Uma reportagem do programa Custe o que Custar (CQC), exibido em rede nacional pela TV Bandeirantes (Band), provocou ontem a fúria no governador Roberto Requião (PMDB), durante a “escolinha de governo”, transmitida pela Rádio e Televisão Educativa (RTVE). A matéria mostrou o uso político da distribuição de ônibus para transporte escolar – estacionados em frente ao Palácio Iguaçu – aos municípios do Estado, revelando que os mesmos são entregues não seguindo critérios técnicos, mas preferencialmente em datas festivas, com a presença do governador. Ao mesmo tempo, o CQC mostrou casos de prefeituras onde os estudantes seguem enfrentando más condições de transporte, enquanto aguardam a entrega dos veículos.
O repórter do programa, Rafinha Bastos, questionou a secretária estadual da Educação,  Yvelise Arcoverde, que alegou problemas burocráticos para a demora na entrega dos veículos. Requião, por sua vez, reagiu classificando a reportagem de “canalhice” e a “pilantragem”, e atacando o presidente da TV Bandeirantes, Johnny Saad. “Ele já foi meu amigo, mas hoje tenho que dizer que é dono de uma máquina enganosa. Tua rede não é séria. A intenção foi desmoralizar o melhor programa de entrega de veículos escolares do Brasil. Melhor não, o único”, disse Requião, que depois insinuou que a reportagem foi feita “por encomenda”.
Em resposta, o jornalista Marcelo Tas, apresentador do programa, aproveitou, de novo para ironizar: “depois de Sarney (o presidente do Senado), fomos chamados de “cachorros por Roberto Requião. É muita homenagem numa semana só”, brincou.
Requião justificou que aguarda a formalização do seguro dos veículos pelos prefeitos, e a documentação de Departamento Estadual de Trânsito (Detran).
Ao desqualificar a emissora, Requião insinuou que a reportagem foi feita “por encomenda (ver matéria nesta página)” de um deputado do PPS, Douglas Fabrício. Na matéria, a secretária da Educação do Paraná, Yvelise Arco-Verde, deu as mesmas justificativas repetidos na “escolinha” por Requião: “até o final de setembro, os ônibus serão todos entregues”. Já o governador disse que o investimento do governo paranaense em transporte escolar subiu de R$ 17 milhões para R$ 180 milhões anuais, sem citar que neste montante está embutido verbas federais.
O CQC mostrou que a entrega dos ônibus só acontecem em datas comemorativas, insinuando que a distribuição teria objetivo de promover o governador. Na semana passada, por exemplo, Requião fez a entrega dos veículos para prefeitos durante a Festa do Carneiro no Buraco, deixando os ônibus expostos durante todo o evento que durou uma semana. Segundo a Prefeitura de Campo Mourão, 200 mil pessoas compareceram à festa. No aniversário dos municípios de Lapa e de Piên, na Região Metropolitana de Curitiba, o governador também aproveitou os shows comemorativos para entregar os ônibus escolares. No Dia da Mulher, Requião fez o mesmo: chamou as prefeitas paranaenses e disse que “esses (os ônibus) são os presentes do governo para vocês neste dia”.
Na reportagem, a secretária da Educação confirmou, ao dizer que comprar ônibus e entregar aos municípios não seria uma obrigação do governo, mas sim dos municípios. “São um presente do governador aos paranaenses”, disse ela na reportagem.