Zelar pela alimentação é um componente importante do plano de cuidado com a saúde do diabético, que precisa ficar longe principalmente da tentação dos doces. Por isso, as unidades municipais de saúde Menonitas e Visitação, no Boqueirão, oferecem oficinas de culinária específicas para o segmento.

O objetivo é evitar a descompensação da doença – que se caracteriza pela deficiência do pâncreas em liberar a insulina necessária para a absorção do açúcar – e o acúmulo de gordura nos vasos sanguíneos, sem abrir mão do prazer de apreciar um prato fora da rotina de quem tem e precisa conviver com as restrições alimentares.

Os encontros acontecem uma vez por mês, nos Espaços Saúde das unidades. Na Menonitas, que acompanha 1,3 mil pacientes diabéticos e hipertensos, a reunião foi nesta quinta-feira (19). Nessas ocasiões, cerca de vinte participantes aprendem, na prática, a executar receitas de doces sem açúcar e com menos carboidratos que os alimentos comuns.

Enquanto a receita assa ou gela, eles são informados sobre o custo médio de cada item necessário à elaboração do prato e ouvem palestra sobre temas relacionados ao controle da doença. A reunião termina com a degustação da receita testada.

A dona-de-casa Vera Martins foi à primeira oficina, em julho, e gostou da proposta. “Agora achei os doces que eu posso comer, com critério sem medo de me fazer mal”, diz, entusiasmada com a receita de comporta de maçã sem açúcar que preparou várias vezes. “É ótimo. Dá para substituir por pêra também”, indica Vera, que dessa vez trouxe a sogra do filho, Helena Ribeiro, que também é diabética e hipertensa.

Auxiliados pela psicóloga Ana Paula Bonin, dessa vez o grupo preparou um bolo de banana diet. No lugar da farinha branca, a receita leva farinha de rosca integral, feita com pão integral torrado. O açúcar comum é substituído por adoçante culinário. “É uma alternativa saborosa ao bolo tradicional e que, sem exagero, pode ser compartilhada com a família”, garante Ana, que já repassou receitas como compota de maçã e mousse de maracujá.

Critérios – Mesmo apropriadas ao público diabético, o doce alternativo deve ser consumido com muito critério. Quem alerta é o endocrinologista do Programa de Saúde do Adulto da Secretaria Municipal da Saúde e professor do curso de Medicina da PUC/PR, Alexei Volaco. O programa monitora atualmente cerca de 40 mil pacientes inscritos nas unidades de saúde espalhadas pela cidade.

O problema desse tipo de alimento, explica Volaco, é que o produto diet não tem necessariamente apenas açúcar. Os demais itens estão presentes, ainda que em menor concentração. Assim, o paciente precisa comer com muito critério porque os outros itens da receita, como as gorduras, podem potencializar os problemas circulatórios comuns aos diabéticos.

“Daí a importância de quem tem esse diagnóstico fazer o acompanhamento com profissionais de saúde e estar consciente da sua responsabilidade permanente sobre a própria saúde”, diz.

A adesão ao tratamento de que fala o especialista foi o tema da psicóloga Vera Regina Souza, que aproveitou o tempo de finalização da receita do mês para falar às participantes sobre a necessidade de aceitação da doença para o seu efetivo controle. “É comum o abatimento quando o médico dá o diagnóstico, mas ele precisa ser superado pela vontade maior de controlar a doença. Assim se tem uma boa adesão ao plano de cuidado elaborado para cada situação”, disse.

Assim como outros portadores de doenças crônicas, os diabéticos são acompanhados na rede municipal de saúde por médicos e pelas equipes dos Núcleos de Apoio em Atenção Primária à Saúde (Naaps) – grupos formados por profissionais das áreas de nutrição, fisioterapia, educação física, psicologia e farmácia.

A finalidade desses grupos é dar suporte à atenção integral à saúde da população usuária do Sistema Único de Saúde (SUS) local, que no caso dos diabéticos compareceram a 155 mil consultas médicas e consumiram 33 milhões de unidades de medicamentos em 2009, entre outros atendimentos ofertados.