No final do ano de 2009 apareceram dois livros que vieram a preencher várias lacunas relativas à arquitetura em Curitiba. Publicados pela mesma editora, a “Travessa dos Editores”, e dentro da Coleção A Capital, mal os livros foram lançados já se tornaram indispensáveis para todos aqueles que estudam, curtem, pesquisam ou simplesmente se interessam por este ramo do saber que é a coluna dorsal da civilização.

Sim, porque sem as edificações onde estaríamos?  Certamente na idade da pedra, se bem que neste assunto minha posição ultrapassa a lenta arqueologia e sempre acreditei que nunca o homem deixou de construir e que as poucas vezes em que morou nas cavernas foi obrigado a esta escolha por graves contingências que ultrapassavam as vicissitudes normais da sua existência. Assistam o filme “2012” e tirem suas conclusões.

Aliás, em 1950, o cientista Immanuel Velikovsky já dizia isso em seus livros e o conhecimento acadêmico da época riu de seus estudos até que a NASA o homenageou, pois à medida que a exploração espacial avançava todas as suas afirmativas foram sendo confirmadas. E, surpreendentemente, estas assertivas eram relativas às temperaturas, composições físicas e químicas dos planetas solares e do próprio Sol que o cientista – isolado da ciência oficial – tinha deduzido de suas pesquisas.  No Brasil, foram publicados pela Editora “Melhoramentos” dois de seus livros: “Mundos em Colisão” e “Terra em Ebulição”. Neste momento propício em que discutem possíveis paroxismos de nosso planeta e o cinema já os explora como tema principal, fica aqui uma sugestão à “Melhoramentos”: a de lançar novas edições destes livros disputadíssimos nos sebos, já que não foram mais reimpressos aqui. Para os interessados, eles são encontrados em inglês facilmente na web, mais especificamente no Google, bastando digitar os nomes dos autores, pois são publicados nos EUA.Voltando à nossa arquitetura, os dois livros que marcaram o final do ano são dos pesquisadores curitibanos Marcelo Sutil e Salvador Gnoato. A obra de Marcelo Sutil, intitulada “O ESPELHO E A MIRAGEM – Ecletismo, Moradia e Modernidade na Curitiba do Início do Século 20”, supre uma ausência que era sentida até aqui pela falta de um documento maior que registrasse o passado arquitetônico de nossa cidade.Comprovando um aspecto que venho dizendo há anos, Curitiba nasceu pobre e assim continuou por muito tempo: do garimpo do Arraial do Atuba, depois Vila de Nossa Senhora da Luz e do Bom Jesus dos Pinhais de Curitiba, parte integrante da Província de São Paulo, aqui se desconhecia a vida de corte das capitais dos reinos de D. João VI e D. Pedro I. Permanecendo na economia de subsistência, apesar dos ciclos da extração do ouro e dos tropeiros no Paraná, somente na segunda metade do século 19, com a erva-mate, foi que a cidade passou a ostentar uma riqueza incipiente.

Possuímos raros casarões iguais aos que sobreviveram em outras cidades brasileiras e este não é o caso de progresso demolindo edifícios; não os temos porque não foram construídos. Foi só nos anos 1880, quando da promessa da construção da ferrovia Paranaguá-Curitiba, que finalmente recebemos uma visita de um imperador, o liberal D. Pedro II, que não pode ser considerado um monarca nos moldes tradicionais da realeza. O despertar da cidade teve lugar a partir desta obra maior da engenharia brasileira, que viria substituir o precário transporte através da Serra do Mar. Digo Paranaguá-Curitiba porque naquele tempo a cidade litorânea era muito mais importante que Curitiba.Assim, Curitiba passa a desenvolver uma linguagem eclética em edificações que tem o direito de ser registrada. Até porque pouquíssimas foram preservadas, a grande maioria foi reformada, principalmente nos anos 1960/70, e teve aplainada a ornamentação das fachadas, vindo a descaracterizar totalmente sua origem mais antiga. O livro de Marcelo Sutil nos traz de volta esta atmosfera perdida e agora recuperada através de extensa pesquisa, tendo o pesquisador recorrido a plantas e fotos das construções. Nesta verdadeira enciclopédia que estuda as diferenças entre o espaço público e o privado, e que entra pelo interior das casas e na privacidade das famílias, três entidades se confrontam no espaço urbano: o construtor, o morador e o meio. Estes três tópicos se digladiam no alvorecer da urbanização e da higienização das moradias e nas palavras do autor: “A cidade realizada pela cultura eclética foi uma cidade de contradições – mas exatamente por causa delas, muito rica e interessante”. O livro de Salvador Gnoato é intitulado “ARQUITETURA DO MOVIMENTO MODERNO EM CURITIBA”, e sobre ele falarei na próxima coluna.