Valqir Aureliano – Vendedor criou sistema de venda que aposta no lado bom das pessoas

Para um empreendedor, apostar na honestidade alheia para receber o que lhe é devido pode parecer um negócio arriscado. Ainda assim, foi exatamente isso o que um vendedor de morango de Curitiba resolveu fazer. E a iniciativa acabou dando muito certo, pelo menos até aqui.

Há 10 anos comercializando morangos num ponto do bairro Campina do Siqueira, Diego Saldanha conta que buscava uma forma de otimizar o atendimento aos clientes, que param com seus carros no cruzamento da Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza com a Rua Major Heitor Guimarães, e assim aumentar as vendas e o faturamento. Foi quando teve a ideia de se aproveitar de formas de pagamento modernas, como o PIX e o PicPay, e ao mesmo tempo apostar na honestidade das pessoas.

Ele, então, foi numa gráfica e produziu uma espécie de cartão de visita, no qual constam o seu telefone de celular, nome e CPF, que podem ser usados como chave PIX, além de um QRCode para pagamento via PicPay. Dessa forma, Saldanha entrega o morango junto ao cartão para os clientes que estão sem dinheiro em espécie ou que não teriam tempo para fazer o pagamento via maquininha de cartão de crédito ou débito, confiando que eles farão o pagamento em seguida.

Eu sentia necessidade de fazer mais, achava que podia estar mais perto do cliente. Foi quando tive a ideia de fazer um cartão estilo cartão de visita, com meu nome, chave do PIX, PicPay”, explica o vendedor. “Eu trabalho há mais de 10 anos naquela esquina, já conheço, tenho público-alvo. Se a pessoa vem, conversa comigo, eu vejo que não vai dar tempo de passar o cartão ou a pessoa está sem dinheiro, eu dou o cartão e falo pra pessoa fazer a transferência depois”.

Até aqui, a iniciativa é um verdadeiro sucesso. Além de ter aumentado as vendas e o faturamento, ele está conquistando mais clientes, que gostaram da sua abordagem. Ontem, por exemplo, Eronildes Elaine Chiquito do Brasil, que mora no Parolin, atravessou a capital paranaense só para conhecer Saldanha e comprar seus morangos. Gostou e garante que logo voltará para comprar mais.

“O cartão dele fez sucesso. E olhe, é incrível o sentimento que a gente tem. É uma coisa gostosa de sentir que a pessoa confia em você, ele entregar o morango, deixar levar embora e pagar depois. Sentir a confiança no curitibano, no trabalhador honesto. Existe, a gente acha que não existe, mas existe. São pessoas honestas ajudando pessoas honestas”, comenta ela, que comprou quatro caixas de morango. “Com certeza [vou voltar]. Essas quatro caixinhas logo acabam e vou voltar lá, vou atravessar a cidade de novo [risos]. Muito bom o morango”.

‘Acredito que os bons são maioria esmagadora’

Há cerca de três meses ofertando aos clientes essas novas formas de pagamento, Diego Saldanha conta que, até ontem, apenas duas pessoas não haviam pago pelo morango que adquiriram. “É um número muito baixo. É uma jogada muito boa para um risco muito baixo. Estou vendendo mais e mais rápido”, celebra o empreendedor.

Entre os clientes, a iniciativa, embora tenha viralizado, ainda causa surpresa ou até mesmo espanto, como o próprio Saldanha define. “Eles ficam espantados por liberar uma caixa de fruta na hora para uma pessoa que não conhece. Alguns ainda dizem ‘mas você nem me conhece’. E eu respondo: ‘confio em você’. Acredito que os bons são maioria esmagadora, sabe’, afirma ele.

Para comprar morangos com Diego, basta procurá-lo no lado esquerdo da Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, na esquina com Rua Major Heitor Guimarães. Ele fica naquele ponto com seus morangos, geralmente, de terça a sábado, das 9 às 14 horas.

Ecobarreira do Rio Atuba e outros projetos: exemplo de cidadania

Esta não é a primeira vez que Diego Saldanha vira notícia aqui no Bem Paraná. Desde 2017, quando ele criou a Ecobarreira do Rio Atuba, em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), Saldanha já foi personagem de uma série de reportagens que contavam sobre seus feitos ambientais e sociais.

Com a Ecobarreira, por exemplo, já retirou toneladas de lixo do rio em cujas margens teve início a colonização de Curitiba, em 1659 – recentemente, inclusive, a iniciativa fui atualizada e passou a conseguir capturar mais itens na água, como bituca de cigarro, copo plástico e sacola.

Pouco depois da Ecobarreira, ele inaugurou o Museu do Lixo, espaço aberto para visitação onde guarda alguns dos itens que retira do rio histórico. Além disso, recentemente lançou o projeto “Cansei de Esperar”, que tenta impedir o lançamento de esgoto direto no rio Atuba com a instalação de fossas sépticas em residências que ainda não estão conectadas à rede de esgoto.