Agência Estado – As pessoas o criticam muito por produzir diversos estilos de som como rock, sertanejo, boy band…
Rick Bonadio – Sou muito criticado, mas não estou nem aí. Não tenho preconceito porque não sou artista, que é de quem você deve cobrar coerência Eu sou um profissional. A minha carreira funciona de acordo com a quantidade de discos que eu vendo. E todos os artistas novos me procuram.
Você disse certa vez que jornalista não entende nada de música. Continua pensando assim?
A maioria não entende mesmo. As grandes cabeças saíram da crítica musical, pois a música perdeu seu charme com a crise. E metade dos críticos de música tem banda. É o cara recalcado, que nunca foi contratado. O cara tem inveja e desce o pau em quem faz sucesso.
Essa crítica te preocupa?
Nada. Se falar bem, aí sim eu fico ressabiado. Se falar mal é quando sinto que está tudo certo.
Voltando no tempo, você quase esteve no avião dos Mamonas Assassinas quando eles sofreram o acidente fatal, não?
Eles decidiram que queriam ir a Brasília de jatinho para voltar logo pra Guarulhos. Decidi ficar em casa descansando e não embarquei.
Eles teriam uma longa carreira depois do primeiro disco?
Acho que teriam armas para se adaptar a novas situações. O Dinho, por exemplo, poderia ir para a TV, era um ótimo comunicador.
Como foi o seu início na música?
Estudei música clássica, regência, entrei na USP, mas queria fuçar em estúdios. Minha mãe era costureira e professora de piano e quando fiz 16 anos me emprestou US$ 5 mil para eu abrir um estúdio no quintal de casa. Montei uma dupla de rap no início dos anos 80, Rick e Nando. Todo mundo pensava que era uma dupla sertaneja (risos). Imagina tocar rap nessa época. Mas foi assim que conheci o (o produtor e jurado de Astros) Arnaldo Saccomani. Foi aí que comecei a produzir.
Nesse começo, você produziu a dupla de palhaços Atchim e Espirro Como alguém que veio do rap foi produzir dois palhaços?
Eu não era preto e não vivia na galeria no centro da cidade. Gostava era da música. A ideia do Atchim e Espirro era fazer uma coisa mais eletrônica, com umas baterias mais programadas. Modernizamos o Atchim e Espirro.
Aí pintou o Mamonas.
Eu gravei o primeiro disco do Mamonas, o Utopia. Um dia o Dinho apareceu no meu estúdio e gravou Pelados em Santos e Robocop Gay com uma cara bem brega, tipo Reginaldo Rossi. Ele queria usar as músicas em um churrasco, mas eu falei que se misturássemos aquilo com rock daria pé.
E você produziu junto ao Rafael Ramos o primeiro disco do Los Hermanos. Gostaria de voltar a trabalhar com eles?
Nunca. Los Hermanos é insuportável. A banda mais chata que eu já ouvi na minha vida. Naquele primeiro disco que eu produzi eles não eram. Depois piraram.
Mas o que aconteceu?
Eles têm talento, mas uma visão que não tem nada a ver com a minha. São muito pretensiosos. Acham que são muito mais talentosos do que são. Eles renegam Anna Julia, mas se não fosse por essa música não estavam aí. Quem renega o que já fez na vida, comigo não vai funcionar.
Mas o sucesso tem limite? Você pode usar de qualquer artifício para alcançar o topo?
Os críticos acham isso de mim, mas eu não penso assim. O objetivo de qualquer artista é fazer sucesso. E dentro de cada artista você pode encontrar uma “Anna Julia” em meio a um bolo de um monte de músicas que não farão sucesso. Por que não usar?
Existe uma falta de mão de obra de produtores no Brasil?
Da safra dos produtores, talvez eu tenha sido o último a entrar no time dos grandes. O maior problema é que ninguém quer ser produtor, todo mundo só quer ser artista. E eles estão certos. Eu não sou só produtor, sou empresário, toco, componho músicas, faço televisão, eu faço o que vier.

“Ele é difícil porque sabe muito bem o que quer”

Você foi o pioneiro no Brasil em assinar com um artista um contrato que englobasse o disco, shows e venda de músicas pela internet e telefone. Como teve essa ideia?
Não sei se fui o primeiro, mas sei que fui o primeiro a dar certo. Em 2001 abri a (gravadora) Arsenal e assinei com o CPM 22 Eu já tinha sido empresário do Mamonas, era produtor de várias bandas, já havia trabalhado em gravadora. Saí da Virgin em 2000 para abrir uma gravadora que fosse empresa de shows, editora de músicas, que fosse tudo. A minha intenção foi sempre ter mais agilidade com o artista, sem ter de passar por todas a burocracia que atrasa a indústria da música.
E agora você está com os Titãs.
Cresci ouvindo o disco deles e sempre deixei claro que os considero a maior banda de rock do Brasil. Era um sonho produzi-los.
Mas tem como tirar algo novo de uma banda que está prestes a completar 30 anos?
Eles têm um talento inesgotável. Eu não quero fazer mais um disco dos Titãs, não quero que seja igual aos outros. Acabei propondo um lance eletrônico e eles aceitaram imediatamente, mexi nas bases. Tem música que não tem bateria, músicas com vários elementos eletrônicos. É um exemplo de como saber amadurecer e ainda manter essa consciência profissional. Eles são éticos com o som deles, mas não são burros.
Você agora está com o Luciano Huck, de volta à televisão.
Tenho um quadro chamado Olha a Minha Banda, que lapida uma banda dentro de um estúdio. Gravo uma música da banda vencedora e ela acaba tocando no programa do Luciano. Me convidaram pra fazer uma vez por mês. Em uma semana tivemos 5 mil bandas escritas. Depois do carnaval, o quadro volta.
Você vai voltar a trabalhar com o Charlie Brown Jr. O Chorão é um cara muito difícil?
É muito. Ele é difícil porque sabe muito bem o que quer. Tão difícil como qualquer outro artista. O Chorão fala na sua cara o que está pensando. É muito melhor ser assim do que ser falso.

Para finalizar, O CD vai morrer quando?
Para os artistas mais antigos, o CD ainda representa 70% do faturamento. Uma dupla sertaneja, por exemplo, tem um público que ainda não se adaptou às novas formas de comercialização digital, por telefone celular. Mas acredito que daqui uns cinco anos, o CD vai se tornar algo desnecessário. Todo artista vai poder lançar uma ou duas músicas digitalmente em vez de um álbum completo.