As cerca de mil crianças moradoras de abrigos em Curitiba ganham mais uma chance de conhecer um novo lar. Na última quarta-feira, a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) lançou a campanha “Mude um Destino”, com intenção de provocar debates e obter engajamento da sociedade a respeito do tema.
Em todo o país, cerca de 80 mil crianças vivem em abrigos. Elas chegam às casas por abandono, agressões, desestruturação familiar e outras aberrações que por vezes exigem intervenção do Estado para que meninos e meninas sejam separados dos pais. Alguns encontram rapidamente uma nova família, mas outros, principalmente os maiores de oito anos, os que têm irmãos ou são portadores de doença ou necessidade especial demoram a ser adotados – na maior parte das vezes acabam morando com casais estrangeiros, que impõem menos exigências.

Na Capital, a situação mais comum que leva crianças aos antigos “orfanatos” é o puro e simples abandono, segundo a juíza Lídia Munhoz Mattos Guedes, da 1a Vara da Infância e Juventude de Curitiba. “Os pais que rejeitam os filhos são normalmente envolvidos com drogas”, afirma a magistrada.
A dependência química, especialmente do crack, provoca também a maior parte dos casos de destituição do poder pátrio determinada por via judicial. Através de denúncias de maus-tratos ou negligência com saúde educação e higiene, as crianças podem ser retiradas das mãos dos pais pelos conselhos tutelares. Uma equipe técnica da Vara da Infância e Juventude visita a família, toma o depoimento dos pais e determina a possibilidade de reinserção da criança ao ambiente original. “O problema é que, quando há dependência, dificilmente os pais seguem o tratamento adequado”, diz a juíza. Assim, a Justiça tende a encaminhar estas crianças em situação de risco ao processo de adoção.

 Também há casos de pais que dão condições para o desenvolvimento dos filhos, mas os perdem por episódios isolados, como agressões. Os pais e as crianças recebem orientações dos centros de apoio da Prefeitura. O agressor responde criminalmente, mas se for verificado que o episódio é esporádico, pode retomar o poder familiar.
As principais ações da campanha da AMB são a veiculação de peças publicitárias na mídia, a instituição de um prêmio e a divulgação de duas cartilhas, que explicam todos os passos do processo de adoção e orientam a gestão de abrigos.

De acordo com a associação, apenas 10% das crianças abrigadas no Brasil estão aptas para adoção.
Mas nem sempre a disponibilização de uma nova família é a única alternativa para crianças em situação de risco. Segundo a psicóloga Maria Luiza Ghirardi, uma das autoras da cartilha sobre o passo a passo da adoção, há estudos para implantação de programas governamentais com “famílias acolhedoras”, que ficariam com a criança nos casos em que a separação dos pais é temporária, como internações hospitalares e reclusões carcerárias.