As eleições de hoje, na Ordem dos Advogados do Paraná (OAB-PR), levarão 37.770 advogados paranaenses às urnas. É o momento de escolher os dirigentes da Seccional e das subseções que estarão à frente da entidade nos próximos três anos (2013-2015). Serão eleitas a nova diretoria e o Conselho Seccional da OAB Paraná, as diretorias e conselhos das subseções, a delegação para o Conselho Federal e a diretoria da Caixa de Assistência dos Advogados.  A votação acontece das 9 horas às 17 horas em todo o estado. Em Curitiba, a votação será no Expo Renault Barigui (pavilhão de exposições do Parque Barigui) e, no interior, nas sedes das subseções ou em locais por elas designados. Para o Conselho Seccional foi inscrita apenas a XI de Agosto, encabeçada pelo advogado Juliano José Breda, que conta com o apoio do atual presidente da OAB José Lúcio Glomb
Em entrevista ao Jornal do Estado, o atual presidente da OAB, José Lúcio Glomb, fala sobre  a sua gestão, sobre o processo de escolha da nova direção, e as reivindicações dos advogados e ainda fala sobre a qualidade do ensino de Direito no Estado. Glomb também defende que a OAB siga a linha combativa em temas polêmicos, como foram os casos de excesso de cargos de confiança na Assembleia Legislativa e no sucateamento do Instituto Médico Legal.

Jornal do Estado — Como o senhor avalia a sua gestão que está prestes a ser finalizada?
José Lúcio Glomb —A avaliação da gestão é feita pelos colegas advogados e creio que um bom sinal de que houve resultado no trabalho , foi a ausência de chapa oposicionista. O fato é que a diretoria se desdobrou para atender às reivindicações dos advogados e manteve em alta a chama da cidadania.
JE — Qual o relacionamento do senhor com a chapa que agora será eleita?
Glomb —  A chapa XI de Agosto é perfeitamente afinada com o que pregamos e lutamos nos últimos três anos. Digo melhor: nos últimos 40 anos. O fato é que Juliano Breda, candidato a presidente, é o atual secretário-geral da Ordem e esteve conosco em todas as missões que abraçamos. É o único da diretoria atual que permanecerá no cargo, agora como presidente. Em relação aos demais, todos têm ampla folha de serviços prestadas à OAB e à advocacia. Então, o que temos é uma renovação de nomes, que certamente também trazem novas ideias, o que é importante, mas que tem uma grande experiência no atendimento aos clamores da classe. 
JE — Não é prejudicial para a classe a eleição da OAB ter chapa única? Por quais motivos o senhor optou por não concorrer a reeleição?
Glomb —A existência de uma única chapa não é decisão nossa, mas consequência do grande trabalho feito na OAB nestes últimos anos. Já na minha eleição obtivemos 67% dos votos. Mais de 90% aprovaram a nossa gestão. Os dados mostram o acerto na direção da OAB, reconhecido por todos. Então, não houve manifestação oposicionista. Quanto à reeleição, a chapa XI de Agosto tem por princípio renovar e não promover a reeleição. Tem sido assim há 40 anos. 
JE — Em sua gestão, a OAB teve uma forte atuação em temas polêmicos. Essa é uma tendência que deve ser seguida?
Glomb — Alguns temas, embora polêmicos, devem ser enfrentados.  Não nos omitimos e nem deveremos nos omitir, como no caso da Assembleia Legislativa do Paraná. Aliás, aí existe muito a ser feito ainda. Notamos que alguns sinais já merecem atenção e isto deve servir como alerta. Há muito a ser melhorado em termos de gestão, eliminação de cargos em confiança. E como não há decisão da Assembléia a Ordem propôs uma ADIN contra a criação de numerosíssimos cargos de confiança que servem, em grande parte, como remuneração dos cabos eleitorais. Ainda existe a ameaça de se criar a aposentadoria dos deputados,  mas aí há total inconstitucionalidade, além de ofender a moralidade. Espero que não se faça isto, mas se não for entendido assim, aí está mais uma necessidade de atuação da OAB.   De outro lado, temos  comissões importantes, tratamos permanentemente dos direitos humanos, da miserável situação dos presídios, agora reconhecida de público, nacionalmente, pelo Ministro da Justiça José Eduardo Cardoso. Lembro que a situação do IML, com mais de uma centena de corpos armazenados, só foi resolvida após a denúncia da Comissão de Direitos Humanos da OAB.
JE —Como o senhor vê a administração judiciária no Estado?

Glomb — Sempre esperamos que a administração do Poder Judiciário observe fielmente os princípios constitucionais da administração pública.  Nenhum administrador sobreviverá se ofender os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Nessa questão devemos sempre ressaltar que temos a Justiça do Trabalho e a Federal, ambas em níveis diversos da Justiça Comum. As primeiras vivem um mundo diferente.
São estatizadas, têm servidores organizados em quadros de carreira e bem remunerados. Sua atuação é eficiente e, caso mantenham-se dentro desses padrões, a tendência é melhorar ainda mais. Mas é necessário que se continue investindo e aperfeiçoando.  Já a Justiça Comum, que detém o maior número de processos, na maior parte não é estatizada, tem servidores que não recebem remuneração compatível, e juízes e varas insuficientes para atender a demanda. Está atrasada na informatização dos próprios processos.  Certamente não é tarefa fácil colocar essa casa em ordem. As recentes administrações têm procurado melhorar a situação, como temos salientado, mas falta muito para se chegar a um bom resultado. Não se nega o valor dos juízes, que tem se desdobrado para dar conta do recado, ao ponto do mais recente levantamento do CNJ apontar que em 2011 o TJ julgou mais processos que recebeu. Todavia, é evidente a necessidade de melhorias.
JE —O fórum cível é uma antiga reivindicação dos advogados. Atualmente há  muitos indícios de que o prédio tem abalo na estrutura. Este é um problema que vai ficar para a próxima gestão ou já há algum avanço até o final do ano neste sentido?
Glomb — Aí está um dos casos em que a prioridade não foi levada em conta. Construiram-se muitos fóruns pelo Paraná todo e não discuto as suas necessidades. Acho mesmo que eram necessárias essas novas instalações.  Mas a primeira que deveria ser construída seria aquela que abrigaria o Forum Cível da Capital. Isto não foi feito e mesmo agora, quando lançado edital para licitar essa obra, o CNJ determina a paralisação, por irregularidades formais no edital. Quero acrescentar que a OAB solicitou urgência na apreciação pelo CNJ, por a situação está se tornando insustentável. É  preocupante trabalhar nas atuais instalações, que geram insegurança. Já solicitamos formalmente avaliações técnicas pelo TJ, até porque trabalhar em lugar inadequado, na péssima situação que se encontra o atual prédio, colabora para o atraso na Justiça.  Na escala de prioridades, resolver isso está em primeiro lugar.
JE — Qual a sua opinião sobre o julgamento do mensalão? Que lições os  brasileiros podem tirar desse julgamento?

Glomb —O julgamento do mensalão resgatou a esperança dos brasileiros de que todos sejam tratados de forma igual. Sem que tivessem provas cerceadas, ou seja, assegurando-se a ampla defesa e o contraditório, esse processo deu ao STF a oportunidade de analisar uma situação intrincada, aos olhos da nação. O resultado dá crédito ao Judiciário e se espera que sejam adotadas providências para que, quando está em jogo a moralidade pública, nossos tribunais sejam ágeis e eficientes, dentro do que determina e assegura a lei.
 JE — Como o senhor avalia as faculdades de direito do Paraná?
Glomb — O ensino jurídico mescla faculdades com alto nível  de ensino e outras nem tanto. Os resultados dos Exames de Ordem estão aí para comprovar o que falo.  O número de faculdades é elevadíssimo, 92 no Paraná, e não permite um ensino dentro da média de qualidade. Com o passar do tempo muitos cursos fecharão as suas portas. Mas há certo movimento para lhes dar sobrevida  pela extinção do Exame de Ordem, vez por outra aventada. Não podemos aceitar isso, pois a advocacia é a formadora de um dos poderes da República.  Aquele que inicia o curso já sabe que terá pela frente o Exame de Ordem. Não é pego de surpresa. Combateremos a ideia de extinção com todas as forças. Ela só interessa ao mau aluno e ao mau empresário do ensino. E a eles não podem ser confiados os interesses patrimoniais e a própria liberdade, valores defendidos pelos advogados.
JE — Se as faculdades apresentassem um nível de exigência maior, o Exame de Ordem poderia ser extinto?
 Glomb — Esse nível de exigência só acontecerá quando tivermos um número menor  de cursos, com um acompanhamento rigoroso por parte do MEC. Todavia, o Exame de ordem deverá sempre existir, como existe em outros países do mundo; aliás, muito mais rigorosos do que aqui. Nos Estados Unidos, o Exame só habilita para a advocacia no estado em que é prestado.