A intensificação da concentração bancária no Brasil, apoiada pelas autoridades econômicas, ensejou também no segmento financeiro a obtenção de pronunciadas economias de escala, com o salto nas receitas, proporcionado pela elevação quantitativa e monetária das operações, e a redução de custos médios dos serviços, derivada da introdução de avanços tecnológicos e da otimização das redes de agências, com o fechamento das menos rentáveis. Apenas a título de ilustração, o peso das 10 maiores instituições na absorção de ativos passou de 50,8% do montante total em 1996 para 80,9% em 2010.
Mas, retomando a discussão iniciada no artigo da semana passada, o espetáculo preliminar do confronto entre executivo federal e bancos foi marcado pela iniciativa do primeiro em sublinhar o caráter imprescindível da diminuição da rentabilidade do segundo ator. No mesmo ato, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) reagiu de um jeito hostil, entregando ao ministro um confortável rol de 20 propostas, lideradas pela redução da cunha de impostos e dos recolhimentos compulsórios, destacando, nas afirmações do presidente daquela entidade que a bola agora está com o governo.
De pronto, a Fazenda não apenas rechaçou as recomendações como determinou às das financeiras estatais sob controle federal, precisamente o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, o desencadeamento de um movimento de retração dos juros, sustentado em campanhas publicitárias, na tentativa de obtenção de reação semelhante das agências privadas (Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e HSBC), sob pena de perda de participação nas operações de empréstimos e financiamentos, com migração de correntistas configurados por empresas e pessoas físicas.
No princípio do mês de maio, a Febraban sentenciou que você poderá levar um cavalo até a beira do rio, mas não poderá obrigá-lo a beber água. A entidade tomou essa atitude ao avaliar os desdobramentos da persistente diminuição da selic em um ambiente de encolhimento da oferta e demanda de crédito. Este reproduz a redobrada cautela das instituições com a inadimplência – e imediata escassez de tomadores compatíveis com o grau de risco esperado –  e o natural recuo dos clientes com a saturação tanto dos espaços orçamentários para endividamento quanto do ponto de renovação do estoque de bens duráveis de consumo.
No que tange ao peso das dívidas (saldo do passivo assumido como proporção da renda em doze meses), inferências do BC denotam que o brasileiro compromete, em média, 43,0% dos rendimentos anuais, contra 40,1% em março de 2011, e 22,3% do fluxo de caixa mensal, o nível mais elevado desde outubro de 2011 (22,4%). Diga-se de passagem, que este parâmetro pode perfeitamente alcançar 40,0%, se forem incorporados, à sangria dos haveres orçamentários dos consumidores, os parcelamentos dos cartões de crédito.
É interessante incluir a salutar acréscimo do crédito imobiliário, acoplado às iniciativas na direção do déficit habitacional, por parte do governo federal, que, mesmo crescendo à taxas superiores 40,0% a.a., ainda representa apenas 5,2% do Produto Interno Bruto (PIB) ou 10,0% do montante total de financiamentos do País, que equivale a 50,0% do PIB.
Recorde-se que, em linha com a desaceleração da inflação e a flagrante letargia da atividade industrial – consequência do emprego dos juros elevados e das medidas macroprudenciais entre outubro de 2010 e julho de 2011 – , o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC promoveu novas diminuições da taxa selic, nos encontros de abril e de maio de 2012, de 9,75% a.a. para 9,0% a.a. e 8,5% a.a.
Com isso, a taxa básica do País ficou abaixo do piso histórico de 8,75% a.a., registrado entre julho de 2009 e abril de 2010 – por ocasião da tentativa de mitigação dos desdobramentos do primeiro tempo da crise financeira externa e de recuperação da demanda doméstica brasileira – e constituindo a menor taxa real da história recente (3,3% a.a.), cedendo a liderança no mundo para a Rússia (4,2% a.a.). Lembre-se que o recuo foi de 4,0 pontos percentuais desde agosto de 2011, quando a selic situava-se em 12,5% a.a.. 
Por enquanto, o que observou foi o acréscimo da seletividade na concessão de empréstimos, caracterizado pelo declínio pontual das taxas mínimas (não médias) cobradas de uma fração específica de clientes com perfil considerado preferencial (de menor risco de não pagamento) das próprias instituições, com maior potencial de oferta de reciprocidades, e a caça daqueles dispostos a deslocar operações abrigadas nos bancos concorrentes, acompanhada de um grupo apreciável de exigências, a começar pelo deslocamento da conta salário.

Gilmar Mendes Lourenço, é economista, presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), professor do Curso de Economia e Editor da revista Vitrine da Conjuntura da FAE e autor do livro Conjuntura Econômica: Modelo de Compreensão para Executivos. Foi eleito  O Economista Paranaense do Ano de 2011 pelo CORECON/PR e vencedor do Prêmio Imprensa e Quality TV & Jornais em novembro de 2011. Ele escreve às quartas-feiras neste espaço