O barulho dos cães e das galinhas chamou a atenção de João Gilberto Carneiro, morador da rua que dá acesso à mata ciliar do Rio Tibagi, no centro da cidade, por volta das 10h30 desta segunda-feira (24). Vim aqui fora pra ver e o bicho já tinha trepado na árvore, descreve. O ‘bicho’ tem aproximadamente 1,40 metro da cauda até a cabeça e pesa entre 25 e 30 quilos. É ainda uma jovem fêmea, com no máximo dois anos de idade, mas chamou a atenção dos moradores durante horas, afinal, não é todo dia que se vê uma Onça-Parda assim de tão pertinho.

A Onça, ou Suçuarana, também chamada de Puma, chegou molhada ao quintal de João. Vai ver ela caiu no rio e acabou vindo parar aqui do outro lado, aposta Maria Orli Bonifácio, uma das curiosas moradoras que acompanhou todo o resgate da felina. Eu vim ver e daí encheu de gente aqui. Foi ligado pra polícia, mas eles primeiro acharam que era trote. Depois vieram conferir, relata a vizinha.

A Polícia Ambiental – Força Verde foi acionada e chegou ao local somente no período da tarde, às 16 horas. Durante todo esse tempo, a onça permaneceu quieta sobre a árvore, a aproximadamente cinco metros de altura, de onde acompanhava curiosa e atenta à movimentação das pessoas no terreno. Coitadinha, ela parece estar acuada de medo né? E ficou aí no sol, deve estar com sede, com fome, completou Maria.

E se estava, continuou com sede e fome. Os dois policiais não conseguiram efetuar o resgate com uma escada e a Onça acabou passando de uma árvore para outra, tornando mais difícil a captura. Equipe de biólogos da Usina Mauá, de Telêmaco Borba, era aguardada para nova tentativa, desta vez com sedativos apropriados. O destino do bichano, se capturado, ainda não foi decidido. Estamos aguardando os biólogos para uma análise mais detalhada, afirmou o sargento Bueno, da Polícia Ambiental.

 

‘Gaudência’

Para a dona de casa Maria, a presença do animal no meio urbano é novidade, mas esta não foi a primeira vez que viu uma Suçuarana. Eu trabalhava no boia-fria e sempre enxergava umas onças passando lá longe, acho que caçando. Tinha bem maior, mas sempre de longe. Assim de pertinho eu nunca tinha visto, garante Maria.

O dono do quintal também ficou impressionado com a beleza do bicho. É bonito né? Agora eu tenho mais uma história para contar, disse. Jorge Bittencourt, o advogado que recentemente cuidou de um pombo-correio que apareceu em sua casa, na mesma região, foi assistir ao resgate. A natureza volta e meia nos dá essa honra de ver aqui em Tibagi, bem de perto, o quanto ela é bonita, comentou.

Jorge foi quem deu nome ao pombo-correio, apelidando-o de Desidério em homenagem ao primeiro carteiro da cidade. Quanto ao Puma, a sugestão de nome veio do funcionário público Kleber Oliveira: como essa onça está numa árvore na rua do hospital, podia se chamar Gaudência, indicou, fazendo menção à Rua Frei Gaudêncio.

 

Como evitar a presença de onças nas propriedades

No centro da cidade a imagem é rara, mas nas fazendas da região a presença do Puma é bem mais frequente. Para evitar que o felino, predador, ataque seus rebanhos, os proprietários rurais são orientados sobre como afugentar o bicho. Leri Ribeiro, coordenadora de Meio Ambiente da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Turismo, ressalta que a Onça-Parda é um felino esbelto e ágil, que se adapta facilmente a diversos habitats mas que tem preferência por mata fechada. Por isso é importante manter a área em torno da propriedade limpa, capinada, porque o Puma não gosta de campo aberto, indica.

Outra orientação é recolher os animais da propriedade ao final do dia em estábulos, currais, chiqueiros e locais fechados, seguros. As fêmeas em época de parição devem ser fechadas e acompanhadas. Manter os animais vacinados e sadios também é importante para que, fortes, tenham maiores condições de se defender, acrescenta.

A gestora destaca que ações simples e práticas podem afugentar a Onça da propriedade. Com barulho e iluminação ela não chega perto. Basta colocar rádios à pilha nos estábulos, amarrar sinetas nos bovinos e ovinos ou guizos nas suas pernas. Instalar buzinas e instrumentos que emitam ruídos fortes em torno da propriedade. Outra dica é fazer espantalhos e colocar rádio a pilha neles. Tem de mudar a cada dois dias para o animal não se acostumar, aponta.

Leri ainda ressalta que ao usar rojões ou bombinhas para assustar o Puma, é preciso cuidar para não causar incêndios ambientais. Além disso é preciso redobrar a atenção com as crianças, que não devem andar sozinhas em longas distâncias na propriedade. Por fim, o mais importante é não tentar capturar a Onça, porque além do perigo do ataque, este animal é raro na natureza e precisamos preservá-lo. Basta aprender a conviver, finaliza.

 

Mais

O Guia de Convivência – Gente e Onças, de Silvio Marchini e Ricardo Luciano (Fundação Ecológica Cristalin, 2009, 2a ed.), diz que as Onças-Pardas são encontradas nos principais biomas das Américas, desde o Norte do Canadá até o Sul da América do Sul. Nenhum outro mamífero terrestre tem tamanha área de distribuição no continente, relata. Os machos adultos medem até 80 centímetros de altura e 2,4 metros de comprimento do nariz à cauda. Os machos pesam de 53 a 72 quilos e em casos excepcionais podem pesar até 120 quilos. O peso médio das fêmeas varia de 34 a 48 quilos.

O Guia está disponível para consulta na Sematur, que também orienta pelo (42) 3916-2151.