Depois de dois anos de férias, a apresentadora e jornalista Glória Maria está pronta para voltar à Globo em janeiro. Mas não está nada entusiasmada. O motivo são as duas filhas adotivas – Maria, de 1 ano e 6 meses, e Laura, de 7 meses – cujas guardas ela obteve há apenas três semanas na Justiça. Em entrevista à reportagem, por telefone, da Bahia, Glória falou sem medo sobre sua vida pessoal, suas supostas intrigas e seus privilégios na emissora, e sobre a invejável forma física. “Tenho orgulho de dizer que nunca fiz plástica ou coloquei botox”, diz Glória, que se recusa a falar a idade. “Mas também parei de beber aos 14 anos e de fumar aos 22.” A jornalista ainda adiantou que pretende gravar um CD – talvez com músicas da Xuxa – e lançar um livro, no qual vai falar sobre “a grandeza e a podridão” da alma humana.
Agência Estado — Está pronta para voltar à TV?
Glória Maria — Estou sempre pronta. Há 35 anos fazendo isso, tenho de estar. Mas não estou entusiasmada.
AE — Por quê?
Glória — Porque no momento o meu foco são minhas duas filhas. Mas preciso trabalhar para viver. O trabalho, que antes ocupava 90% do meu tempo, se Deus quiser agora vai ocupar 30%.
AE — Por que não se aposentou?
Glória — Não posso me aposentar cheia de energia. Não tenho tempo nem idade para isso. Se eu não tivesse as meninas, estaria animadérrima. Tenho contrato com a Globo até 2016. Eles foram corretíssimos comigo e o mínimo que tenho de fazer agora é voltar e retribuir.
AE — Mas não é todo mundo que consegue esse tipo de férias na Globo
Glória — Acho que ninguém consegue. Por isso foi um espanto. É muito difícil acreditarem que alguém possa abrir mão de um programa como o ‘Fantástico’ e pedir dois anos sabáticos. As pessoas têm muita necessidade de estar no ar. Eu não. Foram dez anos apresentando o ‘Fantástico’. Desde que entrei na Globo, aos 16, nunca parei de trabalhar. Tirava férias a cada dois anos Eu dediquei minha vida inteiramente à Globo.
AE — Seria então inviável aceitar o convite de uma outra emissora?
Glória — Não. Nada é inviável na vida. Só não aceitei propostas porque tenho contrato com a Globo.
AE — Quem te procurou?
Glória — Prefiro não falar. Recebi proposta de duas. Mas tinha contrato até 2012. Agora, é até 2016, porque renovamos. Como poderia negociar com outra emissora? Não seria honesto. Sou muito respeitada lá.
AE — Quando saiu, disseram que você tinha brigado com a equipe.
Glória — Eu me lembro de vários boatos como esse. Inventaram que eu estava velha, tinha brigado. Não ligo. Sei que as pessoas são maldosas, invejosas e não aceitam que alguém consiga dois anos sabáticos. Sabia que isso teria um preço, e foram os boatos. Agora dizem que vou apresentar o ‘Fantástico’.
AE — Se não vai ser o “Fantástico”, será o “Jornal Nacional”?
Glória — Não. Sou essencialmente uma repórter e não abriria mão por nada.
AE — Então você não teria problema de ficar só na reportagem do “Fantástico”, por exemplo, e ter Patrícia Poeta como apresentadora?
Glória — Não. Já percorri um caminho tão maravilhoso que nada me incomoda, a não ser que me colocassem de secretária da redação do ‘Fantástico’. A única coisa que não quero é um programa que eu tenha a obrigação de gravar toda semana. Quero uma coisa mais relax. Mas quem decide é a Globo.
AE — Mas você tem suas exigências para trabalhar?
Glória — Sim. Aos finais de semana, não trabalho. Tem um tempo na vida que você para de trabalhar final de semana. Isso é para todo mundo, a não ser que você seja apresentador. Mas há mais de 25 anos eu sou repórter especial e tenho um tratamento diferenciado.
AE — Que tipo de tratamento?
Glória — A gente faz matérias especiais que envolvem viagem, uma pesquisa maior. A rotina é diferente.
AE — Como telespectadora, como avalia o trabalho de Patrícia Poeta?
Glória — A única coisa que não fiquei nesse tempo foi como telespectadora. Hoje, só vejo DVD de desenho.
AE — Então nem viu a Patrícia Poeta?
Glória — Claro que vi. Se nesses dois anos eu não a tivesse visto, poderia dizer que eu estava biruta. Acho que ela está ótima, tomara que continue por muitos anos ainda. O programa está ótimo.
AE — Mas o “Fantástico” está investindo no entretenimento e despencando no Ibope.
Glória— Tem um monte de gente que ganha para se preocupar com a audiência. Coincidência ou não, com a minha saída, não sei. Não tenho tempo para pensar nisso.
AE — Em nenhum momento a Globo a convidou para tentar retomar audiência do “Fantástico”?
Glória — Não posso falar. Esse tipo de coisa eles têm de falar. O que posso te dizer é que nos últimos quatro meses tenho me reunido com o jornalismo para decidir minha volta.
AE — Se de fato você voltar para o “Fantástico”, para apresentar, terá de encarar as inserções do “Big Brother Brasil” na atração.
Glória — Complicado, não é? Não gosto desses formatos. A única coisa que gosto do ‘Big Brother Brasil’ é o Pedro Bial. Adoro. Acho ele o máximo.
AE — Mas após sua saída, disseram que vocês estavam brigados…
Glória — Para você ver como são os boatos.Tudo tão absurdo e as pessoas não perceberam que eu saí em dezembro, e ele estava apresentando o ‘Big Brother’. Ele não voltou mais. Se a gente fosse mesmo inimigo, era o momento de ele continuar no programa. Somos amigos e parceiros. Tudo isso é mito.
AE – E aquela história sobre o presidente Tancredo Neves? Você teria presenciado o momento em que ele teria levado um tiro, em 1985, quando iria entrevistá-lo em Brasília?
Glória — Isso é uma coisa absurda que não consigo entender. Na época em que ficou doente, eu apresentava o ‘RJ TV’, o jornal das sete, e quando começou a agonia do presidente, a Globo decidiu que eu não iria para São Paulo entrevistá-lo porque estava à frente do jornal. Aí surgiram os boatos. Fiz várias entrevistas com o Tancredo, mas antes.
AE — Você não o viu levando o tiro?
Glória — Olha, minha filha, essa é uma história da qual não consigo me livrar. Isso realmente é um mito.
AE — Mas depois da morte dele, você ficou fora do País.
Glória — Essa é mais uma birutice. Nunca fiquei fora do País. Coincidentemente, comecei a fazer reportagens para o ‘Fantástico’ porque pedi para sair do ‘Jornal Nacional’. Estava cansada. Viajava direto. Por isso disseram que eu estava fora.
AE — Verdade que você queria ser a apresentadora Oprah Winfrey?
Glória Maria — Quando me perguntam se me acho a Oprah brasileira, digo que acho a Oprah a Glória Maria americana. Eu a admiro demais, e quem dera ter um pouquinho do poder e da grana que ela tem. Mas não me sinto a Oprah até porque ela está saindo do ar. Não quero ficar por trás das câmeras. Se eu tiver esse rumo, digo bye bye.
AE – Como veio a ideia das filhas?
Glória — Nesses dois anos, queria escrever um livro, gravar um disco e fazer um trabalho voluntário com crianças. Passei dois meses na África trabalhando com crianças. Na volta, quis fazer algo no Brasil e vim à Bahia. Visitava abrigos todos os dias. Em um deles, conheci minhas filhas. Nunca pensei em adotar, mas elas me escolheram. Recentemente, consegui a adoção definitiva. Tenho muitos planos com elas.
AE — E do livro, desistiu?
Glória — Não. Por conta das duas, eu atrasei o projeto um pouco. Adiei para o segundo semestre de 2010.
AE — É mais um livro de viagens?
Glória — Não. É um livro que fala de sentimentos, das coisas que vivi e aprendi nesses anos de jornalismo correndo o mundo. Quero mostrar um pouco da alma humana com toda sua grandeza e podridão. Quero mostrar alguns sentimentos que vivi: inveja, ciúme, amor, traição.
AE —Já foi traída?
Glória — Lógico que já. Quem não foi? Mas nunca me preocupei com isso.
AE — Agora está solteira?
Glória — Sim.
AE —Quer viver um grande amor?
Glória — Eu sou romântica, já vivi tantos amores. Mas nunca corri atrás nem esperei. Se rolar, rolou.
AE — Hoje, você pode dizer que é uma pessoa tranquila com dinheiro?
Glória — Imagina (risos). Preciso trabalhar muito para sustentar essas meninas. Sou tranquila porque não acumulo nada. Sempre ganhei e dei. Nasci muito pobre. Fui feliz na infância, sem dinheiro. E nunca o coloquei como foco na minha vida.
AE— Passou fome?
Glória — Nunca. Meu pai era alfaiate e fazia nossas roupas. Até hoje não tomo refrigerante porque não havia dinheiro A gente tomava suco das frutas do nosso quintal. Pelo menos é saudável e para alguma coisa a pobreza serviu.
AE — E quando era pequena, também tinha vontade de cantar?
Glória — Um pouco. Por isso veio a ideia do disco. Por enquanto, está adiado. Com elas, só canto Xuxa porque é o que elas gostam mais.
AE — Vai gravar canções da Xuxa?
Glória — Até gravaria. Vou pensar nisso.
AE — Mas o que quer mesmo gravar?
Glória — Samba, bossa nova e rock. Eu até estava vendo repertório, mas não tive o que fazer. Eu parei tudo por essas meninas.
Entrevista