Foi identificado o primeiro gene causador da enxaqueca. Trata-se de um estudo publicado quarta-feira (01/05) no periódico americano Science Translational Medicine, que mostra, pela primeira vez, a identificação de um gene causador da enxaqueca. A descoberta é de uma equipe de pesquisadores ligada à Universidade da Califórnia, em São Francisco, e poderá abrir caminho para uma compreensão melhor da doença, de causas ainda desconhecidas. O cientista Louis Ptacek, um dos autores do estudo, diz que a descoberta é a primeira luz sobre uma doença que não compreendemos muito bem. O gene em que a mutação foi encontrada, chamado de CKIdelta, certamente não é o único envolvido na enxaqueca. Possivelmente, existem vários outros genes, em diferentes combinações e em diferentes pessoas. Este é apenas o primeiro que encontramos, afirma Ptacek.

Em um primeiro momento, os cientistas fizeram um estudo genético em duas famílias nas quais a ocorrência de enxaqueca era comum. Descobriu-se, então, que uma proporção significativa das pessoas que tinham as dores de cabeça era portadora da mutação no gene, ou tinha pais que carregavam a mutação. Em laboratório, eles conseguiram demonstrar que essa mutação afeta a produção de uma enzima que tem inúmeras funções vitais no cérebro e no corpo. Isso demonstra que a mutação tem consequências bioquímicas reais.

De acordo com o neurologista brasileiro Abouch Krymchantowski, um dos principais especialistas em dor de cabeça e enxaqueca do país, a descoberta é interessante, mas ainda não terá implicações nos tratamentos atuais. Já sabíamos de alguns cromossomos associados a tipos mais raros de enxaqueca e, agora, já se evidenciam genes associados a tipos mais comuns. Podemos ver aí uma luz no fim do túnel para quando a engenharia genética for capaz de mudar o genótipo de uma pessoa. Com o desenvolvimento dessas pesquisas, vamos poder pensar em tratamentos cada vez mais eficientes, explica o especialista.

A enxaqueca é uma doença crônica que afeta 30 milhões de brasileiros e responde por 35% das consultas neurológicas do país, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC). O que acha de falar sobre o novo estudo e o que vem sendo aplicado de mais moderno no tratamento das crises de dor? O especialista está à disposição para dar mais informações.