Ela – Descobri que mesmo a submissão e a lealdade da esposa, têm as suas desvantagens… Ele – sim? Ela – Percebi que meu marido estava farto da felicidade doméstica. A calma, o acordo perfeito, a própria rotina do lar tinha principiado a entediá-lo. Todos os seus desejos eram satisfeitos. Ele – Felicidade conjugal? Ela – Meu marido se enfarou desta felicidade a ponto de mal se preocupar comigo, foi quando passei a comprar lingeries e vestidos lindos, depois resolvi ficar… desleixada, mas ele continuou indiferente, distante… Eu lhe era demasiadamente dócil e ele foi compelido a buscar emoções em outra parte. Não a procurou entre as mulheres – diga-se isso a seu favor. Meteu-se na política. Queria emoções novas. Foi por esse tempo que ele se fez candidato às eleições ao parlamento. Ele – E o que fizestes? Ela – Resolvi dar-lhe as emoções que buscava. Escrevi a lápis na capa do caderno dos meus apontamentos domésticos “Rua dos Cervejeiros, 17”. Ele – Rua dos Cervejeiros, 17? Ela – E outro dia escrevi-o novamente em um pedacinho de papel e deixei-o jogado ao acaso. Ele – A curiosidade dele foi despertada? Ela – Leu as palavras escritas e não fez comentários, mas outro dia, o vi estudando o endereço positivamente. Ele – Mas o que significa “Rua dos Cervejeiros, 17”. Ela – Absolutamente nada. Daquele dia em diante passou a ser um homem mudado. Ele – Que queres dizer com isso? Ela – Tudo quanto eu dizia ou fazia o interessava fundamente. Quando saia ele queria saber aonde eu ia, quando voltava ele queria saber onde havia estado. E eu fingia achar o seu interesse perfeitamente natural. Fazia-me muito feliz o compreender que mais uma vez os seus pensamentos estavam voltados para mim. Passou a se barbear com mais regularidade, vinha cedo do escritório para casa, prestava atenção e elogiava meus vestidos. Ele – Tudo isso é muito divertido, mas acho que deverias escolher uma rua mais eloqüente, para o teu amante imaginário. Ela – Foi a primeira que me veio à mente. Alem disso… Havia outra conveniência. Ele – Qual era? Ela – Tu moravas na Rua Elizabeth, naquele tempo. (baseado em Ferenc Molnár).


Caio Cesar Gomes é Psicólogo