Não se sabe por quê, mas os desvios laterais de coluna vertebral aparecem em pelo menos 6% da população de 10 a 12 anos e quase 90% dos casos são em meninas. Podem ocorrer tanto na região do tórax quanto na da bacia. Quando a curvatura ultrapassa 20 graus, é indicada a utilização intensiva de colete ortopédico. As situações mais graves são corrigidas com cirurgia.


Escoliose é o nome dado ao desvio lateral da coluna vertebral. Pode ocorrer na região torácica ou lombar, para a direita ou para a esquerda, quase sempre acompanhada da rotação das vértebras (elas giram no próprio eixo). Escolioses funcionais, provocadas por má postura, são reversíveis com exercícios e fisioterapia. As mais comuns, no entanto, são as estruturais. Elas não são reversíveis. Resultam de doenças nos nervos e nos músculos ou são idiopáticas, isto é, sua causa é desconhecida.


Essas últimas são as mais freqüentes. Podem aparecer já na infância, mas a maioria é detectada apenas na adolescência, a partir dos 10 anos. Estudos indicam que atingem entre 6% e 15% da população, sendo as principais vítimas as meninas (constituem 80% a 90% dos casos). Suspeita-se que as mudanças hormonais da puberdade possam levar a algum desequilíbrio na produção de enzimas relacionadas ao desenvolvimento da coluna. Mas nada é certo. O fato é que o desvio aparece por volta de 10 ou 12 anos e progride rapidamente. Há casos em que o ângulo da curvatura aumenta 1 grau por mês. O mais comum é que não ultrapasse os 20 graus. Até esse patamar, os médicos indicam apenas fisioterapia para o fortalecimento dos músculos a acompanhamento rotineiro, com radiografias. O jovem não sente dores e em geral não tem problemas na vida adulta. Na idade madura, porém, é provável que o desvio favoreça o surgimento de protusões de disco (deslocamento do tecido gelatinoso que se localiza entre as vértebras e amortece seus movimentos).


Somente quando os 20 graus são ultrapassados indica-se o uso de coletes ortopédicos. Há três tipos: o de Milwalkee, que vai do quadril até o pescoço; o de Boston, do quadril ao tórax; e a órtese tóraco-lombo-sacra (OTLS), que sobe até pouco acima da cintura, apropriada para desvios nas curvas lombares.


Os coletes devem ser usados 23 horas por dia, reservando-se apenas uma hora para a higiene. Eles não fazem a coluna voltar à posição normal, mas ajudam a conter o agravamento do desvio. Se mesmo com o uso do acessório a curva continua aumentando e atinge os 40 graus, torna-se necessário recorrer à cirurgia. Nela, com o uso de pinos, ganchos e parafusos, o cirurgião aumenta ou diminui o espaço entre as vértebras corrigindo sua posição. Não é uma operação simples, principalmente quando a curva é muito acentuada. Apesar do cuidado extremo dos médicos e da existência de equipamentos que ajudam a manter as condições do paciente sob controle, há risco de paralisia, caso a medula seja atingida. Além disso, é preciso considerar que a cirurgia elimina os movimentos da região alterada, uma vez que as vértebras são fixadas na nova posição. Por esses motivos, é uma alternativa reservada às situações realmente graves. E nestes casos, diga-se, pode resultar em melhoras significativas. Uma garota que tinha curvatura de 40 graus chegou a ser campeã brasileira de patinação depois da cirurgia.


As escoleoses idiopáticas provavelmente tem origem genética e, por enquanto, não há como evitá-las ou detectá-las antes que se manifestem. É fundamental desfazer um mito: mochilas pesadas, embora possam causar dores, não provocam nem agravam o desvio. O que os pais precisam fazer é ficar atentos a assimetrias no corpo de seus filhos, especialmente na altura dos ombros, da cintura e das saliências provocadas pelas costelas quando as crianças se inclinam para frente. Por volta dos 10 anos, vale a pena tirar uma radiografia. Esportes não previnem o desvio mas são aconselháveis, pois fortalecem a musculatura, o que é sempre bom. Qual escolher? Aquele que a criança tiver prazer em praticar.


*Élcio Landim, ortopedista, é chefe do Grupo de Coluna da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Coluna e membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia.