LÚCIA MONTEIRO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Num salão com vista para a Torre Eiffel, um casal negocia o orçamento de sua festa de casamento. “Se tirarmos a borda branca das fotos, o preço diminui?”, pergunta a noiva, para desconcerto do cerimonialista de meia-idade. Presente no prólogo de “Assim É a Vida”, o diálogo, de humor corrosivo, sintetiza a aposta do filme: narrar o avesso da celebração, o ponto de vista daqueles que trabalham nela.
Assistiremos, nos minutos seguintes, à preparação de uma grande festa nas dependências de um castelo do século 17. No comando da equipe de funcionários atrapalhados está Max (Jean-Pierre Bacri), um organizador de casamentos já cansado do ofício.
Sexto longa-metragem de Eric Toledano e Olivier Nakache, o filme retoma elementos presentes em “Intocáveis” (2011) e “Samba” (2014), a começar pelo investimento em um elenco talentoso e multicultural. Se a França contemporânea é marcadamente multiétnica, parte do cinema francês ainda insiste em retratar famílias brancas encerradas em tradições “franco-françaises”. É digna de comemoração, nesse sentido, a opção por colocar na frente da cena trabalhadores de diferentes origens.
Eye Haïdara, que atuou em “Filme Socialismo” (2010), de Godard, brilha no papel da esquentada Adèle, assistente boca suja de Max. Seu principal desafeto é o DJ James (Gilles Lellouche): com ares de Andrea Bocelli, ele canta num italiano impreciso e consome toda a energia dos geradores, deixando os cozinheiros em apuros.
Max se desdobra para contornar imprevistos –como o prato principal, que estraga e intoxica os músicos da banda. É preciso, ainda, atender os desejos desmedidos de Pierre (Benjamin Lavernhe), noivo aristocrático e hipócrita. Entre outras coisas, ele exige que os garçons vistam-se de lacaios seiscentistas e sirvam os convidados sob pesadas perucas. A equipe obviamente se revolta.
É pena que, apesar do brilhantismo dos atores e do ritmo eletrizante, “Assim É a Vida” não consiga fugir de piadas prontas. Claro que o fotógrafo se entope de canapés. E que o penteado da mãe do noivo é confundido com uma peruca de garçom.
Evidentemente, o ânimo e a graça “natural” dos estrangeiros salvam a festa –​dois ajudantes de Max, vindos do Sri Lanka e trabalhando na informalidade, revelam-se exímios percussionistas. O casamento, ao que parece, será um sucesso.

ASSIM É A VIDA
(Le Sens de la Fête)
DIREÇÃO Eric Toledano e Olivier Nakache
PRODUÇÃO França, 2017. 117 min. 12 anos.
ELENCO Jean-Pierre Bacri, Gilles Lellouche e Eye Haidara
AVALIAÇÃO bom