Para se fazer um espetáculo teatral é necessário um cenário, figurinos, atores. Não mais. Para criar suas peças, o catalão Roger Bernat prescinde de tudo isso. Seu único pré-requisito? A existência de uma plateia.

Nas montagens Em Votação e Domínio Público – que serão apresentadas esta semana no festival Cena Contemporânea de Brasília -, o diretor transforma os espectadores nos únicos intérpretes de seus espetáculos. “O que ocorre nas minhas peças é que não há espectadores no sentido tradicional, porque eles assumem o papel dos atores. Essa é uma velha aspiração do teatro do século 20, desde (Bertolt) Brecht até (Augusto) Boal”, explica Bernat. “A única coisa que faço é aproveitar as ferramentas que a tecnologia nos deu nas últimas décadas para multiplicar essa aspiração e, assim, permitir ao público exercer seu desejo mais secreto: ser protagonista da ação.”

Ao utilizar aparelhos tecnológicos relativamente simples, o encenador propõe jogos nos quais o público se engaja intensamente. Tudo, porém, acontece de maneira distinta daquela que costumamos ver no teatro contemporâneo. “Os espetáculos partem de dispositivos que são colocados nas mãos do público. Nada acontece se o espectador não decide a cruzar essa fronteira. Nesse caminho, ele terá que enfrentar a sua própria vontade, encontrar as coordenadas que o orientem e, finalmente, construir a sua própria obra.”

O que se constrói, grosso modo, é uma narrativa de contornos sociológicos e, principalmente, políticos. Sem que a participação de quem assiste implique, nunca, em um convite para que se venha a revelar sua intimidade como indivíduo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.