No inicio deste ano, cientistas espanhóis, em convênio com a Universidade de Saragozza, iniciam os primeiros testes clínicos em humanos de uma vacina contra o Alzheimer, doença que atinge milhões de pessoas em todo o mundo. A pesquisa, que já passou pela fase de experimentação em animais, será avaliada em 400 pacientes e se baseia na imunização contra as proteínas Beta amilóide 40 e 42 para atrasar a deteriorização neuronal do cérebro. Mas para o coordenador científico do Laboratório Senne Liquor Diagnóstico, Sandro Matas, a notícia deve ser recebida com cautela.
 
 Os insucessos de algumas medicações desenvolvidas para tratar o Alzheimer, junto com estudos preliminares, nos levam a concluir que, quando disponível, o tratamento imunoterápico deverá ser utilizado nas fases iniciais da doença, garante. Segundo Matas, várias vacinas estão sob investigação clínica. Infelizmente, a primeira vacina ativa (AN1792) foi abandonada porque causava meningoencefalite em cerca de 6% dos pacientes tratados, que também é degenerativa e leva o paciente à morte em um curto período de tempo. Por enquanto, a melhor opção ainda é a descoberta antecipada da doença, garante.
 
E os primeiros sinais da doença podem ser detectados pela própria família. O Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) pode ser um indicativo de que a pessoa está próxima de ser afetada pela Demência de Alzheimer. A análise do líquor (líquido cefalorraqueano), que banha todo o cérebro e a medula espinhal, é capaz de refletir determinados processos anormais ou doenças que acometem o sistema nervoso central. Apesar da Doença de Alzheimer ser a maior causa de demência após os 65 anos de idade, outras anomalias não devem ser excluídas, tais como neurossífilis, Creutzfeuldt-Jacob, entre outras. Daí a importância fundamental da análise do liquor para a diferenciação das doenças. Alguns casos de déficit cognitivo leve podem evoluir para demência com o decorrer dos anos. Por isso, é tão importante identificar se este déficit é o início de Alzheimer, pois existem medicamentos que podem retardar o desenvolvimento da doença e melhorar a qualidade de vida dos pacientes, explica o especialista em líquor, Carlos Senne, diretor-presidente do Senne Líquor Diagnóstico, referência no país em sua especialidade.
 
Considerada a mais comum entre todos os tipos de demências, a Doença de Alzheimer atinge 5% da população a partir dos 60 anos e chega a 50% dos idosos a partir dos 85 anos. Porém, pessoas mais jovens também podem desenvolver a doença, alerta Senne. Segundo o especialista, a literatura começa a divulgar dados de pacientes com sintomas de comprometimento cognitivo já na faixa dos 40 anos. Um protocolo de pesquisa nos Estados Unidos propõe que jovens a partir de 25 anos, com histórico familiar da doença, realizem o exame de líquor para um possível diagnóstico precoce e início da terapia, cujo objetivo é retardar os efeitos da Doença Alzheimer.
 
O procedimento para realização do exame do líquor é simples, seguro e pouco doloroso. A retirada do material, explica Carlos Senne, é feita por meio da punção lombar, por médico especialista, com agulha de raquianestesia, semelhante à punção da anestesia raquidiana. Após a extração, o líquor é analisado em equipamentos de alta tecnologia empregada, que quantificam as mínimas variações das baixas taxas de Peptídeo Beta Amilóide, associadas às altas taxas de Tau e Tau Fosforilada. Essas associações, segundo Senne, estão relacionadas à Demência de Alzheimer entre 80 e 90% dos casos.
 
O exame, detalha o especialista, é muito bem tolerado pela grande maioria dos pacientes. As restrições estão relacionadas aos distúrbios de coagulação, lesões infectadas no local da punção e presença de cirurgias neuro-ortopédicas na coluna lombar com interposição de próteses. Esta última restrição, lembra Senne, não é causa absoluta de impedimento da punção. Nesse caso, é necessário observar o procedimento cirúrgico através de exames de imagens para avaliarmos a real possibilidade de realizar a punção, pondera o especialista.