Concebida como a solução para o trânsito de Curitiba e para unir a cidade historicamente separada pela BR-116 (agora BR-476), a Linha Verde transformou-se num grande problema para o curitibano. Feita pela metade e sem as obras de viadutos e trincheiras no setor sul, a nova via está repleta de sinaleiros e obstáculos que dificultam o trânsito de veículos, pedestres e ciclistas. Se já há problemas em qualquer horário do dia, no rush ele literalmente para.
Para o presidente do Sindicato dos Engenheiros do Paraná (Senge-PR), Valter Fanini, o problema da Linha Verde começa na definição de sua função. Ele afirma que todos os modais de transporte foram colocados numa mesma via, que não teve estudo prévio para ser desenhada. O resultado é a sobrecarga viária com tráfego de ônibus, veículos e caminhões de cargas urbanas. Pedestres e ciclistas disputam espaço com o trânsito pesado, em uma mistura classificada pelo engenheiro civil como fatal. Não se pode querer jogar todas as funções numa via só. Nada vai funcionar corretamente, criticou.

No Pinheirinho, onde começa a Linha Verde, os pedestres enfrentam uma verdadeira aventura para conseguir atravessar as seis faixas de pista da avenida. Próximo ao terminal do bairro — um dos maiores e mais utilizados da cidade — os pedestres que trabalham do outro lado da avenida sofrem para conseguir fazer a travessia. É o caso da auxiliar de produção Claudineia Cordeiro. Ela trabalha no lado oposto do terminal e precisa atravessar diariamente a avenida para pegar seu ônibus para ir até o Rio Bonito.
Perto das seis da tarde não se leva menos de 30 minutos para conseguir atravessar. É muito trânsito e os carros passam muito rápido. Para conseguirmos atravessar é só correndo, reclama Claudineia. Ela conta que já presenciou muitos acidentes naquela região. Já vi gente ser atropelada, foi terrível, relembra. O pior é quando a gente consegue atravessar uma faixa e fica no meio (no canteiro central) tentando cruzar a outra. O espaço é pequeno e são muitas pessoas tentado atravessar. Fica difícil até de se equilibrar, avalia a auxiliar de enfermagem. Ontem, em um flagrante, em apenas cinco minutos mais de trinta pessoas ficaram ilhadas naquele ponto.
Para tentar diminuir a velocidade dos carros e caminhões, a Prefeitura instalou um semáforo na região da Pluma. Porém, a solução não trouxe resultados esperados para os pedestres. Aquele sinaleiro não segura os carros, aquilo foi um engano, lamenta a auxiliar de enfermagem Eurides Policarpo, que trabalha na Vila Pompéia e pega carona até próximo o terminal do Pinheirinho. Ela diz que muitas vezes não consegue fazer a travessia em trinta minutos. Não tem como atravessar, os carros passam muito rápido e eu tenho que pedir a Deus para me proteger para eu conseguir atravessar a Linha Verde, afirma Eurides. Eu tento me acalmar antes de atravessar, porque eu tenho medo. Eu sei que se eu tropeçar ou cair, eu morro atropelada, conta.

A voz das duas pedestres faz uníssono para a urgência de uma solução. Se tivesse uma passarela aqui seria mais fácil, avalia Claudineia. Com uma passarela eu não teria tanto medo de atravessar, acrescenta Eurides. A Prefeitura iniciou apenas em julho deste ano uma passarela na avenida, na região do terminal do Pinheirinho. Entretanto, entre projetos de licitação e obra, a passarela deve estar pronta de fato apenas no ano que vem — se não ocorrerem atrasos assim como na implantação da avenida.
Função — O estudo prévio de demanda real e futura do tráfego é pré-requisito para toda obra viária, mas não foi realizado para a construção da Linha Verde, conforme disse Fanini, que foi coordenador do Programa de Integração de Transporte da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec). Se eles não conhecem a demanda da região, fazem a obra sem saber para o que ela vai servir. Então, misturam todos os tipos de tráfego e aparecem os problemas. Qual a função da Linha Verde? Seria um corredor viário, para caminhões de carga urbana, veículos, ônibus, pedestres ou ciclistas?, afirmou.

A poucos metros do terminal Pinheirinho mais um trecho com problemas. Os motoristas que transitam na marginal no sentido da Rua André Ferreira Barbosa se defrontam com uma placa de Pare. Entretanto, como a preferencial é para o trânsito da Linha Verde e as vias têm que se cruzar para o acesso à rua, há um perigo de acidente iminente no cruzamento. Uma solução para a diminuição de velocidade seria um radar para fazer com que os carros parassem, já que por uma questão de engenharia eles têm que se cruzar com o fluxo da pista principal.
A transformação pela qual passou a rodovia não excluiu um dos principais problemas de tráfego da região: os caminhões. Apesar da existência dos contornos na Região Metropolitana de Curitiba, os caminhoneiros continuam a cruzar a cidade pela Linha Verde, truncando mais ainda o trânsito.

Abandono — Na parte final da Linha Verde Sul, na região da PUC a sensação é de abandono. Obras não finalizadas se somam ao enorme fluxo de veículos. Ali, houve a construção da ponte sobre o Rio Belém para a implantação do binário entre a Avenida Senador Salgado Filho e a Rua Imaculada Conceição, mas não houve progresso no término da canaleta do transporte coletivo. Entre a PUC e o viaduto da BR-277, no Jardim Botânico, há vários trechos que as vias exclusivas não foram terminadas e não passa por ali nenhuma linha de biarticulado — nem há previsão de quando deve passar a circular.
A esperança era de que a Linha Verde atendesse à carência de sistema viário da região, mas isso não aconteceu. Jogaram dinheiro fora, argumenta Fanini.