Didi era o nome carinhoso dessa curitibana de família tradicional, que desempenhou papel de grande destaque na divulgação do Paraná a partir de 1929. Nesse ano, o ciclo da erva-mate contribuía para a afirmação do então jovem Estado do Paraná na economia nacional. Mas mesmo que trabalhassem dobrado e a todo vapor, os 30 engenhos curitibanos de socar mate não teriam conseguido obter maior repercussão para o nosso estado do que a participação de Didi Caillet no primeiro concurso de Miss Brasil, realizado pelo jornal A Noite do Rio de Janeiro.
O texto acima escrito por  Paulo Vitola faz parte da apresentação do livro Didi Caillet, a musa dos paranistas, que será lançado amanhã, no Auditório Brasílio Etiberê, às 19h30. Resultado de anos de pesquisa de Paulo Koehler, o livro tem também sua versão em DVD, onde foram resgatados imagens antigas de Curitiba e do Rio de Janeiro.

Aos 19 anos de idade, bela e inteligente, poeta e declamadora talentosa, fluente em quatro idiomas e dona de uma simpatia cativante, Didi atraiu de imediato a atenção da grande imprensa nacional. Favorita dos jornalistas e do público, Didi tinha apenas uma adversária, Olga Bergamini, Miss Rio de Janeiro. Cinquenta mil pessoas lotaram o estádio do Fluminense para a grande final. Olga recebeu a faixa de Miss Brasil, ouvindo um coro de cinquenta mil vozes a gritar com toda força: É a Paraná! É a Paraná! É a Paraná!, continua o texto de Vitola.
Mas o livro não conta simplesmente o fato de uma paranaense no concurso Miss Brasil. É mais. Didi, ou Marie Delfine Caillet, esteve à frente de seu tempo. Se hoje naturalmente elegemos uma mulher presidente da República, e uma outra mulher — coincidentemente paranaense — ocupa o principal ministério do governo federal, nos anos de 1920 e 1930, a independência feminina era novidade.
Mas Didi tinha isso, e de sobra. Certamente, hoje, não faria feio frente a Dilmas e Gleisis. Para muitos, é a partir do fenômeno Didi Caillet que o Paraná começa a ser reconhecido como um Estado e não só como o lugar de onde vinha a erva mate consumida no País. O salto do Paraná ervateiro para um Paraná intelectual, portanto, tem data.

Didi voltou do Rio ovacioanada. Desfilou em carro aberto como se fosse ela a verdadeira Miss Brasil. Mas o concurso foi apenas um pretexto para mostrar os seus múltiplos talentos. Celebrada em prosa e verso pela intelectualidade da época, ela tinha dotes literários que se transformariam em livros, Taú, Reviver e Eu sou Assim.
Didi foi certamente a figura pública paranaense mais fotografada de seu tempo. Tornou-se a primeira garota-propaganda do Paraná, ilustrando anúncios dos principais produtos locais. Taú, o título de seu primeiro livro, virou marca de perfume, com logotipia idêntica à da capa reproduzida em sua embalagem. Moderna e versátil, Didi Caillet destacou-se em atividades tão diversas como o automobilismo e a fundação do Centro Feminino de Letras, enaltece Vitola.
Dessa fantástica trajetória da paranaense restou um acervo composto de fotografias, partituras musicais, gravações, matérias jornalísticas, anúncios de publicidade, embalagens de produtos, e muito mais que Koehler identificou ao longo dos anos e compilou para o DVD.
O livro de Koehler, persegue os quatro anos em que Didi  esteve no foco da sociedade paranaense, até 1933, quando acontece o anúncio do casamento de Didi. De 1953 até 1975, viveu no Rio de Janeiro, mas ainda retornaria para o Paraná antes de morrer e, escreveria ainda mais três livros.