Neste dia Nacional do Deficiente Visual, vale retomar o propósito da Organização Mundial da Saúde (OMS) com o Programa Visão 2020: o Direito à Visão. O fato que levou ao desenvolvimento deste programa foi a constatação de que a cada cinco segundos uma pessoa fica cega no mundo. E esta situação chega ao extremo, muitas vezes, por falta de informação, pois até 75% das cegueiras resultam de causas previsíveis e/ou tratáveis.

Alguns fatores influenciam na representatividade desse índice. E o aumento da estimativa de vida é um deles, observa o diretor e especialista em retina do Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB), o oftalmologista Sérgio Kniggendorf.

Resultados recentes divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam que a média de vida do brasileiro passou de 71,2 anos para 73,3 anos. Há 50 anos, a expectativa de vida no País era de 48 anos. De acordo com o oftalmologista, a população vivendo mais tempo, problemas de saúde como a Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI) apresentam crescimento também.

A DMRI, explica Kniggendorf, é um problema ocular diretamente relacionado a uma degeneração ocasionada pela idade, como o nome sugere. Esta degeneração afeta a mácula (parte central da retina), provocando lesões irreversíveis com perda da visão central. Com o passar do tempo, as células da retina começam perder a funcionalidade devido ao aparecimento de manchas, pigmentações, hemorragias e fibroses na mácula, completa.

Abrangência – Dados da OMS apontam que o número de pessoas que perderão a visão por causa da DMRI deve chegar a seis milhões por ano em 2020, o dobro das vítimas registradas em 2010. Ainda segundo a Organização, a DMRI atinge entre 5% da população mundial com idade entre 65 e 74 anos e 25% dos indivíduos com idade acima de 74 anos.

Apresentação – As DMRIs apresentam-se em tipos diferentes. Cerca de 90% dos casos é classificada como seca ou não-exudativa. É caracterizada pela formação de pequenos depósitos amarelados sob a mácula. Pacientes com esse tipo de DMRI mostram atrofia progressiva das células da retina e perda lenta da visão, esclarece Kniggendorf.

Na DMRI hemorrágica, presente em quase 15% dos casos, pequenos vasos sanguíneos anormais crescem sob a retina e a sua proliferação leva à formação da chamada membrana neovascular subretiniana. Além desses vasos não ajudarem a retina a se restaurar da degeneração, o médico comenta que ainda permitem o surgimento de hemorragias e descolamentos da retina com perda rápida da visão se não tratada em tempo. Após certo período, percebe-se a formação de pontos ou manchas escuras no campo visual central.

Segundo o oftalmologista do HOB, a DMRI apresenta sinais que podem ser percebidos pelo paciente. O primeiro sintoma revela-se quando a visão central torna-se bloqueada por um ponto negro, mas este ponto transforma-se em uma lacuna que é branca ou cinza. Também pode manifestar sintomas, tais como linhas retas que parecem onduladas. Também as cores ficam mais pálidas, as palavras escritas parecem borradas, a visão de flashes de luz ou pontos escuros são frequentes, assim como a sensação de visão dupla.

Fatores de risco – Além da idade, vários fatores estimulam o aparecimento da DMRI. Segundo o médico do HOB, a patologia manifesta-se a partir de um conjunto de doenças hereditárias e também está relacionada à morbidade, por estar associada à depressão e quedas. Quando há histórico familiar de DMRI, o paciente deve procurar o oftalmologista rapidamente para identificar possíveis riscos. O tabagismo também aumenta o risco de evolução da DMRI, assim como hábitos alimentares ricos em gordura, hipertensão arterial, colesterol alto e exposição solar excessiva sem proteção ocular, relaciona Kniggendorf.

Tratamento – A detecção precoce da DMRI e os cuidados mediante supervisão de um oftalmologista ajudam a controlar alguns dos efeitos da doença. Entre os principais métodos de tratamento, Kniggendorf destaca dietas ricas em vegetais de folhas verdes e pobres em gorduras o uso de vitaminas e antioxidantes.

Nas fases iniciais e em pacientes com história familiar, são indicados complexos vitamínicos e antioxidantes para diminuir o risco de evolução da DMRI. O médico explica que depois de instalada, sua forma seca não tem tratamento efetivo. Já no tipo hemorrágico, o tratamento é feito com injeções intraoculares de antiangiogênicos para inibir a proliferação dos vasos sanguíneos.