Nos idos anos de 1960, éramos uma rapaziada nova, solteiros, mauricinhos paisanos, altamente vulneráveis e inexperientes, num mundo inteiramente novo, estranho e inusitado, ingressando na Escola de Oficiais da Polícia Militar do Paraná e, concluídos os três anos de formação, logrando alcançar o posto de Aspirantes a Oficial.
Nossos queridos pais tinham toda a razão de expressar suas apreensões pela escolha que estávamos fazendo, pois naqueles tempos, e muito mais nos tempos de hoje, a profissão de policial se afigurava como uma tendência que bem poucos ousavam enfrentar, muito embora desconheçam o alto sentido de preparação a que se submetem os que a escolhem, desenvolvendo o caráter, a disciplina e um profundo grau de ética e de amor à causa que abraçam, mesmo que sempre haja alguns cometendo desatinos que denigrem a nobreza da profissão.
Bem, os idos de sessenta em nada se comparam com os dias atuais, pois a condições eram outras, com carências materiais inigualáveis, que iam desde a falta de viaturas, de armamentos, de quartéis, até aos baixos salários, que impeliam todos à corrida à formação acadêmica paralela, o que ocorreu com a quase totalidade dos oficiais que se formavam em áreas de todas as ciências, e os levavam, aos borbotões, à magistratura, à medicina, à engenharia, ao magistério, à administração de empresas, ao direito, dentre tantas outras atividades superiores, muito embora a maioria tenha permanecido nas funções policiais.
Aos poucos, mas sempre apreensivos, nossos pais passavam a aceitar a carreira que abraçávamos, pois observavam nosso desenvolvimento profissional e os avanços socioeconômicos que se lhe acrescentavam. Absorveram o sentido de que o perigo não se encontrava somente no fato de sermos policiais, mas no fato de que uma sociedade organizada, em qualquer parte do mundo, depende de profissionais de segurança pública, tanto quanto de médicos, de professores, de governantes.
Alcançamos, quase todos os 60 cadetes, em 1962, a patente de Aspirantes a Oficial da Polícia Militar, e, agora, neste ano de 2012 , saudosos dos tempos de nossa juventude que não voltarão jamais, tentamos nos reencontrar, os quarenta ainda sobreviventes e as viúvas dos que já se despediram, numa confraternização festiva de nosso Cinquentenário de Formatura, que se dará nos dias 14 e 15 de dezembro, com solenidades na Academia Policial Militar do Guatupê e no Quartel General da PMPR, seguidas de almoços e outras atividades.
A nossa convicção, a maioria de nós já ultrapassando 70 anos de idade, é a de que, como nossos pais, que receavam terem seus filhos havido escolhido uma profissão perigosa, a população paranaense e, quiçá, a brasileira, compreenda que, sem uma polícia bem preparada e respeitada, dificilmente será minimizado o sentido de medo de que todos somos tomados, diariamente, pela escalada da criminalidade, e que as ações erradas de maus policiais não podem servir de argumento para se declarar que nossa polícia é ruim, despreparada, e que nela não podemos confiar.
Naqueles nossos longínquos tempos já se assentava a ideia de que, pela educação, é possível alterar o grau de criminalização de um povo, daí porque a Polícia Militar criou sua Academia Policial Militar, onde são preparados soldados, graduados e oficiais, não só intelectualmente, mas moral e tecnicamente, para se atenderem as crescentes necessidades de segurança pública.
Quase todos nós, os Aspirantes de 1962, procuramos cumprir com galhardia e honradez nossos desígnios públicos, na Polícia Militar do Paraná, e, na data em que completamos cinquenta anos de formação, permitimo-nos concitar a todos os pais que, como acreditavam os nossos, não creiam ser perigosa a missão policial militar, muito pelo contrário, que é cada vez mais necessária a formação de profissionais de segurança, pois eles completam o sentido da importante missão social e humana para o bem-estar de uma população.

Antônio Douglas Villatore Comissão do Cinquentenário dos Aspirantes a Oficial/PMPR – 1962-2012