horário é gratuito, mas a produção, especialmente num país que acostumado à programação de alto nível técnico nas emissoras abertas, tem um custo alto. A inviabilidade de investir, em muitos casos, faz com que alguns programas percam em qualidade, levando junto para baixo a audiência da totalidade deles”, avalia.

Para ela, o grande número de siglas também é responsável pelo “engessamento” dos debates eleitorais na TV. “Para não prejudicar quem é pequeno, se estabeleceu a igualdade de oportunidades para todos. Claro que isso torna os debates menos ágeis e menos interessantes”, avalia.

Além do modelo, para o especialista em pesquisas e assessoramento em campanhas, Alberto Carlos Almeida, o horário eleitoral gratuito é muito mal utilizado pelos candidatos, que não conseguem focar e enxergar o ponto de vista do eleitor. “Existe uma formulinha equivocada: um programa sobre saúde, um sobre educação, um sobre emprego. Isso é um equívoco gigante. O eleitorado dá peso aos problemas e, quanto mais uma campanha tiver foco, mais efetiva é”, analisa.