Nesta quinta-feira (19), as Livrarias Curitiba do Shopping Estação recebe  visita do escritor italiano Edoardo Boncinelli. O médico geneticista vem ao país para uma temporada de lançamentos do seu livro Carta a um menino que viverá 100 anos.

Na pauta, a tese sustentada na obra de que uma parte das pessoas da chamada Geração Z (nascidas pós 1990) poderão viver mais de 100 anos. Nesta conversa com a Guarda-Chuva (que lança a obra em português), ele fala sobre as bases para sua teoria e ainda comenta sobre a realidade do Brasil frente a essa – tão sonhada – estatística.

Boncinelli também analisa as questões éticas que envolvem o desenvolvimento da genética e sentencia: não tenho dúvidas de que a tão falada ‘engenharia celular’ será a questão mais proeminente da medicina no futuro. Confira a entrevista:

 Guarda-Chuva – Conte-nos, por favor, em linhas gerais, o fundamento da sua argumentação de que grande parte da Geração Z viverá 100 anos.
Edoardo Boncinelli – Esse valor é obtido através de projeções baseadas nas curvas estatísticas da expectativa de vida atual. Essas curvas são fortemente estabelecidas.

GC – O Brasil é um país em ascensão econômica, com indicadores favoráveis, mas tem ainda a marca da desigualdade social. Um país como o nosso, em desenvolvimento, pode ser incluído nessa conta dos 100 anos?
E.B – Meus dados são válidos para a Itália e para diversos países desenvolvidos. Os países da África ficam muito para trás, mas o Brasil, até onde posso dizer, está apenas cinco anos em defasagem. A única questão é que vocês ainda têm uma taxa de mortalidade infantil muito alta.

GC – Qual a postura dos países europeus, principalmente a Itália, em relação às delicadas questões éticas que envolvem o desenvolvimento da medicina, e principalmente, da genética? Quais reações o sr. já registrou por parte do Brasil?
E.B – Na Itália, o debate sobre ética pública é muito aquecido, principalmente com relação à reprodução assistida e aborto. Em geral, no resto da Europa existe menos preocupação ética, e mais atitude prática. A influência da Igreja é o ponto principal dessa diferença. Eu não possuo conhecimento direto sobre o posicionamento do Brasil nesse assunto, mas acredito que seja algo no meio do caminho. 

GC- Um ponto chama atenção no livro: o que trata da medicina regenerativa. A impressão é que os avanços ainda serão muito grandes. O que eles podem significar para o número final de anos que uma pessoa viverá?
E.B. – Fora o uso das céluas-tronco, a medicina regenerativa ainda está engatinhando. Há muitos rumores, mas pouca coisa foi realizada até hoje. Não tenho dúvidas de que a tão falada engenharia celular será a questão mais proeminente da medicina no futuro.

GC – O cérebro acompanha os progressos que garantem mais saúde aos órgãos do corpo? Ele também poderá envelhecer de forma mais saudável? É que, com o fenômeno da longevidade, temos visto também cada vez mais registros de doenças como o Alzheimer…
E.B. – Em linhas gerais, o cérebro envelhece menos que o resto do corpo. Mas é claro que existem patologias, como o Alzheimer, que podem destruir o cérebro de pessoas com idade avançada. Isso é um grande problema, visto que até agora não encontramos a cura e nem uma maneira de prever a doença. O Alzheimer e outras doenças chamadas degenerativas se apresentam como grandes obstáculos para uma senescência (envelhecimento) saudável, especialmente em países desenvolvidos.