“Houston, we’ve had a problem”. A frase ( Houston, nós temos um problema!) do astronauta chefe da nave Apollo 13 para seu comando geral, informando sobre problemas sérios tanto para continuar a missão, quanto pra voltar à terra, foi o que teve em mente o galerista Marco Mello, na hora de fazer a curadoria da nova exposição, que abre sábado na Casa da Imagem. Expõem Cleverson Oliveira, Cleverson Salvaro, Fernando Burjato, Gabriele Gomes, Juliana Stein, Juliana Burigo, Livia Piantavini, Lilian Gassen, Tatiana Stropp, Tony Camargo e William Machado. “É uma mostra super importante porque procuro mostrar a produção mais jovem da cidade”, decreta, com conhecimento de causa, Mello, que divide a curadoria com Geraldo Leão.  Os “jovens” não o são tanto a ponto de serem desconhecidos – já têm repercussão nacional e internacional de suas criações; estão na faixa de 20 e poucos anos. E são mesmo uma ponta do que de mais interessante se produz aqui. E, ao que tudo indica são perfeitos para a teoria que norteia as intenções do curador.

“O nome não é acaso. Para mim Apollo 13 é uma das coisas mais emblemáticas, porque a nave de número 11 foi pra lua, deu tudo certo, teve mídia e tal. Para a 13 já não havia o mesmo apelo. Em teoria, estava tudo certo, já descoberto.  Só que sem ter como voltar à terra foram obrigados a inventar uma possibilidade. Essa é a questão: é nos momentos de problema que  a arte, a filosofia e a ciência se desenvolvem; quando temos que superar uma condição, encontrar uma outra solução”, diz. Ele projeta esse conceito para a arte contemporânea de maneira interessante.  “Parto da ideia de que o desenvolvimento dos saberes parte dessa necessidade. Neste sentido, quis uma exposição com palestras também, para interrogar: qual o problema da pintura, da filosofia?”.

Convidou 11 artistas para, a partir de suas obras, levantar essas conversas, que ocorrerão ao longo do mês.  “Vamos  falar dos problemas que movem os trabalhos deles pra entender o que move a produção”. Mello nota que hoje em dia, o normal é partir da solução. “A condição da arte contemporânea é a mesma da Apollo 13. Temos muitos espaços, sabemos onde chegar, temos  mercado de arte, a situação no geral é boa, está toda sob controle. Mas, o grande problema é tentar fazer arte. Porque colocar um objeto dentro de uma galeria é fácil. O problema é: dentro dessas condições onde tudo é possível conseguir ter alguma possibilidade, ainda. Vivemos uma situação da impossibilidade dada pela possibilidade plena. Fizemos a prisão da possibilidade”, argumenta. “Não basta um sujeito por algo numa galeria pra que seja arte. O artista não lida com situações visíveis, mas de vidência; com a possibilidade de construir algo que ainda não se fez ver”, complementa ele que, embora produza, não considera o que faz arte, mas um exercício – e destrói tudo que faz.

Resultados — Ao ver os trabalhos, Mello se surpreendeu. Observando agora, com quase todas as  paredes ocupadas, nota que praticamente todos discutem a pintura. “Através da fotografia, da escultura, da pintura mesmo; lidando com várias situações distintas de várias formas”, diz . “Em cada trabalho, a percepção de como este sujeito pensa a possibilidade de fazer arte num ambiente onde tudo se tornou possivel”.  É, mas não basta misturar foto com pintura. “Tem que parar com isso. Isso é solução, não o problema. É o que digo: atualmente,  as pessoas já estabelecem os campos da arte mais com as “soluções” do que preocupadas com o problema e fica tudo com cara de design”.
Dois bons exemplos do que se refere Melo são os traballhos de Tony Camargo e William Machado,  com os quais o visitante vai se deparar logo na entrada da mostra.  Ambos surgiram no grupo Pipoca Rosa – como vários outros que estão no certame. Tony trabalha com fotografia e William, com tintas e máscaras, criando formas que vazam da tela, criando uma dimensão que escapa da planaridade, característica da pintura, como observa Mello. “A tinta que vaza para a lateral do quadro, que poderia ser um erro, só reforça a força poética. Já o Tony é o contrário. Existe uma precisão nos cortes, nas faixas, nada vaza”, observa.
Mas a inquietação que os move é a mesma. Aliás, o trunfo dessa geração me parece ser o fato de que eles se desafiam e com isso nos desafiam também, e conseguem com que a gente fique com alguma coisa martelando. “ As obras do Tony não são mera mistura de foto com pintura. Os acontecimentos fotográficos dele constroem uma narrativa, porque jogam o olhar, o movimento para fora do quadro”.  
O curador chama atenção para outro fato: é um certame só com artistas da cidade. O que, para ele, mostra o meio curitibano  numa potência mais intensa que em outras épocas, quando eram 2 ou três em destaque por vez.  “Essa geração se provoca, de olho no que o outro faz. Um faz um gesto, o outro fica incomodado e quer fazer melhor, estabelece-se uma conversa que os estimula, os instiga e que são cheias de significações”, observa.  “Para mim isso é um posicionamenteo afirmativo. Alguns até têm uma certa timidez em seus jeitos de ser, mas são afirmativos, não aquela coisa meio escondida, insegura sobre o que estão fazendo. É uma geração qie não quer baixar a voz, que quer enfrentar os objetos; enfrentar a geladeira, o carro. Se a geladeira é vermelha é como se eles dissessem: ok, mais eu posso ser mais vermelho ainda”, comenta.

Serviço
Houston, we’ve had a problem. Abertura dia 04 às 10h. Até 08/08.  Galeria Casa da Imagem (R. Dr. Faivre, 591). Com:
Cleverson Oliveira, Cleverson Salvaro, Fernando Burjato, Gabriele Gomes, Juliana Stein, Juliana Burigo, Livia Piantavini, Lilian Gassen, Tatiana Stropp, Tony Camargo e William Machado