Recebi um telefonema da Suely Deschermayer a respeito de um texto sobre Poty, pois no Museu Oscar Niemeyer está sendo montada uma exposição sobre o mais característico artista paranaense. Em minha opinião, ele foi o único artista na história da arte do Paraná que conseguiu elaborar uma linguagem própria e marcante que, além de sua total originalidade, reflete – de alguma maneira – um aspecto definitivamente brasileiro.

Descendente de italianos, Napoleon Potyguara Lazzarotto nasceu em 29 de março de 1924, em Curitiba, o que lhe confere mais um item de ligação com nossa terra, porque exatamente neste dia e mês do longínquo ano de 1693 o povoado de Curitiba foi elevada a Vila, pelo então Capitão-povoador Mateus Martins Leme.

No restaurante dos seus pais: “Vagão do Armistício”, freqüentado pela intelectualidade paranaense, o interventor Manoel Ribas reconhece o talento do jovem Poty e lhe concede uma bolsa de estudos no Rio de Janeiro.
Cursando a Escola Nacional de Belas Artes, Poty obtém Medalha de Bronze em Pintura no Salão Nacional, em 1942.
Com seu interesse logo despertado para a gravura, que vai ser uma constante em sua carreira, matricula-se no Liceu de Artes e Ofícios passando a receber orientação do mestre Carlos Oswald. Em 1943 faz sua primeira exposição de gravuras no Salão do Diretório Acadêmico de Belas Artes no Rio de Janeiro e, no ano seguinte começa a ilustrar contos e crônicas na “Folha Carioca”. Também faz ilustrações para a revista paranaense “Joaquim”, editada por Dalton Trevisan, entre os anos 1946 e 48 em Curitiba e para obras literárias de importantes escritores brasileiros, entre os quais: Guimarães Rosa, Dinah Silveira de Queiroz, Jorge Amado, Euclides da Cunha e José de Alencar.   

 Mais tarde, como bolsista do governo francês, Poty freqüenta a “École de Beaux Arts” em Paris, cursando Litografia e viajando pela França, Espanha e Itália. No seu retorno ao Brasil, funda a “Escola Livre de Artes Plásticas” em São Paulo e começa a trabalhar nos “Diários Associados” e no jornal “Manhã”, dirigido por Samuel Weiner. Nessa época, já consagrado como um dos pioneiros da gravura brasileira, Poty organiza o “Curso de Gravura” em Curitiba, São Paulo, Salvador e Recife, num grande trabalho de divulgação e aperfeiçoamento desta técnica. E é com gravura que ele participa das três primeiras – como eram chamadas – Bienais de Arte Moderna de São Paulo, de 1951 a 1955.

Também nos anos cinqüenta, Poty começa a se especializar em murais, tornando-se destaque na difícil arte do registro artístico de fatos cívicos, acontecimentos nacionais e aspectos da vida econômica e social, ao criar um verdadeiro arquivo visual da história e da evolução tecnológica do homem. São de sua autoria inúmeros painéis e murais em edifícios públicos e particulares do país e até na França, onde Poty executa, em madeira gravada, o mural para a Casa do Brasil.

Desta produção, destacam-se em Curitiba: “Monumento Comemorativo ao 1º Centenário da Emancipação Política de Estado do Paraná” na Praça 19 de Dezembro; “São Francisco” e “Paraná” no Palácio Iguaçú; “Assembléia” e “Símbolos do Paraná” na Assembléia Legislativa do Paraná; “O Trabalho Humano e a Evolução Tecnológica” no Centro Politécnico da UFPR; “Evolução das Artes Cênicas” e a cortina corta-fogo do Teatro Guaíra; “Desenvolvimento de Curitiba” na Praça 29 de Março; o mural “Quatro Estações” no Hotel Paraná Suíte, que toma toda a fachada do prédio, totalizando 37,5m de altura por 10m de largura; “Cultura e Memória” no Palácio Avenida e o mural do Clube Curitibano; além do “Monumento ao Tropeiro” na Lapa. A estes se somam os magníficos murais internos do Memorial Latino Americano, na cidade de São Paulo.

Em 1955, casa-se com Célia Neves Lazzarotto, união que nasceu de uma encomenda mandada por amigos brasileiros que Poty levou para ela quando foi a Paris, em 1946. Ao longo de anos de convivência, o casal reúne, ora comprando, ora em permuta, ora recebendo como presente, um magnífico acervo de obras de arte. Esta coleção, após a morte de Célia em 1985, foi doada ao Acervo da Prefeitura Municipal de Curitiba, e motivou a criação da “Sala Célia Neves Lazzarotto” do Museu Metropolitano de Arte de Curitiba, em homenagem ao desprendimento do casal.
Poty faleceu em sete de maio de 1998, em Curitiba.