É inegável a limitação do modelo brasileiro de ajuste à crise revela imposta pelo incremento dos gastos públicos (primários e financeiros), em paralelo à deterioração das contas externas do país, ilustrada pelo retorno dos crescentes déficits em transações correntes do balanço de pagamentos – provocado pela redução da demanda e dos preços os produtos exportados, pelo encarecimento das importações, produzido pela apreciação do dólar -, com financiamento dificultado pela retração do crédito acoplada ao risco, aspectos não compensados pelos supostos benefícios da desvalorização do real sobre a rentabilidade das exportações.
A balança comercial brasileira encerrou 2008 com superávit de US$ 24,735 bilhões, bastante aquém do saldo positivo de US$ 40,032 bilhões de 2007, e o menor resultado desde 2002, quando o superávit foi de US$ 13,1 bilhões. As exportações somaram US$ 197,942 bilhões e as importações totalizaram US$ 173,207 bilhões, sendo ambos os resultados recordes. Já as exportações do agronegócio (36,3% do total) registraram o recorde de US$ 71,9 bilhões em 2008, 23% superior a 2007. O saldo da balança comercial do setor também contabilizou recorde de US$ 60 bilhões
O fluxo cambial brasileiro fechou o ano de 2008 com saldo negativo de US$ 983 milhões, contra resultado positivo de US$ 87,454 bilhões em 2007. Tratou-se da primeira evasão líquida de recursos do país desde 2002, quando a corrente foi negativa em quase US$ 13 bilhões, em razão das incertezas associadas ao ciclo eleitoral. Desta feita, a saída foi ocasionada pela escassez global de crédito, especialmente a partir do mês de setembro. Os resultados foram determinados pelas transações financeiras de (-US$ 48,883 bilhões), anulando o saldo positivo nas operações comerciais de US$ 47,9 bilhões.
Na verdade, a performance das contas externas em 2008 foi a pior em dez anos. Houve déficit de US$ 28,3 bilhões nas transações correntes, o maior desde 1998 (US$ 33,4 bilhões), marcado pelos efeitos da moratória russa, e o primeiro desde 2002. O saldo em transações correntes foi constituído pelo superávit da balança comercial (US$ 24,746 bilhões no ano), pelas transferências unilaterais (US$ 4,188 bilhões) e pelos serviços e rendas (-US$ 57,234 bilhões).
Tal desempenho precipitou, por parte do governo brasileiro, o lançamento, no mês de janeiro de 2009, de um conjunto de barreiras não tarifárias (licenças prévias) às importações de cerca de 3,0 mil itens que correspondem a cerca de 60,0% da pauta de compras externas do país. Na sequência, a medida foi revogada por determinação do Presidente da República, em atendimento a generalizadas pressões de segmentos empresariais. A melhora do desempenho a partir de abril ainda pode ser considerada tênue para ser projetada.



Gilmar Mendes Lourenço é Economista, Coordenador do Curso de Ciências Econômicas e Editor da Revista “Vitrine da Conjuntura” da FAE Centro Universitário. Ele escreve às Quartas-Feiras neste espaço.